Assim que me viu o espionando, ele disparou.
Voltei com tudo e apenas ouvi o ricochetear violento da bala contra a caçamba. Mais alguns segundos e eu poderia ter sido atingido.
Ele tem uma boa mira, ponderei, arquejando de tensão.
Encostando minha cabeça no metal da caçamba, perguntei a ele em voz alta:
— O Cláudio te mandou me matar?
Ele não respondeu.
Ouvi-o bombeando o revólver, naquele típico som clack-clack. Confesso que me surpreendi. Eu não tinha reparado que ele estava com uma Glock 22. Essas não são armas usadas em confronto, mas sim indicadas para tiro único; como em situações com reféns. Ele esperava me abater de uma só vez; com um único disparo, compreendi. Engoli em seco.
Merda... e eu com uma faca, que porra dá pra fazer?
A única vantagem que eu tinha era que a fonte de luz mais próxima era a do poste atrás dele. Sua sombra se projetava para a frente e a minha sombra, no caso, era engolida pela sombra da caçamba. Desse modo, apenas eu poderia me adiantar aos seus movimentos. Porém, contra a velocidade de um disparo, não era lá uma vantagem que me garantisse vitória.
Mas, é isso o que eu tenho.
Fechei meus olhos por dois segundos e fiz uma prece rápida.
— Não quero que me leve a mal, Gustavo — ele falou, fazendo-me abrir os olhos de súbito. — Por mais que você não acredite, eu gosto de você. Apesar de todas as cagadas pra alguém da sua idade, você não é um moleque ruim. Só que... não é pessoal.
Eu quase não respirava.
Ao invés de prestar atenção no que ele falava, me ative ao seu tom de voz. O modo como se propagava. Assim, eu poderia ter uma ideia de como ele estava se movendo. Até então, parecia estar parado.
— Quando foi que o Cláudio te mandou fazer isso? Faz pouco tempo? — perguntei. Era vantajoso para mim que aquilo demorasse... talvez, até que aparecesse alguma outra pessoa na rua e assim o distraísse para que eu pudesse dar no pé.
— Assim que eu terminar com você, vou atrás da Ariadne — confessou Roberto. — Na verdade, eu pretendia ir até ela primeiro, mas como ela se enfiou dentro de casa e não saiu mais, tive de aproveitar essa sua saída. Ah, isso me faz lembrar de te perguntar... quem era aquele cara que você entregou o pacote? E o que tinha nele? Deve ser valioso, pelo tanto de dinheiro que ele te deu. Tá mexendo com droga?
Inspirei e expirei, tentando manter o controle. Não estava fácil.
Roberto riu, de um modo que eu nunca tinha visto. Exceto pela voz e a aparência, eu jamais o teria tomado pelo cara que conheci.
Pois é, Gustavo cuzão do caralho, vivendo e aprendendo.
— Eu bem que disse que era melhor começar a te seguir antes — ele continuou. — Mesmo você transparecendo aquela imagem de noinha de quebrada, eu meio que senti que você era um pouco mais ligeiro do que a média. Não tão ligeiro assim, né? Convenhamos... eu fiz esses três trampos com você e pude ver bem a sua inteligência. Não te falta miolos na cabeça, mas a verdade é que você é inconsequente demais.
Ele também tá querendo me distrair com conversa, refleti. Se bem que faz muito sentido vindo da parte dele... ele sabe que eu vou querer ouvir o que ele tem a dizer...
Mal sabia ele que aquele já era um jogo de duas pessoas.
Mesmo assim, a decepção...
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Linhas Estreitas (3ª Temporada)
Misterio / SuspensoFinalmente Gustavo pode se ver livre do tormento que os serviços na prefeitura lhe trouxeram. Especialmente agora que o principal empecilho que o impedia de largar essa vida já não existe mais... pelo menos, é o que ele acredita. Apresentado a uma...