Capítulo Seis

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— É minha prima, tio — exclamou Albertini. Deu para ver sua silhueta se interpondo entre o inspetor e a porta. — Ela tá conversando com o diretor.

— O Valmir já chegou? — estranhou o homem.

— Já... ele tinha pedido pra minha mãe vir nessa hora falar com ele.

O homem não falou nada.

O silêncio sepulcral que veio de fora foi o mesmo que se instaurou lá dentro com Ariadne e eu.

Vai dar merda, tive certeza. O cara quer pegar a porra desse caderno. É só entrar, pegar o bagulho e sair fora... não iria atrapalhar se realmente tivesse gente conversando aqui.

Me agachei e tentei me ocultar por detrás da mesa.

Com um metro e oitenta de altura, eu me esconderia bem ali como um elefante atrás de um poste. Mas, era o que eu tinha em mãos. Fiz sinal para que Ariadne também tentasse se esconder e assim, ela o fez.

Meu coração batia tão forte que eu senti que lá do lado de fora eles poderiam ouvir e que, a qualquer momento, o inspetor perguntaria a Albertini se ele estava ouvindo também.

Fechei meus olhos, listando todas as hipóteses que ocorreriam a seguir. Em todas, eu me fodia.

Ouvi um suspiro do cara.

Um único suspiro... e ele disse em seguida:

— Tá bom, então. Quando eles terminarem aí, pega o caderno com o Valmir e me leva lá em cima.

— Tá tio, eu levo sim.

Dito isso, vi a silhueta do inspetor sumir no limiar da janela.

Cara, me senti aliviado como se eu tivesse passado o dia inteiro apertado e só então dei aquela boa e fluída mijada.

Com uma das mãos segurando a mesa, eu suspirei longamente, acocorado e com os olhos fixos no chão.

— Levanta daí! — sibilou Ariadne me puxando para cima.

Levantei e fui com ela em direção a porta, mas antes de sair, falei:

— Peraí... tem mais um bagulho pra fazer.

— O que?

Fora o computador que estava em cima da mesa do diretor, tinha outro, como eu suspeitava, na outra mesa do outro lado da sala. Esse, em contrapartida, estava ligado e exibindo imagens das câmeras de segurança.

— As câmeras... — entoou Ariadne vindo comigo.

— Sabia que essa porra tava aqui — eu falei, rindo. — Na minha escola também fica na direção.

— E o que você vai fazer?

Me abaixei, tirei do bolso a faca que peguei na cozinha e comecei a desrosquear partes do gabinete do computador. Quando enfim consegui tirar o lado esquerdo, disse para Ariadne:

— Puxa da tomada aí.

Ela puxou, desligando o computador subitamente.

— Pega aquela sacola ali em cima da mesa — indiquei com a mão. — Tem outra ali em cima do armário. Pega também. Ah, e umas folhas também. Qualquer uma. Traz bastante.

Ela trouxe.

Envolvi minhas mãos nas folhas de papel e depois nas duas sacolas. Bruscamente, arranquei o disco rígido da placa-mãe e, só para garantir, tirei fora os pentes de memória e risquei toda a placa que restou com a faca.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora