Capítulo 4 A Irmandade da Flor Dourada

49 22 18
                                    

– Por que não nos disse que você era uma Elemental? – Perguntou Bumberdin, quando a rápida aventura aquática chegou ao fim. Seu chapéu pontudo agora ensopado estava tombado sobre sua testa e suas bochechas pareciam ainda mais vermelhas do que realmente eram.

– Eu fiquei com medo de que vocês fossem servidores da Feiticeira Azul – respondeu Assane, no momento que Úlfur chacoalhou o corpo, a água que saltou de seus pelos se espalhou para todos os lados deixando o trio um pouco mais molhados do que estavam.

– Achei que os Elementais não existissem mais – comentou Dimpilin, encantada com as marcas que haviam se formado pelo corpo de Assane. Azuis e com o formato de pequenas ondas se estendiam pelos dois braços da menina como tatuagens que magicamente se moviam de um lado para o outro.

– Muitos da nossa espécie abandonaram essas terras, mas Papai ainda acredita na prosperidade do nosso reino. – Respondeu Assane. – Apesar do medo que todos sentimos da Maldita um dia retornar, ele ainda tem esperanças.

– Esse medo parece fazer parte dos sentimentos de todos – Respondeu Bumberdin. – Espero nunca topar com a maldita por aí. Mas no momento esse não é o problema, devemos nos concentrar em resgatar o seu irmãozinho.

– Sim, é tudo o que eu mais quero – respondeu Assane, e uma lágrima escorreu pelo seu rosto.

– Não se preocupe, tenho certeza que ele está bem – Disse Dimpilin, otimista.

– Sim, é verdade! – Concordou Assane, controlando o choro. – Além dessas árvores, existe um pântano – explicou. – A Colina Esmeralda fica logo em seguida.

– O que estamos esperando? – Gritou Dimpilin, voando ao redor dos dois.

– Vamos ao resgate! – Gritou Bumberdin, Assane e Dimpilin o aplaudiram sorrindo.

– Aguente firme Aegon! – Sussurrou Assane. – já estamos chegando.

– Precisamos dar um nome a nossa equipe! – Disse Bumberdin. – Papai me disse uma vez que expedições que não são nomeadas costumam acabar em mãos bocados.

– Coelhos são tão supersticiosos! – Comentou Dimpilin, que no fundo tinha adorado a ideia de nomear o quarteto que acabara de se formar, e em segredo se culpou por não ter pensando nisso antes de Bumberdin.

– Eu concordo! Precisamos de um nome! – Disse Assane, recuperando o ânimo. – Mas como nomear um grupo formado por uma Fada, uma Elfa e um Gnomo? – O lobo soltou um alto latido. – E um lobo é claro! Nunca poderia me esquecer de você Úlfur, você é meu melhor amigo! – Disse a Elfa acariciando as orelhas do canino gigante.

– Irmandade da Flor Dourada! – Gritou Dimpilin, era na verdade o primeiro nome que veio em sua cabecinha resplandecente.

– Irmandade da Flor Dourada, está aí um ótimo nome – comentou Bumberdin.

– Precisamos pensar em um ritual de união entre os membros da nossa Irmandade, alguma coisa secreta que só aqueles que fazem parte do grupo poderão saber – disse Dimpilin, e nesse momento Assane recolheu seu sorriso e com um semblante entristecido permaneceu ao lado de Úlfur sem dizer palavra alguma.

– O que foi Assane? Não gostou da ideia? – Perguntou Dimpilin.

– Não é isso. Eu adorei a ideia! – Respondeu à pequena Elfa. – Mas sabe o que é?... Eu gostaria que deixássemos esses detalhes para quando Aegon estiver com a gente.

– Minha nossa! Como foi que eu não pensei nisso antes? – Disse Dimpilin, levando às duas mãos a cabeça. – Me desculpe Assane! Mas é claro que vamos esperar para quando o seu irmãozinho estiver junto de nós. Não é Bumberdin?

– Mas é claro! – Concordou o Gnomo.

– Mas para isso precisamos ir salvar o Aegon das garras dessa tal feiticeira azul. Úlfur latiu alto duas vezes, e abanando o rabo demonstrou sua ansiedade sobre o resgate do pequeno Elfo.

– Vocês são os melhores amigos que alguém poderia ter! – Disse Assane, emocionada. Os três se abraçaram, Úlfur latia alegre, e abanando o rabo saltou para cima deles derrubando-os. E por um breve momento tudo se misturou em risadas, lambidas, mãos, pernas e patas.

Quando a brincadeira acabou, não demorou em que se metessem ao meio daquele desconhecido bosque, onde as árvores pareciam não se alegrarem conforme o trio ia se aprofundando passo a passo adentrando cada vez mais naquele caminho desconhecido.

A luz do sol azul quase não penetrava entre os galhos das enormes árvores, e certa ausência de vida era algo estranho que fora notado pelo quarteto. Assane e Bumberdin caminhavam juntinhos um ao lado do outro, Dimpilin como sempre vinha voando em círculos atrás de Úlfúr que ia á frente farejando o caminho, latindo e rosnando para qualquer barulho que ouviam ao meio das árvores. Apesar de que o único barulho possível de se ouvir era causado apenas pelo vento.

– Para onde foram os animais desse lugar? – Perguntou Bumberdin, curioso com o silêncio que não estava acostumado a ouvir.

– Alguma coisa deve tê-los assustado – Respondeu Assane, olhando atentamente entre os troncos das árvores.

– Será que foi a feiticeira azul? – Perguntou Dimpilin.

– Apesar de causar muitos problemas, a feiticeira azul não seria idiota o bastante de espantar todos os animais desse bosque. Ela sabe que uma floresta morta de nada a ela terá serventia – respondeu Assane. – Alguma outra coisa deve estar causando medo em todos os animais.

– Vocês sentiriam isso? – Perguntou Bumberdin, quando uma brisa fria soprou sobre eles. Úlfur permaneceu imóvel latindo e rosnando sem parar a poucos metros de uma grande clareira coberta pela relva, que a pouco estava verdinha e que agora amarela, quase seca, formava um grande círculo no chão ao meio das árvores que não ousavam estender suas raízes por de baixo daquele pedaço de terra.

– O que foi Úlfur? – Perguntou Assane, levando as mãos sobre os pelos arrepiados do lobo.

– Bom dia! Bom dia! Dia bom! Bom! Bom!

– Quem disse isso? – Perguntou Bumberdin. Úlfur ainda latia e rosnava sem parar.

– Não fui eu!

– Nem eu!

– Que estranho – disse o Gnomo. – Se não fomos nós, então quem foi?

– Fui eu! Fui eu! Eu fui! Fui! Fui!

– Outra vez! – Disse Bumberdin.

– Agora eu ouvi – comentou Dimpilin, e por um breve momento a fadinha se apagou. "O medo causa isso nas fadas" apesar de ser muito raro às vezes até a nossa amiga Dimpilin sentia medo.

– Eu também ouvi – confirmou Assane, Úlfur latia ainda mais.

– Quem... Quem... Está aí? – Gritou Bumberdin, que assim como Dimpilin também estava assustado. A verdade era que todos estavam assustados, e acredite, se você e eu estivéssemos ali naquele momento com o quarteto, também ficaríamos com muito medo.

– QUEM ESTÁ AÍ?– Perguntou Bumberdin novamente com a voz um pouco mais grave.

– Eu estou! Eu estou! Estou eu! Estou! Estou!

Talvez, se todos ali tivessem ficado em silêncio e seguido adiante, fingindo por um momento que não haviam escutado aquela estranha voz que sussurrava ao meio das árvores outrora aqui outrora lá, nada tivesse acontecido. Mas como sabemos, as melhores aventuras são aquelas que acontecem muitas coisas, então "nada" não foi o que aconteceu.

– Quem está aí? – Gritou Assane. – Apareça agora ou nos deixe em paz!

– Se por três vezes, quem está aí você perguntou. Pela magia que existe na floresta você me invocou!

– O que está acontecendo? – Gritaram todos, ao meio da densa névoa que se formou, e por alguns minutos só gargalhadas foram o que ouviram.





O Jardim de Bumberdin Uma história de Gaillardia Onde histórias criam vida. Descubra agora