Capítulo 11

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Ethan tentou recordar sua última visita àquele lugar. Pelo o que ele lembrava, havia considerado o jardim de impressionante estrutura, um tamanho amplo, as sebes e flores perfeitamente podadas. Era um belo jardim, foi este o seu primeiro julgamento. Mas naquele momento, quando virou na última curva que levava ao centro daquele pequeno labirinto, ele não pôde evitar o pensamento que invadiu sua cabeça inadvertidamente.
Mágico.
Todo o lugar parecia mágico. A figura de Agatha reclinada para trás, seu peso apoiado nas duas mãos espalmadas sobre o banco de concreto, enquanto seu rosto permanecia erguido em direção ao sol, sendo agraciado com feixes de luz, que faziam sua pele resplandecer.
Ele parou diante da cena, hipnotizado.
Aquela mulher juntava em si todas as características externas pelos quais homens dobravam-se à paixão. Ela tinha olhos inocentes e uma boca sensual, que se harmonizavam com perfeição.
Linda.
Esplêndida.
O nariz de Agatha mexeu-se minimamente, e aquela foi a única evidência que ele conseguiu encontrar para comprovar que a mulher que seus olhos consumiam descaradamente era feita de carne e osso.
Ela não notou sua presença. Pudera, seria realmente difícil percebê-lo. Ele não se movia desde que chegara. Não piscava. Sua respiração estava suspensa nos pulmões. Tinha dificuldade de engolir o líquido acumulado em sua boca... Ele estava salivando por ela? Santo Deus! Estava se comportando como um verdadeiro cão de caça ao avistar sua presa. E o mais estranho era que Ethan sequer notava sua própria reação.
Um suspiro de extremo contentamento escapuliu dos seus lábios. O som vagueou pelo ar até tocar levemente no ouvido de Agatha. Ela se mexeu, seu olhar encontrando o dele.
- Você de novo. - disse a jovem. A expressão severa transformou seu belo rosto numa máscara de austeridade pouco convidativa.
Toda a magia se extinguiu. Evaporou.
Puf!
Foi como o momento anterior nunca houvesse existido.
A voz exasperada de Agatha combinada com a animosidade que parecia exalar do seu corpo, contaminando o ambiente fez com que os iniciais propósitos de Ethan despertassem com vigor renovado. O seu rosto fascinante podia ser um perigo à espreita, ameaçando derrubá-lo. Mas, felizmente, sua personalidade repudiável era um eficaz antídoto.
- Você vai ficar aí parado como uma estátua?
Ah. Inestimável antídoto.
- Perdoe-me. - ele se apressou em dizer. - Eu não pretendia importuná-la.
A resposta abandonou seus lábios como se possuísse vida própria. Ethan se amaldiçoou em silêncio por cada uma daquelas palavras ponderadas. Não era o que ele deveria ter dito, ele soube no momento em que a viu revirar os olhos, desprezando sua presença. Inferno! Inferno!
Oh, isso. Praguejar era promissor. O futuro conde não costumava permitir render-se a esse tipo de comportamento inadequado, ainda que em pensamento.
Sentindo-me um autêntico rebelde, Ethan se perguntou se não deveria praguejar em voz alta, apenas deixar a palavra sair livre e espontânea. Certamente Agatha não esperaria por isso. Seus lábios se entreabriram lentamente, a língua se moveu incerta no interior de sua boca. Sim, ele poderia fazer isso. Retribuir insolência com insolência. Ser completamente impecável e cordial não lhe garantiria a vitória nessa pequena guerra que estavam travando.
Ele tentou. A boca se abrindo esperançosamente... Entretanto, um chiado indefinido foi tudo o que conseguiu, o que era ridículo. Por Deus! Ele era um homem formado e estava agindo como alguém que não aprendeu a falar devido a um atraso mental.
Ele não iria desistir na primeira tentativa como um fraco. I-N-F-E-R-N-O-! A palavra estava pronta dentro de sua cabeça, tudo o que ele precisava fazer era enviá-la até a ponta da língua e depois empurrá-la para fora.
Ele abriu novamente os lábios...
E nada.
- Você se sente mal? - a voz insolente de Agatha chegou até ele. A expressão dele naquele momento realmente não era o auge da sua beleza. - Por que se você veio aqui me acusar de ter envenenado a sua comida, esteja ciente que encontrar um veneno realmente mortal não é tão fácil como nas fábulas literárias. Então não crie teorias.
Ali estava. Outra excelente oportunidade de Ethan manifestar toda sua exasperação soltando um xingamento digno de um marinho de navio cargueiro. Mas sua mente programada não permitia. Porque Agatha era uma dama e ele um cavalheiro.
Cavalheiros não xingavam diante de uma dama.
Mesmo que a dama em questão merecesse.
Mesmo que ele desejasse muito.
Regras não eram moldáveis, ao contrariariam sua própria essência.
Ethan recuperou-se rapidamente e virou, ficando de costas para Agatha. Deu alguns passos à frente até chegar à uma roseira repleta de rosas brancas que tinham desabrochado com perfeição, e fingiu estar interessado nas flores.
- Eu só pensei em passear um pouco pela propriedade. - ele disse a primeira coisa que veio à mente.
Ethan morreria antes de deixar que Agatha descobrisse algum de seus pensamentos naquele instante. Ela não saberia o quanto ele se sentia asfixiado mesmo estando ao ar livre, num dia adorável de primavera. Ela não saberia que ele se sentiu enclausurado no próprio corpo sem ter forças suficientes para sair.
Ele se inclinou, sentindo o cheiro de uma rosa.
Ela não saberia que ele não sentia nenhum aroma enquanto fazia aquilo, porque todos os seus sentidos estavam congelados de amargura.
Ethan virou para o lado e inclinou-se para 'não' sentir o perfume de um lírio, porque tudo que ele tinha naquele momento era a aparência.
E um interior vazio.
Minutos mais tarde, ele ouviu um farfalhar de tecido e em seguida a voz de Agatha.
- Vou deixá-lo aproveitar o meu jardim a sós. - ela pontuou expressivamente a palavra "meu" e ele revirou os olhos. - Não arranque nada do lugar.
Era impressionante como os maus modos e impertinência vinham tão naturalmente para Agatha Crane, refletiu ele, incapaz de conceber que um dia se imaginara casado com ela, ambos vivendo em sua magnífica casa de estilo Georgiano, com setenta e quatro cômodos elegantemente mobiliados.
Se por um lado Ethan admirava mulheres que demonstravam inteligência e vivacidade, que sabiam manter uma conversa estimulante e ainda portar-se com recato, por outro lado, ele detestava mulheres cheias de artifícios e estratagemas para conquistar a atenção de um homem e conseguir um tão cobiçado título.
Agatha estava do lado errado, obviamente.
Aquele joguinho para atraí-lo não iria levá-la a lugar nenhum.
Ela o estava provocando.
Será que gostaria de ser provocada?
- Fique mais um pouco. - ele pediu, a voz aveludada genuinamente transmitia a impressão que a presença de Agatha era desejada.
Os passos da jovem silenciaram.
- Eu prefiro ir. - ela respondeu, áspera.
Ele riu. Não porque havia algo engraçado naquela frase. Ele riu dela.
- Antes de você ao menos se preocupava em disfarçar seus verdadeiros sentimentos com sorrisos afetados e uma tagarelice entediante. - ele disse e voltou a olhar para ela. - Está pronta para confessar que o acidente no lago e os demais eventos foram todos obras de suas mãos?
Ela deu de ombros.
- Creio que você já tinha deduzido isso há algum tempo.
Ethan assentiu.
- Você não foi muito sutil.
- Não era minha intenção ser. - Agatha disse atrevidamente.
Nenhum pedido de desculpas então? Ela falava de forma orgulhosa, como se não tivesse agido de maneira inapropriada todos aqueles dias. O comportamento de uma jovem refletia na opinião que se formaria sobre sua família, e se Agatha ousasse agir assim em Londres, condenaria toda sua família ao ostracismo, comprometeria o futuro da irmã que ainda não estava em idade de se casar. E tudo por um capricho tolo e inconsequente.
Lorde Denbrook ficou imensamente tentado a proclamar o sermão que se construía dentro de sua mente. Se ele escolhesse se portar como habitualmente agia, desferiria palavras mordazes para colocar a jovem em seu devido lugar, lançaria um olhar de desprezo capaz de congelar o sangue de um mortal e se retiraria dali para nunca mais conceder sua atenção à jovem.
No entanto, Ethan resolver romper o padrão.
- Você me impressiona, Agatha. - negativamente, ele pensou. Contudo, ela não precisava saber naquele instante.
Os seus lindos olhos cresceram alguns centímetros, uma reação supresa, que ela logo fez questão de disfarçar, torcendo o nariz. Mas ele viu.
Agatha não disse nada, então Ethan soube que era hora de agir.

O que ele estava fazendo?
Com a respiração curta e entrecortada Agatha olhava para ele, como se uma nova cabeça tivesse brotado em seu pescoço. A intensidade dos olhos dele, que nunca desviavam dos dela a assustaram naquele momento. Ela tentou desviar o olhar, mas estava prisioneira na prata derretida que a escrutinava abertamente.
Fuja, Agahta, fuja! Por mais que seu interior clamasse, ela não se sentia capaz de dar um passo.
Ele continuava olhando para ela, sem dizer uma palavra. Aquele era o tipo de diálogo que a jovem em toda sua inocência e inexperiência desconhecia. Os sentimentos oscilavam dentro de si, desestabilizando o seu coração, como se Ethan estivesse no comando de tudo. Santo menino Jesus! Ele mal estava fazendo nada, e ao mesmo tempo tudo se agitara.
Ela viu, perplexa quando os olhos deles baixaram pelo seu corpo, demorando-se no seu decote. Não quis corar como uma boba, no entanto, seu rosto foi desobediente. Ethan, então, começou a se mover, eles ainda estavam distantes um do outros, contudo, por precação ela deu uma passo para trás. Em um instantes fugaz, ele virou as costas para ela e inclinou, voltando a dar atenção somente as flores.
Graças a Deus.
Ela suspirou aliviada. Aqueles cabelos cor de chocolate e rosto de traços proeminentes eram... eram... Agatha não soube definir. Mas seu coração estava acelerado e aquilo era alerta suficiente.
Um movimento despertou a jovem de seus pensamentos. Era Ethan se aproximando. Seu olhar primeiro se fixou no rosto dele, belo e misterioso. Depois foi descendo até chegar às suas mãos.
Oh, não, não, não. Não!
- Seu... Seu... - ela tentou se expressar, mas a fúria que sentia a fez perde-se de sua razão. - Eu o proibi de arrancar! Seu... Seu... Como ousar destruir meu jardim?!
Rápido e silencioso, como um lobo feroz, Ethan acabou com a distância que os separavam. Ela estava trêmula. Provavelmente de ódio. Ou talvez algo mais. Com gestos propositalmente lentos, sua mão for erguendo-se no ar. Ele estava prestes a tocá-la, e de uma forma inexplicável, soube que aquela seria uma excelente vingança. Com delicadeza, quase como se a reverência com a carícia, Ethan Denbrook, afastou um cacho desprendido do coque de Agatha, conseguindo total acesso a sua diminuta orelha. A outra mão segurava uma bela flor, que ele não sabia o nome, mas era a que mais parecia combinar com aqueles cabelos expressivos.
- Foi por uma boa causa. - ele sussurrou próxima ao ouvido dela. Uma lufada de ar quente fez a pele de Agatha arrepiar.
Então ele posicionou a flor sobre a orelha da jovem, adornando-a como uma obra-prima da natureza. Em seguida, afastou-se apenas o necessário para admirá-la. A mais bela obra da criação. E naquele instante ele não sabia se se referia à jovem ou à planta.
- Foi por um boa causa certamente. - ele repetiu, passando a língua deliberadamente sobre os próprios lábios.
Agatha paralisou.
Ela chegou a pensar que ele devolveria o favor, lançando-a no lago também. Mas o que ele pretendia era pior. Ethan Denbrook iria afogá-la no mais profundo oceano.
Agatha não sabia nadar.

Como enlouquecer um condeOnde histórias criam vida. Descubra agora