Capítulo Quatorze

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Cláudio quase caiu da cadeira quando invadi sua sala, escancarando a porta com ambas as mãos.

— Qual foi a merda que a gente combinou?! — esbravejei, apontando o dedo na cara dele, com meus passos pesados me levando até o filho-da-puta.

— O que foi? — ele quis saber, confuso.

— O que foi, o caralho! — exclamei batendo com as mãos sobre sua mesa. Ele se retraiu, atônito, porém não saiu do lugar. Me aproximei mais do rosto dele, fitei seus olhos de modo a não deixar escapar qualquer desvio que denunciasse culpa e dei continuidade: — qual foi a porra que a gente acertou nessa merda?! Fala, caralho!

Ele estreitou os olhos.

— Você não falou que não ia me esconder nada dos serviços?! — indaguei. — Não falou, caralho?!

— O que foi que eu escondi...?

— Não vem dar uma de louco pra cima de mim agora não, maluco! — bradei, espalhando os papéis em cima da mesa com um tapa. — Aquela porra passou na tv ontem! Só por Deus que não foi eu ali entrando no camburão. Você na maior cara de pau, falando que não ia ter problema nenhum, mandando nóis três lá pra servir de isca, rapaz. Toma vergonha na sua cara. Posso ser novo nessa porra, mas ninguém aqui é moleque não. Não tô fazendo a porra do serviço como combinado? Cadê, então, sua palavra de homem pra cumprir sua parte, filho-da-puta?

Ele apenas me olhou, suspirou, esfregou a cara e deixou-se recostar na poltrona fracamente.

— Eu não... caramba, Gustavo. Nem sei como olhar na sua cara...

— Não, que você é um cagão do caralho, eu já tô ligado — falei, rindo, mais de nervoso do que por achar graça na situação. — Só que o bagulho é o seguinte, parceiro... não vem querer dar uma de Mauricio aqui, que não vai rolar. A fita que eu acertei com você é pau-a-pau.

Se não der certo na prefeitura, Cláudio deve investir na carreira de ator porque, puta que pariu, o maluco tem o dom, pensei ao vê-lo abaixar a cabeça e entalhar os contornos do rosto em uma expressão bastante infeliz. Ele tirou um maço de cigarro do bolso de tom alaranjado; que eu nunca tinha visto antes. Ao passo que retirava um cigarro para fumá-lo, me disse com a voz apática:

— Gustavo, eu não sabia...

— Ah, vai se foder, maluco! — exclamei, tomando o maço inteiro e o isqueiro que ele tinha em mãos, me afastei. — Me dá essa porra aqui!

Em dois tempos, levei o cigarro entre meus lábios e o acendi. A primeira baforada que, ao contrário do que devia, acabou piorando meu humor.

— Que merda ruim do caralho é essa?! — praguejei, olhando o maço. O bagulho nem do Brasil era. Letras orientais estavam estampadas na caixa. Balancei a cabeça com brusquidão, amassei a caixinha, joguei-a no chão e pisei para findar de estragar os cigarros de vez.

— É importado... — ele explanou, a voz oca.

— Caralho! E você ainda se deu o trabalho de importar essa bosta? — debochei, balançando a cabeça. — Tá cagando dinheiro agora, filho-da-puta, pra gastar desse jeito?

— O cigarro tem qualidade...

— Era justamente sobre isso que eu queria falar mesmo — o interpelei novamente, apontando o dedo naquela cara pálida. — A gente tinha acertado em dois e quinhentos o trampo. Vai me pagar cinco mil agora.

Ele me olhou espantado.

— E num vem com essa cara de cu pra mim não. Vai pagar cinco conto nessa porra. Quero nem saber — retorqui, arrodeando a sala de lá para cá. — Se eu tivesse ido preso naquela merda, já os cinco não ia me servir de porra nenhuma. Tá gastando aí com cigarro importado e os caralho a quatro, com o rabo pra cima, enquanto eu tô na rua me fodendo pra colocar dinheiro no seu bolso. O certo é certo, parceiro.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora