Pégadas da vida

Bónus Ray

- Antes de começar Ray, convém eu lhes apresentar todos os que estão nesta sala. - diz Gail, uma das chefes do departamento de combate ao tráfico humano do FBI e já nossa conhecida.- A Anastácia Grey já conhecem, este é o seu marido Christian Grey, o sogro Carrick Grey e a sogra Grace Grey. Estão todos aqui pelo programa de protecção de testemunhas por isso vamos manter estes nomes. Sei que estão por dentro de todo o funcionamento do meu departamento, afinal já são 19 anos a conviver connosco, certo?

- Nasci numa familia abastada, o meu pai era professor Universitário e desde cedo soube o que queria fazer, queria seguir a profissão do meu pai e ser professor. Estudei noite e dia, enquanto a maioria dos meus amigos divertia-se eu dedicava-me a estudar. Apesar do meu pai ser professor na NYU,  eu candidatei-me para a Columbia e consegui uma bolsa de estudos integral devido ás minhas excelentes notas. Assim que acabei, com mérito, fiz uma pós graduação e fui estagiar para uma escola onde dava aulas, entre outras, a uma turma de ultimo ano. Nessa turma tinha uma aluna, linda, que me lembrava o que eu era na escola, com a diferença que ela rebatia todos os meus conteúdos e por quem me apaixonei. Com o tempo fomos nos aproximando mas eu tentei sempre manter uma distância pois para além de eu ser professor e ser contra as regras, ela era 8 anos mais nova que eu. Ajudei-a na sua candidatura e também ela entrou na Columbia com bolsa integral. Como entretanto tinhamos ganho alguma proximidade, ela ligou-me assim que soube e nessa noite eu declarei-me a ela, ela disse-me que o meu sentimento era reciproco e combinámos aguardar aquelas semanas que faltavam para ela acabar a escola. - sinto a Carla apertar a minha mão e vejo que ela tem um sorriso nos lábios. - Assim que terminou começámos a namorar apesar de termos os nossos pais contra devido ás circunstâncias em que nos conhecemos e devido á nossa diferença de idades. Decidimos então alugar um apartamento e começar a viver juntos. Assim que a Carla se formou nós casámos e pouco tempo depois tivemos a notícia que seriamos pais.- Tenho de parar pois a voz embarga-me, sinto um nó na minha garganta e as lágrimas teimam em descer. 

- Faz uma pausa que eu continuo meu amor.- diz a minha rainha.- Então, descobrimos que seriamos pais de um menino mas quando eu estava grávida de 5 meses fui assaltada quando voltava para casa e devido ás agressões perdi o nosso bebé. Estávamos tão felizes e de repente tudo foi-nos tirado. Já tinhamos tudo planeado para o nosso menino e perdêmo-lo. Passado 2 anos eu consegui engravidar novamente. O Ray ficou super protector e eu com medo também nem saia de casa. Como da primeira vez ficámos entusiasmados e depois perdemos o nosso pequeno John, na segunda gravidez optámos por não saber o sexo do bebé. Escolhemos os nomes, Robert para menino e Samantha para menina. Quando entrei em trabalho de parto corremos para o Hospital, a minha obstetra não estava e foi outro médico que me observou. Quando estava tudo pronto o médico saiu para ir mandar preparar a sala e logo entrou uma enfermeira já com a máscara colocada que me levou para a sala de partos, segundo ela. Não deixou o Ray entrar para assistir e quando o médico entrou deram-me uma injecção e eu apaguei. Acordei 2 semanas depois sem o meu bebé, com o Ray completamente destroçado mas sempre junto a mim.

- Naquela hora - continuo - eu queria assistir mas a enfermeira que a veio buscar disse que não podia e eu não estranhei nada, afinal, apesar de termos perdido o John, eu era pai de primeira viagem. Cerca de 40 minutos depois de a levarem apareceu o médico que a tinha assistido com a Policia e seguranças a dizer que tinha sido agredido e foi nessa altura que percebemos que algo de grave se passava. Procurámos e encontrámos a Carla numa sala, inconsciente e com a sua barriga aberta, sem o bebé. Foi dificil reanimarem-na e esteve em coma por 2 semanas e devido ao procedimento que fizeram na Carla, tiveram de lhe retirar o útero para lhe salvar a vida. Apesar do alerta dado naquela hora já não encontrámos qualquer rasto do bebé, mas nunca desistimos. Fizemos pedidos pela tv Nacional, demos entrevistas, inclusivé oferecemos recompensas para quem nos desse alguma pista do paradeiro do nosso bebé. Durante anos seguimos pistas falsas que nos deram mas nunca desistimos de procurar e sempre que aparecia alguma pista corriamos atrás. 

- Fomos á Austrália, Russia, Itália, França, Reino Unido, Brasil, México, Portugal, Dubai.- diz a Carla.- Sempre que nos falavam em alguma criança que aparecia e que tinha sido raptada corriamos atrás. Estivemos com Capos da Máfia Russia, Italiana e Americana, estivemos em contacto com cartéis, falámos com o FBI, a CIA, Interpol. Chegámos esta semana de Espanha onde foi detido um cartel que para além de droga traficava pessoas, mas não conseguimos nada por não haver fotos ou pessoas que conhecessem as vitimas traficadas. - A Anastácia Grey, ou quem sabe será a minha Samantha fala.

- Em Espanha? Onde?

- Puebla de Sanabria, próximo com a fronteira norte de Portugal. Porquê?- pergunta Carla.

- Porque a Ana esteve em cativeiro no norte de Portugal, até conseguir fugir para a Irlanda com a filha.- reponde o Christian.

- Isso quer dizer que ela foi umas das vitimas deste cartel.- diz a Carla.

- Sim, -responde a Gail.- Ela felizmente conseguiu fugir e sobreviver, para além de ajudar a Interpol, o FBI, a Polícia Irlandesa e a Portuguesa a identificar a maioria das pessoas que trabalham com eles, inclusive o cabecilha, desconhecido até á bem pouco tempo e que era quem a mantinha em cativeiro e as pessoas que a criaram até ser entregue ao Chefe.

- Os seus pais entregaram-na?

- Não,- responde a Gail- o casal que a criou são apenas a porta de entrada na Europa, são receptores de crianças.

Cada vez mais estou convencido que ela poderá ser nossa filha. A Carla aperta a minha mão e as lágrimas caem agora pelas nossas caras.

- E que idade tem Anastácia?- pergunto

- Faço 20 anos dentro de meses, dia 13 de Maio. - 2 dias antes do nosso filho ou filha.