Vinte e Três

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Quando eu abri meus olhos, 'meu olho', eu estava sozinha na cama, mas as meninas ainda dormiam. Fechei os olhos com força tendo de volta a minha mente as memórias da noite anterior.

A declaração dela havia mexido com todas as minhas estruturas, ela me amava era eu a garota de todas aquelas declarações, então tudo que ela dizia era pra mim, literalmente. Eu sentia algo muito forte por ela também, mas eu não sabia explicar... E como explicar também todo o desejo que eu havia sentido na noite anterior, confesso que se as meninas não estivesse no quarto eu não teria resistido...

Me levantei da cama, animada liguei o meu celular ao caixa de som, botei no último volume.

-Droga Thay, vai dormir que ainda está cedo.

Eu ignorei os protestos das três e fiquei pulando de um colchão para o outro até elas desistirem e levantarem.

Uma hora depois já estávamos arrumadas e prontas para mais um dia no ensino médio, Lucy já havia ido para casa, e meu pai nos levou para o colégio.

Assim que entramos o sinal tocou e nós corremos pra aula.

Apesar do tapa olho e da zoação da turma eu estava tranquila e feliz por esta de volta á sala de aula.

Como de costume eu havia sentado na frente e a Débora estava em seu lugar no fundo da sala, sentada de forma relaxada como headfones pendurados no pescoço, fingia não prestar atenção na aula, mas prestava.

A manhã passou lenta, e eu só conseguia pensar nela, a professora teve que me chamar umas mil vezes pra poder eu atender.

-Ela tá apaixonada, professora!

Gritou Paulinha marota.

Eu a fuzilei com o olhar, mas ela somente continuou rindo de mim.

"Ela tá apaixonada..."

A frase se repetiu em minha mente por vezes infinitas até tocar o intervalo.

Antes que alguém nos acompanhasse peguei a Jéssica pelo braço e a puxei levando-se até atrás da quadra onde ninguém nos incomodaria.

-Eu estou louca!

Falei pra ela exasperada.

-E agora você fala a novidade.

Zombou.

-É sério Jéssica, eu só posso está louca, isso é uma loucura, eu não posso está gostando da Débora ela é uma garota é isso não é certo...

Jéssica fez um gesto para que eu me calasse.

-E o que há de louco nisso?

-Ela é mulher igual a mim! E Deus fez...

-Nem vem com esse papo tá? Deus fez as pessoas para amar e serem amadas meu bem.

-Mas eu não posso... E meus pais, vão ficar decepcionados, já pensou no que as pessoas vão falar de nós?

Jéssica me observava séria.

-Thay, calma. Respirou fundo. - Eu sou muito bem resolvida sexualmente, mas eu também tive dúvidas, experimentei ficar com garotas, mas era a minha nunca foi. Ela disse sentando. -Agora que você já sabe que você é a tal garota da Débora é bom você saber que eu aturei ela por anos falando sobre você, eu sei o quanto ela te ama, sei que você está com medo, mas também sei que gosta dela, eu sempre soube que nesse mato tinha coelho, - risos - mas eu não posso te dizer o que fazer, você nunca vai descobrir o que quer e o que é, se nunca experimentar.

-E se eu não for Lésbica, se eu for Hétero? Eu vou acabar machucando ela...

Jéssica suspirou frustrada.

-É um risco, mas tome cuidado pra não machucar a si mesma também.

Voltamos para o pátio onde o nosso grupinho de sempre estava reunindo.

Assim que nos aproximamos a Débora estendeu uma mão pra mim para que eu ficasse perto dela, mas eu a ignorei e sentei no chão entre as pernas do meu irmão que observava a cena em silêncio.

Passei o resto do dia ignorando a Débora que estranhou, eu podia ver a dúvida em sua expressão. Mas ela se mantinha distante respeitando meu espaço. Quando a aula terminou o motorista da Jéssica nos deixou em casa.

-Eu fiz alguma coisa pra você ter ficado com raiva de mim?

A pergunta feita num tom triste doeu em mim, eu estava sendo uma babaca eu sei.

-Não, são coisas minhas.

-Hum... Coisas suas?

-Sim.

Respondi com convicção.

-Ta certo então... Posso passar na sua casa mais tarde pra gente revisar as matérias que você perdeu?

Eu a olhei no fundo dos tímidos olhos azuis e senti uma vontade intensa de beijar seus lábios.

-Claro!

Eu vi o alívio tirar o peso que havia em sua costas ela deu um sorriso tímido e beijou minha bochecha antes de fazer o caminho até a sua casa.

Por Trás Da Cortina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora