Doze

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Na manhã seguinte eu não queria ver ninguém nem falar com ninguém, daria tudo pra não ter que ir a aula, mas eu não podia era fim de ano e o vestibular estava na porta, cada assunto era importante. Geralmente eu ia de carona com o Guto, ou com a Jéssica, mas naquela manhã eu peguei carona com meu pai que achou estranho eu sair cedo demais.

-Você está bem filha?

Perguntou ele me olhando quando estávamos parados num sinal vermelho.

-Estou.

Respondi.

-Me parece que você andou chorando e chegou cedo ontem e sem seu irmão, não estavam juntos?

-Eh! Tive uma dor de cabeça então vim pra casa mais cedo, o Thiago estava se divertindo não queria incomodar.

Ele fingiu acreditar.

-Pai?

-Sim querida!

-Você e a mamãe vão se separar?

A pergunta pegou meu pai de surpresa ele estacionou o carro na frente da lanchonete que havia de frente pra escola e me olhou muito sério.

-Quem te disse isso foi ela?

-Não. Suspirei. - Não somos crianças pai, eu e o Thi ouvimos as brigas de vocês.

Meu pai passou a mão entre os cabelos negros já com alguns fios brancos.

-É complicado filha, nós estamos passando por um momento difícil, eu e sua mãe... Ele suspirou procurando as palavras certas. - Eu e ela já não nos entendemos como antes... E...

-Tudo bem pai, eu não acho que ninguém deva se prender a outra pessoa que não seja por amor, até porque o amor liberta...

O interrompi.

-Acha que não amo mais a sua mãe?

Me perguntou surpreso com o que eu disse.

-Não sei... Ama?

-Amo querida, mas cometi muitos erros e sua mãe... Bem ela está magoada com tudo isso, entende?

Fiz que sim com a cabeça e abracei meu velho.

-Se ainda a ama deve lutar por ela, mostrar que os erros são passado e que o senhor não vai mais errar.

Meu pai sorriu mostrando os dentes brancos.

-Desde quando a senhorita se tornou expert em amor e relacionamentos?

Perguntou rindo.

-Em algum lugar entre os sete e os dezessete anos.

Respondi e ele riu novamente.

Depois de beija-lo no rosto e me despedi sai do carro e fui até a lanchonete que já estava aberta, pedi um lanche e me sentei em uma das mesas.

Não havia mais ninguém além de mim e das funcionárias que fofocavam enquanto trabalhavam e riam baixinho. Uma outra funcionária chegou logo em seguida na garupa da moto de outra mulher e ao descer depositou um beijo em seus lábios entregando-lhe o outro capacete.

A cena me deixou desconfortável e curiosa, a garota que trabalhava na lanchonete não parecia ser... Lésbica!

Quando eu terminei de comer a lanchonete já estava cheia de estudantes e trabalhadores da área, eu me levantei do meu lugar e entrei no colégio afim de não encontrar ninguém, mas a Jéssica me esperava no portão.

-Acho que a mocinha tem algo pra me explicar!

Disse assim que passei por ela e veio atrás de mim.

-Jéssica não tô afim de papo!

-Não ta, mas vai me explicar o que foi aquilo ontem?

Falou me segurando pelo braço e me fazendo parar.

-Primeiro a Paula tava pedindo aquele soco faz tempo e o idiota do meu ex namorado, disse que estava em casa com dor de cabeça, quando eu já sabia que ele havia saído com os babacas dos amigos dele, e a gota d'água foi ele dizer aquela idiotice na frente de todo mundo ele não teve respeito nenhum por mim! E sem falar na sua amiguinha que uma hora é boazinha outra hora inferniza minha vida e me beija, diz coisas que...

Ai! Quando percebi eu já tinha falado do beijo fazendo a Jéssica metalmente  bloquear tudo que eu havia dito antes.

-Como assim, beijo? De que tipo de beijo você está falando?

Perguntou curiosa um pouco alto demais chamando a atenção de algum alunos do segundo ano que passavam por nós, ela estava com a boca arreganhada de surpresa.

Eu a puxei pra um lado e contei a história da praia pra ela.

-E quando você ia me contar isso?

Perguntou sussurrando.

-Talvez depois que a Débora fosse embora.

Respondi olhando ao redor pra ter certeza que ninguém estava escutando nossa conversa. Eu estava surpresa com a reação da Jéssica com relação ao beijo ela parecia satisfeita ou até feliz, mas nada surpresa.

-E quem disse que ela vai?

Olhei pra Jéssica petrificada.

-Ela não vai?

Perguntei implorando que ela não confirmasse.

Assim como se soubesse ou fosse invocada pelas forças do infinito, a Débora cruzou os portões de ferro batido da nossa escola e ao seu lado um Guto furiosos como nariz roxo e bem machucado.

Por Trás Da Cortina (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora