Trinta e Dois

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O clima no Ginásio Poliesportivo Ronaldo Cunha Lima, o Ronaldão, era de pura efusividade. Atletas e suas torcidas espalhados pela arquibancada gritavam animados, havíamos acabado de perfilar na quadra, fizemos o juramento do atleta, Débora foi chamada pra fazê-lo, cantamos o hino nacional, e agora estávamos distribuídos pelas arquibancadas aguardando as primeiras categorias serem chamadas pra a área de competição.

Eu estava sentada nas arquibancadas numa parte mais alta e reservada de lá podia ver bem a área de competições e observar quase todo ginásio, de lá observava Débora que conversava com alguns atletas perto da grade que separava a área de competição das arquibancadas.

Quando uma garota se aproximou, a animação da Débora ao ver a garota e a forma que ela a abraçou me causou raiva e um incômodo na boca do estômago, fechei os punhos e a cara tentando não olhar fixamente para as garotas que interagiam tao bem entre si, eu não tinha o direito de ir lá e quebrar a cara daquela vadia, mas eu também não podia controlar meus sentimentos. Elas se afastaram um pouco dos outros atletas e se sentaram nas arquibancadas a baixo de mim, a garota tocava na mão da Débora de uma forma descarada e pra terminar de foder a Débora ria amplamente pra garota, ia ser sempre assim, ela se enfiando no meio das pernas da primeira que aparecesse sempre que agente brigasse, mas porque eu me importava se eu mesma havia mandado ela esquecer tudo?

Porque você é apaixonada por ela!

Bufei quando a garota, que aliás era linda se curvou pra beijar a bochecha da Débora e "sem querer" beijou no canto de seus lábios.

-Eu não consigo entender vocês duas sabia?

Falou o Jean sentando a meu lado, eu estava tão absorta no casal á baixo que não percebi sua aproximação.

-Não há nada pra entender.

Disse virando para olhar pra ele.

-Ha quanto tempo nos conhecemos Thay?

-Sei lá, uns dez anos!

-Quase isso e nestes dez anos eu nunca vi você agir da forma que age com a Débora. -- Disse ele olhando para ela que agora estava sozinha olhando as categorias que já haviam começado. - A Jéssica me falou da briga de vocês ontem e eu achei a maior tolice, certo que ela não agiu certo ao não te contar da proposta, mas ela tinha os motivos dela e você também não tinha sido tão sincera não é?

Ele arqueou uma das sobrancelhas.

-Não é fácil Jean, parece que por mais que agente lute sempre tem algo nos puxando pra longe uma da outra.

-Você que tá dizendo que não é fácil, você acha que esse meu relacionamento com a Jessica é fácil? -- Me olhou rindo. - Nunca foi, mas eu a amo do jeito que ela é, adoro aquele jeito louquinho dela... Jean suspirou procurando a não namorada entre os atletas de kimono a encontrando perto do alambrado conversando com Paulinha.

-Vocês foram feitos um pro outro.

Comentei olhando pra minhas amigas.

-Vocês duas também, mas são infantis, vocês precisam ter paciência.

Fiquei calada diante da declaração do Jean.

-Pra quem está de fora parece ser mais fácil do que realmente é, e já ficou bem claro pra mim que eu e Débora não fomos feitas pra rolar.

Dizendo isso me  levantei indo pro lado de fora do ginásio tomar um ar, demoraria um pouco até nossa categoria ser chamada, provavelmente seriamos uma das ultimas naquele dia.

...

Débora

Ser segundo lugar nunca foi o objetivo de atleta nenhum, mas naquela tarde foi o nosso destino, não havia a mesma sintonia, nem sincronismo, não havia cumplicidade, mas ainda assim ficamos com a medalha de prata.

Por Trás Da Cortina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora