Capítulo 30

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— Eu estava com um amigo uma noite — ela começou a explicar, dando uma
respiração longa e profunda. — E uma coisa terrível aconteceu.
Ela fechou os olhos, rezando para que a cena não pudesse criar uma explosão de vermelho-e-preto em suas pálpebras.

— Houve um incêndio. Eu escapei... e ele não. Lana bocejou, muito menos horrorizada com a história do que Lola estava.

— De qualquer forma — Lola continuou — depois de tudo, eu não conseguia me lembrar dos detalhes, como isso aconteceu. O que eu pude lembrar – o que eu disse ao juiz, de qualquer maneira – eu acho que eles pensaram que eu era maluca.

Lola tentou sorrir, mas pareceu forçado. Para sua surpresa, Lana apertou seu ombro. E por um segundo, seu rosto pareceu realmente sincero. Depois ele mudou para um sorriso afetado.

— Nós somos todos tão incompreendidos, não somos? — Ela cutucou Lola na barriga com o dedo. — Você sabe, Richard e eu estávamos justamente falando sobre como nós não temos nenhum amigo piromaníaco. E todo mundo sabe que
você precisa de um bom piro para levar a cabo qualquer pegadinha de reformatório que valha a pena. — Ela já estava planejando. — Richard pensou que talvez aquele outro novato, Peter, mas eu prefiro muito mais dividir meu fortúnio com você.
Todos nós devemos colaborar em algum momento.

Lola engoliu em seco. Ela não era uma piromaníaca. Mas ela já estava cheia de falar sobre o seu passado; ela nem sequer quis se defender.

— Oh, espere até que Richard ouvir isso — Lana disse, jogando seu ancinho para baixo. — Você é como o nosso sonho se tornando real.

Lola abriu a boca para protestar, mas Lana já tinha ido. Perfeito, Lola pensou, ouvindo o barulho dos sapatos de Lana andando pela lama. Agora era só uma questão de minutos antes de essas palavras viajarem por todo o cemitério e todo mundo descobrir.

Sozinha novamente, ela olhou para a estátua. Mesmo ela já tendo limpado uma enorme pilha de musgo e palha, o anjo parecia mais sujo do que nunca. Todo o projeto parecia tão inútil. Ela duvidava que alguém chegasse a visitar este lugar, de
qualquer maneira. Ela também duvidava que qualquer dos outros detentos ainda estivesse trabalhando.

Seus olhos apenas caíram em Charlie, que estava trabalhando. Ele estava usando muito diligentemente uma escova de aço para esfregar alguns mofos da inscrição em bronze em uma tumba. Ele tinha até mesmo levantado as mangas de seu
suéter, e Lola podia ver seus músculos tensos enquanto ele trabalhava. Ela
suspirou, e – ela não podia fazer nada quanto a isso – inclinou seu cotovelo contra o anjo de pedra para assisti-lo.
Ele sempre trabalhou duro.

Lola rapidamente balançou a cabeça. De onde isso tinha vindo? Ela não tinha ideia do que isso significava. E no entanto, tinha sido ela quem pensara sobre isso. Era o tipo de frase que por vezes formavam-se em sua mente antes que ela caísse no
sono. Sussurros incompreensíveis que ela nunca podia conectar a qualquer coisa fora de seus sonhos. Mas aqui estava ela, bem acordada.

Ela precisava se segurar nessa coisa sobre o Charlie. Ela o conhecia há um dia, e já podia sentir-se deslizando para um lugar muito estranho e desconhecido.

— Provavelmente é melhor ficar longe dele — disse uma voz fria atrás dela.

Lola virou ao redor para encontrar Mandy, na mesma pose em que ela a achou ontem: as mãos nos seus quadris, as narinas com piercing queimando. Soph tinha dito a ela que a surpreendente decisão da Sword & Cross que permitia piercings faciais veio da própria relutância do diretor de remover o brinco de diamante que ele tinha em sua orelha.

— De quem? — ela perguntou a Mandy, sabendo que ela tinha soado estúpida. Mandy revirou os olhos.

— Simplesmente confie em mim quando digo que ter uma queda por Charlie seria uma ideia muito, muito ruim. Ela sabia que o sol estava atrás de uma nuvem. Se ela pudesse quebrar o seu olhar, ela podia olhar para cima e ver isso por si mesma. Mas ela não conseguia olhar para cima, não conseguia desviar o olhar, e por alguma razão, ela tinha que
apertar os olhos para vê-lo. Era quase como se Charlie estivesse criando sua própria luz, como se ele estivesse a cegando. Um barulho oco encheu os seus ouvidos, e seus joelhos começaram a tremer.

Ela queria pegar seu ancinho e fingir que ela não tinha o visto chegando. Mas era tarde demais para se fingir de descolada.



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Capítulo revisado, me desculpem se teve algum erro que passou despercebido!

Love Will Remember (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora