Sua sala que outrora fora de Mauricio, havia sido para mim, o mais puro exemplo de organização.
Até aquele dia.
Caixas e mais caixas empilhadas sobre o chão, a mesa e até mesmo sobre as cadeiras.
Cláudio tinha um ar frenético exalando de seu rosto, conforme respingos de suor lhe escorriam da testa. Ao contrário do que fora o antigo subprefeito da região, Cláudio já não estava muito em forma. Com o calor dos diabos que começou a fazer umas poucas horas antes, seu rosto estava vermelho feito um pimentão e a gordura em excesso muito pouco faziam para lhe diminuir o cansaço.
— Você vai levar tudo isso embora? — estranhou Ariadne que quase tropeçou numa das caixas.
— Com certeza — afirmou ele, enfiando umas pastas pretas enormes dentro de outra caixa que estava em cima de uma cadeira, encostada ao lado da porta.
Parando no meio da sala, ele ficou olhando para os lados, sem saber pra onde ir. Quando cruzou um olhar comigo, pareceu se lembrar do que fazer.
— Ah, cadê o cartão? — me perguntou.
— O que você nos deu?
— É. Eu esqueci de pegar com vocês...
— Ih, mano. Deixei em casa — expliquei, coçando a cabeça. — Você não falou nada... acabei nem lembrando.
— Você trouxe o seu Ariadne?
— Também não — respondeu ela, emulando confusão.
Antes de irmos à subprefeitura, eu a prevenira de que Cláudio poderia pedir o cartão — bom, foi só um jeito de falar mesmo, já que eu tinha plena certeza de que ele iria fazê-lo. — Como uma boa economizadora, Ariadne não dava um passo pra fora de casa sem a porcaria do cartão, isso pra comprar qualquer bobagem que lhe chamasse atenção durante o caminho. Mas, bastou que eu sugerisse que ela o deixasse em casa, pra que ela não pensasse duas vezes antes.
Acho que devo agradecer a Deus por Ariadne captar as coisas rápido, pensei vagamente.
— Quer que a gente vá pegar? — perguntei, já me virando em direção a porta.
— Não, não — respondeu ele rapidamente. — Eu vou levar essas coisas aqui e já aproveito e levo vocês.
— É melhor mesmo — concordou Ariadne. — De ônibus, a gente iria demorar um tempão.
— Você quer ajuda pra levar isso pro seu carro? — questionei.
— Opa, se não for pedir muito — ele deu uma risadinha sem graça.
Aquilo me trouxe um arrepio.
Eu tinha por mim que não encontraria alguém tão dotado para a dissimulação como Mauricio, em toda a minha vida... mas me enganei.
Nem em um milhão de anos, eu acreditaria que aquele homem estava se fazendo usar de artimanhas tão ardilosas para conseguir seja lá o que for, caso aquelas peças não fossem praticamente atiradas à minha cara.
— Só me ajuda a terminar de guardar o resto, que a gente já vai descendo — prosseguiu ele, correndo até uma caixa que ainda estava meio vazia.
— E você vai pra onde, Cláudio? — quis saber Ariadne, fechando uma delas com durex.
— Sumir, minha filha — exprimiu ele. — E se eu fosse vocês, faria o mesmo, também.
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Linhas Estreitas (3ª Temporada)
Mystère / ThrillerFinalmente Gustavo pode se ver livre do tormento que os serviços na prefeitura lhe trouxeram. Especialmente agora que o principal empecilho que o impedia de largar essa vida já não existe mais... pelo menos, é o que ele acredita. Apresentado a uma...