Capítulo 13 O Castigo de Krunyo

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E no calabouço do Castelo, lamentos de alguém que fora esquecido na escuridão ecoavam entre as celas frias e úmidas.

- A cabeça de Krunyo dói muito! - Resmungou o Ogro, ao abrir os olhos.

E ao tentar se levantar, o grandalhão sentiu que seu pé também doía, e de muitas dores gemeu alto mais uma vez. E se alguém tivesse ouvido ou assistido aquela triste cena, com certeza sentiria muita pena do pobre Krunyo, que até então tivera uma vida muito difícil. Privado de alegrias e sem nenhum amigo "exceto os gatinhos que ele tanto amava" Krunyo não era um ser maldoso, mas apenas cumpria as ordens da Feiticeira no intuito de um dia ser amado por ela, e quem sabe pode-la chamar de mamãe pessoalmente ao menos uma vez, e não somente às escondidas como fizera desde pequeno. Mas isso estava muito distante de acontecer, só que para Krunyo era uma coisa imperceptível.

- Tentar pegar crianças invasoras não foi bom para Krunyo - choramingou o Ogro. - Espero que mamãe não fique furiosa com Krunyo.

E com essa esperança Krunyo subiu as escadas, e quando chegou ao andar superior viu todos ao redor da grande mesa e aproximou-se o mais rápido que pode para tentar se desculpar com a Feiticeira por sua falha. Como uma aproximação sutil era impossível para Krunyo, rapidamente ele havia virado o centro das atenções, então o jantar fora interrompido pela Feiticeira que ironicamente passou a aplaudir Krunyo.

- Aberração! Imprestável! Monstro estúpido! - Gritava a mulher, enquanto incentivava as demais crianças a também aplaudir o Ogro que envergonhado permaneceu em silêncio. Krunyo não fez nada, "nada mesmo" nem quando alguns dos jovens soldados passaram a atirar-lhe sobras de comida.

E do outro lado da grande mesa na onde se sentaram as crianças que ainda não haviam passado pelo treinamento, Aegon pode sentir o quanto Krunyo estava envergonhado com aquela humilhação, e pode ver com clareza quando as lágrimas escorreram dos olhos avantajados da criatura. E naquele momento Aegon sentiu muita pena de Krunyo, e passou a acreditar que o Ogro poderia ser um aliado, e que poderia ter uma grande ajuda para resgatar sua irmã e seus amigos. E para isso acontecer, Aegon só precisaria esperar até o momento certo.

Depois da chuva de sobras de comida, Krunyo ainda apanhou um bocado da Feiticeira. E dessa vez ela teve a ajuda de Morgok que não deixaria passar á oportunidade de ferir alguém, ainda mais uma criatura doce igual Krunyo que apesar de ser muito maior e mais forte do que o velho Ogro não seria capaz de revidar a punição a qual fora submetido.

Krunyo por algum motivo sempre sentira muito medo de Morgok, e talvez fosse por culpa das cicatrizes horríveis que o General Orc ostentava em sua face, o que o deixava ainda mais grotesco. Não que Krunyo fosse um exemplo de beleza, mas a verdade é que os Orcs são criaturas terrivelmente feias e nojentas. E por isso até entendo o medo de Krunyo por Morgok, pois além de horripilante o General Orc transbordava maldade.

Mesmo não achando que Krunyo havia sido punido o suficiente a Feiticeira deu ordens para que os tormentos contra o Ogro cessassem. Pelo menos por um tempo, pois a maldade maior contra Krunyo ela achou melhor reservar para mais tarde.

Sendo assim o jantar finalmente chegou ao fim, e com isso o momento das tão esperadas execuções havia chegado, o que animou muito a Feiticeira.
Quando finalmente a Feiticeira, seus comparsas e as crianças que ainda não haviam passado pelo treinamento para soldados seguiram para fora do Castelo até o pátio das esmeraldas, Assane, Bumberdin e Dimpilin já estavam presos ao centro de uma grande plataforma de bronze que lembrava uma enorme assadeira.
Alguns soldados ao verem a Feiticeira se aproximando trataram de se apressarem em terminar de montar abaixo da grande assadeira de bronze uma estrutura de madeira muito parecida com uma pira, e ali ao lado com tochas já acesas em suas mãos se perfilaram para aguardar novas ordens.
Amordaçados e com mãos e pés amarrados a um pilar também de bronze ao centro da plataforma, os integrantes da Irmandade não poderiam fazer mais nada além de torcerem por um milagre, pois já era bem óbvio o futuro que os aguardava. E a ideia de serem assados vivos, de nada os agradava.
A Feiticeira de sorriso nos lábios parou à frente da grande plataforma, ao seu lado estava Morgok com ar de felicidade, pois nada mais agradava aquele Orc do que execuções após o jantar. Os soldados de Morgok trataram de empurrar as crianças ainda sem experiência de combate para o mais perto possível dos prisioneiros, pois assistir execuções fazia parte do treinamento para se tornarem bons soldados e isso com certeza os tornariam mais impiedosos. "Pelo menos essa era a ideia."

- Culpados, culpados, culpados! - Gritava a Feiticeira freneticamente, e ao se aproximar de um dos soldados pegou de sua mão a tocha que esse segurava. Nesse mesmo instante todos os soldados incentivados por Morgok batiam as armas contra os escudos e alto gritavam:

- Queimem! Queimem! Queimem!

A Feiticeira sorrindo então levantou uma das mãos, e em gesto pediu silêncio.

- Sei que vocês estão ansiosos para verem os malditos invasores queimarem! - Gritou a Feiticeira, sorrindo. - Mas, peço que tenham um pouquinho mais de paciência, pois a queima de hoje será ainda mais especial do que vocês imaginam.

Dito isso a Feiticeira acenou para Morgok que sussurrou algo aos ouvidos de um dos jovens soldados que saiu às pressas para cumprir o que o Orc havia lhe pedido, e sem demora retornou com uma pequena caixa. Uma caixa que de longe, Krunyo conheceu muito bem, e logo o desespero tomou conta do grandalhão que caiu aos prantos.

- O que vai fazer com isso? Devolva para Krunyo! - Gritou o Ogro, correndo ao encontro do soldado. Mas antes que Krunyo o alcançasse a Feiticeira berrou:

- Nem mais um passo, aberração! Ou juro que te transformo em uma lesma e dou ordem aos soldados para que te atirem sal por todo o seu corpo, monstro inútil.

Mesmo de coração partido, Krunyo parou de avançar, e assim tentou conter sua fúria, mas não estava com medo que a Feiticeira o transforma-se em algo. Ele apenas a respeitava de mais para ir além de uma ordem direta mesmo que seu maior tesouro estivesse em perigo. E de longe com lágrimas escorrendo, krunyo assistiu o jovem soldado tirar de dentro da caixa os gatinhos que ele tanto amava e colocá-los um a um aos pés de Bumberdin. Esse seria o castigo prometido pela Feiticeira, um castigo cruel que Krunyo não seria capaz de suportar.

- Não faça mal aos gatinhos eles são amigos de Krunyo. - Implorava o Ogro, a mamãe gato vai retornar logo para dar leite aos quatro filhotinhos, ela confiou os gatinhos para Krunyo cuidar, não faça mal a eles.

E sem pouco importar com os lamentos do grandalhão, a Feiticeira ao aproximar-se dele não demorou em lhe esbofetear o rosto com muita violência. E ao meio de muitas ofensas o ameaçava com o cetro que era sua grande fonte de poder. E sem demoras avançou novamente até os prisioneiros, e sem pensar duas vezes atirou a tocha incandescente que segurava na pira que se ascendeu violentamente, o fogo logo avançou contra toda a madeira existente na pira esquentando todo o lugar.

E nossos amigos, que foram presos em cima da plataforma de bronze propositalmente descalços, já podiam sentir nas solas dos pés o terror que os aguardava. Aegon de longe assistia aquela pavorosa cena, e teria que agir rápido se quisesse salvar o trio, ou com toda a certeza aquele seria o fim de todos.

Aegon conseguirá?

A resposta para essa pergunta ficará para o próximo capítulo.

O Jardim de Bumberdin Uma história de Gaillardia Onde histórias criam vida. Descubra agora