Capítulo 13

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Agatha levantou-se cedo naquela manhã de sábado e decidiu que faria uma visita a seu tio Benedict. Era a quarta visita que se propusera a fazer naquela semana. Desde seu encontro com Ethan no jardim, na semana anterior, sua casa deixara de ser um refúgio seguro e tranquilo, onde poderia usufruir de paz e comodidade. Aquele passara ser um local hostil. Ela corria o iminente risco de virar um corredor e se ver diante daqueles olhos acinzentados e provocadores.  Quanto mais tempo passava longe de Woodhouse, refletiu a jovem, melhor seria.
Você prometeu à sua mãe, Agatha repetia consigo mesma enquanto descia as escadas, indo em direção ao vestíbulo. Por dentro, seu sangue ainda fervia por se ver obrigada a manter distância, como um coelhinho que foge correndo para sua toca ao menor sinal de perigo.   Humpf! Por que a prudência tinha que ter um gosto tão pungente de fraqueza? 
A carruagem estava pronta à sua espera. Quando entrou no veículo e sentou em seu lugar habitual, ela soltou um longo suspiro desanimado. Adorava ver seu tio criando seus quadros e também se sentia bem conversando com sua tia Sophie, que era uma mulher doce e inteligente, no entanto, em seu íntimo não conseguia deixar de se sentir uma intrusa. Seu tio a garantia que não o incomodava com sua presença, mas às vezes o amor faz com que falemos coisas que não são verídicas. 
—  Bom dia. 
Agatha saltou no próprio assento, sendo surpreendida pela voz rouca e impassível que a envolvera naquele instante. Ethan Denbrook entrou na carruagem, vestido impecavelmente com um terno habilmente engomado, os cabelos ajeitados para trás, sem que um único fio ousasse rebelar-se. O rosto dele parecia divertir-se com sua reação. Quando Agatha percebeu que a sombra de um sorriso delineava-se em seu rosto, ela rapidamente se recompôs. Aquele homem devia ser alguma praga que subsistiu desde o Egito antigo e agora fora enviada para assolá-la. Era a única explicação imaginável.
—  Bom dia, milorde. —  Agatha o cumprimentou. Sua voz isenta de qualquer emoção. —  Você claramente confundiu-se. Esta carruagem pertence a minha família e me levará até a casa do meu tio. — ela fez uma pausa, esperando que ele se desculpasse e descesse, mas Ethan não o fez. Então com calma ela acrescentou: — Se desejar, eu solicitarei a um cocheiro que prepare sua carruagem.
Ele sorriu, fazendo o estômago dela se contrair.
—  Não vejo porque dar aos empregados redobrado trabalho, uma vez que estamos indo para o mesmo lugar.
Os pés de Agatha começaram a se mexer, desenhando círculos no ar, inquietos. Ela estava nervosa. Felizmente, o vestido de musselina amarelo cobria-os, ocultando a reação.
—  Como disse? —  ela inquiriu.
—  Eu acredito que você não se importará que eu a acompanhe no veículo. Pretendo visitar o Sr. e Sra. Bridgerton.
Naquele dia?
Naquele horário?
—  Eu não me importo. —  ela mentiu, dando de ombro. —  Mas não é adequado que viajemos sozinhos. 
—  Não se preocupe. —  Ethan respondeu. —  Eu trouxe uma acompanhante comigo.
Ela olhou em volta, segurando na ponta da língua a vontade de perguntar se a dita acompanhante estava guardada dentro do bolso do paletó dele. Não havia mais ninguém ali. Eles estavam a sós. 
—  Ela está lá fora, sentada junto com o cocheiro. —  ele esclareceu, como se pudesse ler seus pensamentos. —  Aparentemente, a adorável criada se sente melhor viajando ao ar livre.
Que oportuno. O trajeto inteiro levaria cerca de duas horas. E em todo tempo ela teria que suportar a presença de Ethan, sentando ali bem à sua frente. Aquele dia seria extenuante. Os lábios de Agatha se abriram para contestar aquele arranjo infame, contudo, Ethan agiu abruptamente batendo no teto da carruagem, para que o criado soubesse que era a hora de partir. 
Ela não iria falar com ele. Não ia sequer olhá-lo. Agatha passou boa parte do caminho olhando pela janela, sem realmente registar nenhuma paisagem com o olhar. Ele tampouco tentou puxar assunto. É como se ele soubesse que sua presença era incômodo suficiente.
— Se eu bem me recordo, você era uma menininha bem falante quando a conheci.  —  ela o ouviu comentar, tempos mais tarde. 
—  Huhum... —  ela balbuciou, sem lhe dar muita atenção.
—  E viva fazendo perguntas. —  Ethan continuou, não se abatendo. —  Por que o céu tem tons de laranjas pela manhã e fica escuro à noite? Por que não se pode ver estrelas à hora do almoço? Por que os gatos não permanecem filhotes para sempre?
Vê-lo enumerar as perguntas inocentes que ela costumava fazer quando criança, fez com que ela se afastasse da janela e voltasse a encará-lo. 
— E pelo que eu me recordo. — Agatha disse severamente. — Você nunca respondeu nenhumas das minhas perguntas, então não entendo porque desenterra-las agora. 
Ethan estava prestes a sorrir com a fúria contida que os olhos de Agatha tentavam inutilmente escondes, mas se deteve. Ali, em algum canto, submerso, ela jurou que pôde encontrar uma fagulha de tristeza. Aquilo o deixou confuso. Ethan jamais viu aquela jovem peralta e cheia de vida triste. Era como se nada pudesse abatê-la, ou sequer atingi-la. Será que ela se ressentia por ele não ter respondido todas aquelas perguntas tolas? Quem em são consciência responderia qual o motivo de não existir estrelas na hora do almoço? Era insano.
Agatha desviou o olhar, como se tivesse medo que ele descobrisse seus segredos. Ele podia jurar que aquela mulher era imune àqueles tipos de sentimentos. Ela era sempre segura de si e altiva, corajosa e obstinada. 
— O céu muda de cor por causa da rotação que divide o mundo em claro e escuro. Quando o sol nasce aqui, em alguns lugares do mundo a lua aparece. Tudo é questão de posição no universo.  — ele respondeu. — Essa resposta certamente também responde a segunda. Por mais que você dissesse o quanto gostaria de participar de um almoço estrelado, eu tinha consciência que não era possível, no entanto, não queria ser eu a dizer-lhe isso. Seria como fazê-la deixar de acreditar em algo, e você era pequenina demais para esse tipo de desilusão. 
Agatha prendeu o fôlego no pulmão, enquanto o ouvia. 
— Os gatos não permanecem filhotes porque o ciclo da vida assim não permite. Todos estamos fadados  a envelhecermos. Não há nada que se pode fazer — ele concluiu. — Essas são as únicas perguntas que me veem à mente neste momento, entretanto, se você se lembrar de mais alguma eu ficarei honrado em respondê-la.
Santo menino Jesus!
Por que o coração dela parecia saltar até sua garganta?
Essa era uma pergunta que era imprescindível que continuasse sem resposta.

Como enlouquecer um condeOnde histórias criam vida. Descubra agora