Por Trás Da Cortina (Romance Lésbico)

Trinta e Nove

Narrador

Desde que havia recebido o convite de Jéssica de ser a madrinha do seu casamento com Jean, Thay não tinha mais paz, todo santo dia, durante três longas semanas, Lisete encheu o saco para que aceitasse o convite da amiga.

Para Lisete era muito simples dizer um 'sim' e voltar ao Brasil para cuidar do casamento da sua amiga, mas para Thay era muito mais que isso, era ter de ficar frente a frente com tudo que estava relacionado aos dias que tanto tentou esquecer, era voltar a ficar frete a frente com Débora e ter que reviver todas as dores.

-Você não pode se prender a isso Thay, então você vai viver o resto da sua vida fugindo dessa garota e se escondendo?

Questionou Lisete.

Ela estava muito empenhada em fazer com que Thay aceitasse o convite da amiga e que finalmente resolvesse essas questões que havia deixado em aberto.

-Eu não estou me escondendo Lis, eu só não estou preparada pra está lá, em casa, fingir que sou uma garota hétero daqui é fácil, mas lá, as pessoas te enchem de perguntas e parecem que elas teêm faro pra mentiras!

-Que desculpa mais esfarrapada Thay. Assuma que não quer é ficar novamente frente a frente com loira.

Provocou a ruiva prendendo a língua entre os dentes, num riso traquino.

-Lis, não é desculpa, minha vida está perfeita e eu não quero estragar tudo voltando para o Brasil.

Tentou pela última vez convencer a amiga a desistir daquela ideia.

-Amiga, fingir que é o que não é, viver pulando de galho em galho, sem se apaixonar, sem esquentar nenhuma cama por causa de um trauma do passado não é felicidade!

-É claro que é! Retrucou Thay. - Eu tenho um emprego maravilhoso em uma das maiores academias do mundo, ganho um salário alto como personal trainee desses magnatas, não preciso me preocupar com sexo porque toda noite tem uma gata querendo se jogar em minha cama, meus pais não me enchem com o papo de que ser lésbica é uma vergonha, por que eles não sabem disso! Sim minha vida é perfeita Lis, eu não preciso de um amor pra ser completa, sou completa comigo, eu apenas me basto!

-Isso é lindo, se bastar... Então aceita o convite da tua amiga e mostra pra ela e pra todos de tu se basta!

E foi com esses argumentos que Lisete conseguiu convencer Thay a aceitar o convite de Jéssica, e pra dar aquela "força" se ofereceu pra ir junto.

...

Thay estava cansada, a viajem com escala em São Paulo e depois Brasília com um atraso de quatro horas, só não foi pior porque Lisete fazia questão de animar a amiga falando e falando, contando piadas que de tão ruim faziam Thay rir, mas ela ria por fora pois por dentro ela tremia. Voltar pra casa não consistia somente em reencontrar com Débora, tinha sua relação familiar que havia ficado abalada quando ela enfrentou o pai pra ficar com Débora, depois disso mal tinha falado com os pais e quando falava com eles o assunto parecia sempre meio plástico, ela fingia que a história com Débora não havia passado de uma ilusão dando razão as palavras do pai, mas ela nunca tinha namorados ou nenhum tipo de relacionamento, havia reservado tanto sua vida que só há pouco tempo havia revelado a Lisete sua condição homossexual é claro que isso só deu-se por causa da brincadeira da amiga.

A aeromoça anunciou que estavam prestes a realizar o pouso e elas começaram com o procedimento padrão, minutos depois elas já desembarcavam.

-Está nervosa?

Perguntou Lisete, falando sério pela primeira vez, notando a apreensão e nervosismo da amiga.

-Um pouco, faz tempo que não vejo meus pais, nem meu irmão e amigos e só agora eu consigo ter noção da saudade que eu estou sentindo deles.