Capítulo Dezenove

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Ficamos no canteiro central da avenida ao lado de um senhor que vendia balas e mais algumas besteiras por sob uma tenda azul observando o movimento na entrada do prédio antes de decidirmos entrar.

— A primeira parte vai ser fácil — comentou Ariadne. — O problema é depois...

— Você já veio aqui? — me perguntou Roberto que mascava o chiclete comprado com o senhor.

— Só de passagem — confessei, apertando os olhos contra o brilho do sol. — Nunca reparei muito.

A garagem ficava do outro lado da cidade, o que fez com que apenas eu tivesse um certo conhecimento sobre ela e mesmo esse se provou raso quando passamos a bolar um plano no caminho.

— Acho que é tanto a entrada como a saída, né? — disse Roberto se sentando no pequeno muro branco do canteiro.

A fachada da garagem me lembrava muito a fachada de um dos prédios da polícia federal, o que me soou como um mal presságio. À esquerda, a maior parte da fachada era revestida com pastilhas azuis que destacavam a logo prateada da empresa, logo abaixo das vidraças esfumaçadas. Já no nível da avenida, em frente, havia uma garagem para carros de passeio cercada por uma grade branca. Já à direita, era a entrada para os ônibus. Com uma guarita ao centro e dois portões em tom de chumbo ladeando-a, realmente parecia ser tanto a entrada quanto a saída como Roberto sugerira. Mas não me deixei enganar.

— A garagem ocupa o quarteirão inteiro — observei. — Certeza que tem algum outro portão atrás ou dos lados.

— A gente só vai saber se ir lá conferir — entoou Ariadne atravessando a avenida.

Era uma avenida relativamente larga, com três faixas em cada mão, mas não era movimentada. Não era pra menos. Da sua ponta até a marginal, a via era cercada pela garagem e por outras empresas, o que reduzia o movimento a alguns caminhões que entravam nos prédios de logística e aos ônibus que iam para a garagem. E das três faixas, a que ficava colada ao canteiro central servia como estacionamento para diversos carros.

Acompanhando Ariadne, seguimos pela rua que corria em paralelo com a garagem. Deserta e sem nenhum outro prédio por todo o seu contorno, foi uma caminhada tranquila, mas longa. Por fim, descobrimos um outro portão como eu havia suspeitado na ponta da rua. Entretanto, de pouco nos servia, já que havia uma outra guarita nela.

Tivemos de rodear o prédio inteiro, de volta à entrada. Constatamos que, onde não havia guarita, os muros que cercavam o prédio eram encimados por pequenas cercas elétricas. Exceto por um deles... que, graças a Deus, era o muro mais baixo.

Estava feito.

Voltamos a entrada e seguimos até o portão destinado aos pedestres.

— Posso ajudar? — perguntou o sujeito que fazia a entrada.

— A gente veio trazer um documento — estendi a pasta que Cláudio havia me dado.

O cara nos olhou, desconfiado.

— E precisa de três pra isso? — indagou.

— Um interfone serviria perfeitamente bem no seu lugar — retorquiu Ariadne que batia o pé no chão. — E qualquer uma daquelas moças que ficam lá em cima na administração poderiam olhar num visor e apertar o botão pro portão abrir, mas assim como a gente, você adoraria poder manter o seu emprego, não é colega?

Foi incrível como aquilo o calou e abriu caminho para entrarmos.

— Você é louca — exclamou Roberto lá dentro. — Você vai acabar nos matando qualquer dia desses.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora