Capítulo Vinte e Oito

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Assim que me viu o espionando, ele disparou.

Voltei com tudo e apenas ouvi o ricochetear violento da bala contra a caçamba. Mais alguns segundos e eu poderia ter sido atingido.

Ele tem uma boa mira, ponderei, arquejando de tensão.

Encostando minha cabeça no metal da caçamba, perguntei a ele em voz alta:

— O Cláudio te mandou me matar?

Ele não respondeu.

Ouvi-o bombeando o revólver, naquele típico som clack-clack. Confesso que me surpreendi. Eu não tinha reparado que ele estava com uma Glock 22. Essas não são armas usadas em confronto, mas sim indicadas para tiro único; como em situações com reféns. Ele esperava me abater de uma só vez; com um único disparo, compreendi. Engoli em seco.

Merda... e eu com uma faca, que porra dá pra fazer?

A única vantagem que eu tinha era que a fonte de luz mais próxima era a do poste atrás dele. Sua sombra se projetava para a frente e a minha sombra, no caso, era engolida pela sombra da caçamba. Desse modo, apenas eu poderia me adiantar aos seus movimentos. Porém, contra a velocidade de um disparo, não era lá uma vantagem que me garantisse vitória.

Mas, é isso o que eu tenho.

Fechei meus olhos por dois segundos e fiz uma prece rápida.

— Não quero que me leve a mal, Gustavo — ele falou, fazendo-me abrir os olhos de súbito. — Por mais que você não acredite, eu gosto de você. Apesar de todas as cagadas pra alguém da sua idade, você não é um moleque ruim. Só que... não é pessoal.

Eu quase não respirava.

Ao invés de prestar atenção no que ele falava, me ative ao seu tom de voz. O modo como se propagava. Assim, eu poderia ter uma ideia de como ele estava se movendo. Até então, parecia estar parado.

— Quando foi que o Cláudio te mandou fazer isso? Faz pouco tempo? — perguntei. Era vantajoso para mim que aquilo demorasse... talvez, até que aparecesse alguma outra pessoa na rua e assim o distraísse para que eu pudesse dar no pé.

— Assim que eu terminar com você, vou atrás da Ariadne — confessou Roberto. — Na verdade, eu pretendia ir até ela primeiro, mas como ela se enfiou dentro de casa e não saiu mais, tive de aproveitar essa sua saída. Ah, isso me faz lembrar de te perguntar... quem era aquele cara que você entregou o pacote? E o que tinha nele? Deve ser valioso, pelo tanto de dinheiro que ele te deu. Tá mexendo com droga?

Inspirei e expirei, tentando manter o controle. Não estava fácil.

Roberto riu, de um modo que eu nunca tinha visto. Exceto pela voz e a aparência, eu jamais o teria tomado pelo cara que conheci.

Pois é, Gustavo cuzão do caralho, vivendo e aprendendo.

— Eu bem que disse que era melhor começar a te seguir antes — ele continuou. — Mesmo você transparecendo aquela imagem de noinha de quebrada, eu meio que senti que você era um pouco mais ligeiro do que a média. Não tão ligeiro assim, né? Convenhamos... eu fiz esses três trampos com você e pude ver bem a sua inteligência. Não te falta miolos na cabeça, mas a verdade é que você é inconsequente demais.

Ele também tá querendo me distrair com conversa, refleti. Se bem que faz muito sentido vindo da parte dele... ele sabe que eu vou querer ouvir o que ele tem a dizer...

Mal sabia ele que aquele era um jogo de duas pessoas.

Mesmo assim, a decepção...

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora