CAPÍTULO XIX

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Sebastiã Montanari

Estávamos dentro do “carro da Elisabeth”. Como tínhamos vindo de táxi, ela fez questão de alugar um só para espionar o namorado do lado de fora do estabelecimento de trabalho do Gabriel. Eram oito e doze da noite.

— Ainda acho isso loucura.

Comentei, olhando pela janela.

— Desde quando você tem senso crítico?

— O que quer dizer com isso?

Olhei pra ela.

— Que você geralmente não pensa sobre o que é certo ou errado, apenas age.

— Eu só não gostei dessa sua ideia. Acha que agrada algum homem ser vigiado do lado de fora do seu emprego?

— Se o Gabriel não tiver nada a esconder, ele não tem que achar ruim.

— Você está se precipitando...

— É, eu posso estar errada em relação a isso. Nunca vou me perdoar se realmente estiver, até porque somos um casal, certo? Devíamos confiar um no outro.

— Ainda da tempo de deixarmos isso pra lá, darmos meia volta e sairmos daqui. Você nunca pode basear as coisas em intuições ou suposições, nunca.

— Olha ele lá!

Apontou para o Gabriel, que saía do trabalho e subia encima da própria moto.

— Como ele disse, estava cumprindo hora extra. Vamos embora!?

— Eu vou segui-lo.

Ligou o carro e deu partida.

Mulher é fogo...

20 minutos depois e estávamos parados em frente a um restaurante. O tal do Gabriel desceu da moto e arrumou os cabelos no retrovisor.

— Parece que ele vai se encontrar com alguém.

— Desgraçado! Eu sabia! É a Erin, eu tenho certeza. Quem é a vadia agora, oh sua fura olho?

Fechou os punhos.

— Relaxa, tá? Pode ser... um AMIGO.

— Relaxar? O meu namorado está me traindo com minha melhor amiga por debaixo do meu nariz enquanto eu estou pra fora, estudando.

Começou a falar alto.

— Eu vou lá tirar essa história a limpo.

Destranquei a porta.

— Não, eu vou.

Enfatizou “eu”, já decidida.

— Você tá nervosa, vai acabar fazendo escândalo e estragando tudo.

— Eles merecem por me apunhalar pelas costas desse jeito.

— É sério, fica aqui que eu já volto.

Já estava pronto pra sair do veículo, quando Elisabeth me segurou pelo braço, impedindo-me.

— Acho que não vai mais precisar.

Flagramos a Erin entrando no restaurante e através do vidro, conseguimos ver ela se sentando na mesma mesa que o Gabriel e o cumprimentando com um beijo nos lábios. Eles conversavam animadamente, não cortavam por nada o contato visual e um não soltava da mão do outro, tudo de um jeito muito romântico.

— Elisabeth...

A encarei. Eu mesmo fiquei com pena dela. Nenhuma mulher deveria passar por uma coisa daquelas.

— Ele nunca pegou na minha mão desse jeito...

Deixou uma lágrima cair.

— O Gabriel é um idiota e essa Erin é uma piranha. Você não precisa deles.

—Você... você vai passar em algum lugar antes de irmos nos encontrar com a minha família?

Mudou de assunto e enxugou as lágrimas, tentando disfarçar sua mágoa.

— Elisabeth, você tá legal?

— Claro!

Botou um sorriso falso no rosto e ligou o carro, nos tirando dali.

***

Durante toda a viagem eu e a Elisabeth ficamos em silêncio. Agora eu sei como ela se sentiu quando eu nem a olhei na cara no vôo pra cá. Minha vontade era de arrancar sua dor e simplesmente jogá-la fora. Eu queria que ela desse um de seus belos sorrisos e parasse de fingir que estava tudo bem. Conversasse comigo para desabafar, se sentir melhor e não chorasse por causa daquele garoto ridículo.

Eu já estava prevendo que aquele jantar em família seria um desastre. Uma hora ou outra a Elisabeth iria se lembrar do Gabriel, começaria a chorar e finalmente contaria tudo o que aconteceu. E o que era pra ser algo animador, ficaria pior que um enterro.

Ainda não tínhamos saído do estacionamento quando chegamos a lanchonete. Eu me virei para encarar a Elisabeth e vi que ela respirava fundo, como se estivesse se preparando.

— Você não tem que fazer isso. Não precisa demonstrar força quando a coisa que você mais quer é desabar em lágrimas. Se quiser podemos ir pra casa e depois você inventa uma desc...

Ela mal me deixou terminar de falar antes de tirar o cinto e sair do carro. Entramos e todos já esperavam por nós.

— Oi, gente.

Beth cumprimentou à todos assim nos juntamos a mesa com eles.

— Ué querida, o Gabriel e a Erin não vão vir?

— Acho que não. O Gabriel está fazendo hora extra no trabalho e a Erin tá cuidando da mãe.

A encarei. Ela parecia tão convincente. Eu acreditaria fácil... se já não soubesse de toda a verdade.

— Ah, que pena!

— É, realmente é uma pena. Vocês... já pediram?

— Sim. O número 12 aí do cardápio.

Thomas me respondeu.

— Quero alguma coisa pra beber.

— Já pedimos refrigerante.

Paloma retrucou.

— Não, quero algo forte.

— Alguém tá querendo encher a cara.

Nina deu uma risadinha.

— Bebidas alcoólicas vem separado.

Griselda olhou no cardápio.

— Sem problemas. Alguém vai querer me acompanhar?

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Tô triste pela minha bebê 😭

Gabriel seba ainda vai te dar uns murro

Espero

SEBASTIÃ-MÁFIA MONTANARI [Completo] [L1] 2018Onde histórias criam vida. Descubra agora