Capítulo Vinte e Sete

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"Todas as crianças com sapatos caros

É melhor correrem mais rápido que a minha arma"

Foster the People – Pumped Up Kicks


A porta estava fechada.

Nem me importei se estava apenas encostada ou trancada mesmo. Escancarei-a com um chute que restrugira por dentro de toda a casa.

— Você de novo?! — a voz enjoada e irritada da quenga veio lá da sala. Mesmo sem ter me visto, pareceu que a maldita sabia que era eu.

Que surpresa, pensei beirando a loucura, e eu tinha por mim que todo cara já chegava entrando com tudo nessa vagabunda... por que, então, ela ainda fica irritada?

Ariadne também entrou, pingando, olhando para os lados atordoada, procurando por algo que não encontrou.

Assim que a vaca chegou a cozinha e me viu com Albertini nos braços, sua raiva dera lugar a confusão.

— O que... que aconteceu? — sua voz já não estava tão irritada.

Minhas lágrimas até podiam não se destacar no meu rosto molhado, mas decerto que os olhos vermelhos e minha expressão de ira eram mais do que suficiente.

Ela ficou olhando de mim para o filho, sem saber o que falar.

Quando enfim compreendeu, começou a respirar mais forte, ao ponto de resfolegar... e, então, perdera os sentidos, estatelando-se ao chão num som gasturento.

Passei por cima dela e fui até a sala, deitando Albertini sobre o sofá.

Fiquei ali ajoelhado ao seu lado, observando-o...

Ariadne abaixou-se ao meu lado e passou uma mão suave por minhas costas.

— Gustavo, calma...

— Foi um dos filhos-da-puta, Ariadne — disse a ela, a voz descompassada. — Aquele arrombado do Paraíba ou a desgraça do filho dele.

Ariadne secou mais umas poucas lágrimas que lhe escorriam, os olhos tão ou mais vermelhos que os meus.

— Ele tá morto, Ariadne... — lamentei, sem já poder me controlar. Comecei a chorar ao mesmo tempo em que sentia meu corpo tremer. — Não é justo. Não é certo... ele é só uma criança.

Afundei meu rosto nas minhas mãos e gritei, conforme eu apertava minha cara. Era como se a dor estivesse me envenenando a um ponto que, apenas arrancar minha pele poderia fazê-la ir embora.

Tentei falar mais alguma merda... mais alguma merda, pois era apenas o que eu fazia naquela vida desgraçada; as coisas ruins me cercavam, mas parecia apenas recair sobre quem não tinha caralho algum a ver comigo. E o Albertini... ele estava tão frio e... tão pequeno ali sobre aquele sofá nojento. Já nem parecia mais meu garoto... solucei, solucei e solucei, conforme aquela coisa maldita me impregnava por dentro e eu só queria dar um jeito de trazê-lo de volta. Pois, ele merecia... mais do que eu, mais do que qualquer filho-da-puta que eu havia conhecido.

— Calma, Gustavo — pediu Ariadne outra vez, agora me abraçando. Havia algo de urgente em seu tom de voz. — Você vai acabar passando mal desse jeito.

Por mim, que eu fosse PROS QUINTOS DOS INFERNOS! Quis berrar em resposta, mas não era para ela que eu desejava derramar minha ira.

Vacilando, me levantei e dei uma boa olhada em volta.

Linhas Estreitas (3ª Temporada)Onde histórias criam vida. Descubra agora