Capítulo 10

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"Homem cruel e perverso,

Como pôde? Oh, como pôde?!
Eu o odeio com toda força do meu ser, Ethan Denbrook. E nunca o perdoarei. Jamais. Sob nenhuma circunstância. Nem que implore de joelhos.
Eu espero que você e sua estimada Sarah (a quem eu também odeio) sejam constantemente infelizes. O mundo não pode retribuir com uma vida plena e tranquila um homem frio e necrupuloso como você. Seria seguramente injusto!
Não pense que eu julgo ser uma incumbência sua me amar. Não sou tola a tal ponto, compreendo que seu coração é uma terra livre, que não pode ser conquistada sob qualquer ato de domínio tirânico. E mesmo que fosse possível, eu nunca iria querê-lo dessa maneira, impondo o meu amor como uma ordenança incontestável.
O amor não pode ser forçado. Você ensinou isso a uma menininha ruiva e risonha, que vivia à sua procura, dando-lhe atenção, ainda que nunca fosse retribuída. Eu sabia que eu não podia obrigá-lo, mas você me deu esperanças de que um dia talvez que fosse merecedora do seu coração.
O que foram todas as cartas que me enviou senão um sopro de esperança sobre os sonhos de uma garota sonhadora? Todas as vezes que me chamou de preciosa, que disse sentir minha falta nos lugares que visitava. O que significaram aquelas palavras?Oh, como fui tola todos esses anos!
Neste instante acabo de perceber que você me ensinou mais uma dura lição: O amor não pode ser desperdiçado. Dito isso, recuso-me a perder mais um dia amando um homem indigno de um sentimento tão elevado como este.
Eu posso aceitar que você não corresponda meus sentimentos. Mas não o perdoarei por ignorá-los completamente. Como se minhas palavras de amor fossem tão insignificantes que não merecessem sequer sua menção..."

(Carta escrita por Agatha Crane. Correspondência nunca enviada por extrema ausência de coragem)

"Caro Lorde Denbrook,

Que notícia adorável! Estimo os mais sinceros votos de que sua união com Lady Sarah seja próspera e frutífera..."

(Trecho da carta escrita por Agatha Crane. Correspondência entregue.)

"Minha preciosa Sarah,

Ainda sinto o aroma suave do seu perfume no meu lenço. Este acaba de se tornar meu lenço favorito. Aguardo ansiosamente encontrá-la no teatro hoje e ficaria honrado se usasse o presente que lhe..."

(Trecho da carta escrita por Ethan Denbrook para sua amada Sarah. Correspondência entregue.)

- Eu ordeno que pare de agir dessa forma, Agatha! - reverberou Isabella enquanto massageava suas têmporas, tentado aliviar a tensão que ser mãe de uma jovem em idade para casar lhe causava.
- Pois eu ordeno que continue. - anunciou lady Danbury, com ar de sabedoria.
Agatha forçou-se a reprimir o riso. As mulheres de sua família possuíam a necessidade primitiva de externar suas opiniões. E mesmo que não reconhecessem, todas pretendiam sempre dar a palavra final.
- Bisa! - retrucou sua mãe, as bochechas corando rapidamente. - Tudo o que minha filha menos precisa agora é de estímulo.
- Não seja tola, Isabella. Deixe nossa menina divertir-se um pouco.
- Diverti-se? Humpf!
E para aquela habitual expressão exasperada, lady D. respondeu:
- Humpf!
- Humpf! - sua bisneta devolveu, sustentando um olhar desafiador.
- Humpf! - disse Lady D, subindo uma oitava na voz.
- Hump...
Aquilo já estava saindo de controle. Agatha pigarreou, e teve que esforçar-se para que o som sobressaísse frente àquela batalha de interjeições.
- Do que nós estávamos falando mesmo? - ela indagou inocentemente, lançando a pergunta no ar, para ninguém em específico.
Sua avó, Eloise Crane, que até aquele momento estivera assistindo silenciosamente, decidiu responder:
- Nós estávamos falando sobre seu dever de se comportar como uma mulher adulta. Lembrando-se de que o recato e sensatez são imprescindíveis para uma verdadeira dama.
As palavras foram pronunciadas em um tom que mesclava acusação e divertimento.
Agatha riu.
- Ah, muito obrigada, vovó. Foi uma resposta muito esclarecedora...
Oh, céus. Isabella Crane não devia ter dado à luz a meninas. Por que a natureza permitira? Ela se perguntou naquele momento. Envergonhada, empertigou-se na cadeira, uma postura régia e precisa, tentando recuperar a calma para prosseguir com seu sermão, o qual havia passado horas preparando. Ela respirou fundo algumas vezes, em seguida lançou um último olhar fulminante em direção à Lady D. E então sentiu-se pronta para agir como uma mãe exemplar.
- Escute, minha filha. - começou Isabella, virando para Agatha. - Não pense que eu não tenho ouvido os sons horríveis uivos e correntes se arrastando durante a noite.
- Oh! Que horror! - exclamou Eloise, se inteirando do assunto. - Talvez fosse o caso de chamar o clérigo local.
Agatha se encolheu em seu assento, tentando esconder sua própria vergonha.
- Ou talvez sua neta devesse parar de tentar assustar nossos convidados. - opinou sua mãe, olhando diretamente em seu olhos.
- Ah. - Eloise conseguiu dizer. Um rastro de compreensão cruzou o seu rosto imediatamente, e aquela expressão fez Agatha se encolher ainda mais. - Entendo.
Santo menino Jesus! Não, por favor, não conte do resto...
- E também teve o episódio do lago. - relembrou Isabella.
- Lago? - Eloise perguntou, com o cenho franzido.
- Aparentemente, Agatha desequilibrou-se com uma brisa, que passeava brandamente pelo local naquele momento, e acabou empurrando o jovem Ethan no lago.
- Aaaaah, Agatha... - a jovem ouviu sua avó lamentar.
Três pares de olhos a encararam naquele instante, e ela se sentiu como se estivesse apenas de calçolas diante de uma multidão de aristocratas. Era como se cada olhar fosse um grande espelho. E ela detestou seu próprio reflexo ali. Até lady D. que há pouco a apoiara, não parecia a mulher mais orgulhosa do mundo enquanto a olhava. Ninguém sabia o quanto Ethan Denbrook a fizera sofrer. Tampouco importava, refletiu ela, o passado não poderia ser alterado, de todo modo.
Suspirando lentamente, ela cruzou as mãos sobre a saia do seu vestido, e se manteve em silencio por longos minutos, travando uma batalha interna, em dúvida sobre o que fazer.
- Você venceu, mamãe. - ela disse por fim. - Eu vou deixar Ethan Denbrook em paz.

***

Ethan estranhou a ausência de Agatha no almoço. Nos dias anteriores ela tinha se valido daquele tempo para importuná-lo com uma conversa maçante sobre decoração e métodos eficientes de se organizar uma dispensa. A tagarelice da mulher quase o fazia perder o apetite. E justamente agora, quando ele por fim decidira dar uma lição nela, Agatha desaparecera.
O que será que ela estava aprontando?
Bem, se ela não estava na casa, só havia um lugar onde poderia estar.
O seu nada secreto jardim.
Era hora de agir.

Como enlouquecer um condeOnde histórias criam vida. Descubra agora