Capítulo 12 Morgok

19 6 4
                                    

- Qual é o plano? - Perguntou Dimpilin, que se demonstrou muito ansiosa ao ver que os degraus da escadaria estavam prestes a terminar.

- Não temos um plano - respondeu Bumberdin, que não tinha ideia de que enfrentar uma Feiticeira sem um plano poderia ser algo catastrófico, e isso, logo todos ali ficariam sabendo.

- Alguém de vocês pode nos contar um pouco do que acontece nesse Castelo? - Perguntou Assane, curiosa.

- Como assim o que acontece no Castelo? - Questionou um Fauno pequenino.

- Oras, seria bom saber como é o dia a dia da Feiticeira - respondeu Assane. - Ninguém aqui tem ideia do que ela realmente pretendia mantendo todos vocês aprisionados?

E depois de um breve silêncio onde era quase possível ouvir os pensamentos do restante das crianças, todos os pequeninos responderam em voz alta:

- Não sabemos de nada!

- Nada? - Insistiu Assane.

- Nada! Pois todos que foram levados até a Feiticeira nunca mais voltaram - respondeu o Duendezinho encapuzado, com certo terror no seu tom de voz.

- Isso não é nada bom - sussurrou Dimpilin.

- Com toda certeza não é - concordou Bumberdin, pensativo. - Tenho a leve impressão de que muitos aqui nesse Castelo ainda precisam de nossa ajuda.

E Bumberdin estava certo sobre isso, a verdade é que a Feiticeira trabalhava secretamente para um ser muito mais maligno do que ela. Sendo assim, cumpria ao pé da letra as ordens dessa criatura (que vamos conhecer futuramente) e para esse monstro de pura maldade: a Feiticeira Azul que já fora uma mulher bondosa em um passado não tão distante, ficara incumbida de construir um grande exército formado por crianças Gaillardianas. E por isso, há algum tempo vinha desesperadamente roubando pequeninos por todos os cantos. Mas seu prazo estava se esgotando, o dia a qual fora ordenado que o exército fosse entregue estava próximo. A Feiticeira sabia muito bem, se não conseguisse terminar a tarefa, uma morte demoradamente dolorosa a aguardava, e isso não estava em seus planos. Então com a ajuda de um General Orc, que fora comandante de legiões malignas que atacaram Gaillardia em tempos antigos, juntos passaram a trabalhar noite e dia para completar a tarefa.

Tal General chamava-se Morgok Uzumcru, conhecido por ser o causador da primeira grande guerra Gaillardiana. Um ser desprezível e sem compaixão que um dia fora o terror dos povos livres de Gaillardia, o qual teria escravizado por completo se não fosse pelo bondoso Rei Nefertin o magnífico, e seu exército Dourado que enfrentaram as legiões malignas em terríveis combates durante anos até saírem vitoriosos. Nerfertin expulsou todos para fora de seu reino trazendo a paz para toda a Gaillardia novamente, mas algo aconteceu e Morgok retornou de seu exílio aparentando não temer mais o grande Rei. Com certeza não matar o General Orc quando teve a chance fora um grande erro de Nerfertin, mas isso é uma outra história.
E mesmo tendo sido derrotado, Morgok ainda era um terrível inimigo, o tempo o transformara em um poderoso guerreiro, um verdadeiro mestre esgrimista, que vinha treinando com muita rigidez as crianças. E muitas delas já estavam bem preparadas para lutar.

E foi por Morgok que a Feiticeira começou a gritar ao perceber que algo havia acontecido com Krunyo no calabouço, o General Orc não demorou a se apresentar.
Seguido por dezenas de crianças vestidas com armaduras douradas e elmos negros decorados com plumagem vermelha, Morgok adentrou o salão principal do Castelo como se participasse de uma parada militar. As Crianças armadas com arcos, lanças e espadas perfilaram-se ordenadamente formando um corredor por onde o General Orc continuou seu desfile saudando e sendo saudado por seus pupilos que desembainhavam suas espadas, e após brandi-las prestavam lhe reverências.
Morgok colocou-se de joelhos no chão ao se aproximar da Feiticeira, e somente depois de beijar os dois pés de sua mestra levantou-se para receber suas ordens.

- Prenda os invasores e traga-os até aqui para que eu possa açoitá-los! - Gritou a Feiticeira, que mesmo zangada não deixava de ser extremamente radiante.

Assustadoramente bela, era o que todos diziam ao olhar para aquela mulher de longos cabelos brancos repletos de madeixas azuladas. Era alta e tinha os olhos esverdeados, um longo vestido azul adornado por pérolas brilhantes cobria seu corpo esbelto. Em uma das mãos carregava um cetro cujo cabo era decorado por turmalinas de várias cores que chamavam muita atenção, mas não se comparavam com a magnitude do enorme diamante azul que brilhava na ponta do bastão. E não posso esquecer-me de mencionar o chicote de couro cru que ela trazia preso ao cinto, o mesmo objeto que fora usado para açoitar Krunyo, não somente no capítulo anterior, mas ao decorrer de toda a vida do pobre Ogro.

- Ouviram a sua Senhora! - Gritou Morgok. - Capturem os invasores, isso é uma ordem!

Os jovens soldados obedeceram sem pestanejar, e de armas empunhadas marcharam ferozes rumo à escada que dava acesso ao calabouço, a mesma escada que Bumberdin e os demais chegavam finalmente aos últimos degraus. O encontro foi inevitável e, em um corredor não muito estreito repleto de estátuas estranhas feitas de bronze, uma violenta batalha parecia estar prestes a acontecer.
Em maior número e bem treinados, as crianças comandadas por Morgok claramente estavam em vantagem. A vontade de lutar não faltou em nenhum dos integrantes da Irmandade, mas o melhor a ser feito seria se entregarem e não colocar a vida das outras crianças em risco. E essa foi à decisão tomada por Bumberdin após receber o conselho de Aegon, que a essas alturas já vestia em sua cabeça o poderoso elmo da sabedoria, o que o tornava muito mais inteligente que todos ali, mas isso o jovem Elfo só descobriria um pouco mais a frente nessa história.

Após serem desarmados Assane, Bumberdin e Dimpilin foram levados ao encontro da Feiticeira que ansiava para conhecer e punir os invasores de seu tão protegido Castelo. A mulher ficara impressionada ao ver que seus corajosos inimigos eram tão jovens, e isso não poderia deixá-la mais feliz.

- Crianças corajosas! - Exclamou a Feiticeira, parecendo ter deixado a fúria de lado. - Não tenham medo! Não irei feri-los. Vocês são muito valiosos, e serão muito úteis depois de passarem pelo treinamento. Vocês terão a honra de servirem no grandioso exército da Rainha Arantula.

- Nossa Rainha chama-se Sarana, que é a esposa do nosso Rei Nefertin o Magnífico. Não conhecemos nenhuma Arantula como nossa Rainha, e não faremos parte de nenhum exército maligno - esbravejou Dimpilin, mantendo a coragem mesmo com armas apontas para si.

Ao escutar as palavras de Dimpilin a Feiticeira gargalhou demoradamente, e ao aproximar-se da fada a agarrou pelas asinhas e a levantou na altura dos olhos, e aos ouvidos da pequenina lentamente sussurrou:

- Achou que vocês três estavam inclusos nos meus planos? Pois saiba que vocês não terão essa sorte. Quando falei sobre importância não me referi a vocês, mas sim as minha pobres crianças que vocês tentaram jogar contra mim.

- É um favor que nos faz sua bruxa velha! - Gritou Assane. - Nós não a serviríamos nem se você implorasse de joelhos.

- Do que você me chamou? - Perguntou a Feiticeira aos berros.

- De Bruxa velha! - Repetiu Assane, em alto e bom tom.

- Tirem essa aberração de orelhas pontudas e os amigos dela da minha frente - ordenou a Feiticeira.

- Para onde devemos levá-los, minha senhora? - Perguntou um jovem Centauro, que há pouco tempo havia sido obrigado a jurar lealdade ao exército de Morgok.

- Para o pátio das esmeraldas - Respondeu a mulher. - Depois do jantar eu mesma me encarregarei das execuções.

- Como quiser minha senhora! - Disse o Centauro, antes de dar o sinal para que Assane, Bumberdin e Dimpilin que a esse momento já estava de mãos e pés atados fossem carregados para fora do Castelo. E em segundos até a voz de Assane que ainda gritava ofensas contra a Feiticeira fora silenciada.

E cumprido ordens todas as crianças, incluídos às que não havia se tornado soldados ainda, sentaram-se há mesa onde o guisado do caldeirão foi servido. E todos principalmente Aegon puderam notar muito bem o quanto a Feiticeira que estava sentada ao lado de Morgok, aparentava estar animada com as execuções que estavam prestes a acontecer.

Será que a aventura da Irmandade da Flor Dourada acabará em tragédia? Que tal descobrirmos juntos no próximo capítulo?

Gostou do capítulo? Então não se esqueça de curtir e comentar.

O Jardim de Bumberdin Uma história de Gaillardia Onde histórias criam vida. Descubra agora