Capítulo Doze

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Acho que eu poderia dizer que foi como se o mundo tivesse parado para que nós pudéssemos observar melhor um ao outro.

Que besteira... creio que isso soe romântico e poético demais para o que realmente aconteceu. Foi só... estranho e mais longo do que deveria. Senti como se ambos fôssemos grandes planetas de massas iguais, atraídos pela forte gravidade um do outro.

O certo seria eu evitar seu olhar e tentar me evadir para dentro da multidão, mas ao invés disso, o olhei em pé de igualdade. Eu não tinha porquê temê-lo. Pelo menos, não ali e com aquelas circunstâncias.

Filho-da-puta... Pedro estava de frente com a entrada do prédio. Teríamos de passar por ele para poder entrar, e pelo modo como ele agia, não parecia disposto a sair tão cedo.

— O que foi? — indagou Ariadne, curiosa, tentando seguir meu campo de visão. Quando ela finalmente notou, disse: — o policial? Dá nada, a gente só vai entrar na galeria como qualquer outra pessoa.

— Conheço ele — expliquei, sem desviar o olhar.

— Peraí, mas ele sabe o que você faz? — me perguntou Roberto se aproximando com a expressão tensa.

Na verdade, é graças a ele que estou aqui fazendo isso, pensei. Mas, eles não tinham porquê saber daquilo. Entretanto, eu teria de cruzar com ele e, decerto, que Pedro desconfiaria da minha visita por ali.

— Não — menti. — Mas é melhor eu trocar uma ideia com ele antes. Vocês vão indo na frente e me esperam lá dentro.

Calmamente, atravessamos a rua e findamos por nos dispersar entre a multidão, mas mantendo proximidade o suficiente para não sumirmos do campo de vista um do outro.

Ariadne e Roberto entraram na galeria rapidamente com Albertini logo atrás, enquanto eu segui mais devagar, olhando para Pedro com um sorriso no rosto. Ele também o fez, embora que sua expressão era fria feito gelo. Pouco me toquei por aquilo.

— Gustavo... — ele cumprimentou assim que fiquei a três metros, mais ou menos.

— E ae, Pedro. Quem diria, hein? Te ver por aqui — com um sorriso de orelha a orelha, estendi minha mão e apertei a dele. O toque durou poucos segundos... mais por resistência da parte dele.

— Tô trabalhando — ele explanou, seco. Parecia bem incomodado em falar comigo. Aquilo apenas me animou mais.

— Tô vendo.

E quem não veria?

Fardado da cabeça aos pés, ele era a mais perfeita personificação do policial militar da capital. Eu só esperava que essa personificação fosse a que o cidadão comum tem na cabeça e não sob a ótica da periferia.

— E você? Veio comprar roupa pro final do ano? — ele perguntou.

Olhei em volta e o respondi:

— Espero que o trampo esteja pagando bem o suficiente pra não ter que comprar minhas coisas aqui.

— Tá se desfazendo do povão, é? — ele brincou, pela primeira vez sorrindo.

— Que é isso... já comprei muito por aqui, mas, tá ligado né... você que tá trampando por aqui já tem uma noção da qualidade dos produtos.

— E quem é esse pessoal que tá com você e entrou aqui direto pra tentar despistar? — ele perguntou com a calma de um lago desprovido de vento.

É claro que ele perceberia, refleti com um sorriso travesso nos lábios.

— Uns amigos aí — respondi, dando de ombros.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora