Capítulo 14

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Agatha ainda não havia se recuperado da mudança de ares que envolveu o  momento. Seu atordoamento era tanto que sequer deu-se conta que a distância que separava seus corpos foi diminuindo à medida que Ethan foi inclinando-se em sua direção.

Foi um ato impulsivo, do quão certamente iria se arrepender depois, no entanto, no instante em que seus lábios tocaram os dela, nada povoava à mente de Ethan, além da compreensão inegável de que estava louco por ela.

Foi um beijo enérgico, sensual e repleto de significado. Ethan queria deitá-la no chão daquela carruagem e fazê-la sua ali, porém, refreou seus impulsos mais primitivos. Por ora, beijos bastariam para satisfazê-lo. Com a língua em chamas, ele lambeu o lábio inferior da boca dela até que  cedesse e se abrisse para recebê-lo.  Ela permitiu e Ethan deliciou-se com o sabor doce de Agatha. Era um gosto novo e viciante. Quanto mais provava, mais desejava provar.

A mão dele estava apoiada em sua nuca. Os dedos longos acariciavam a pele sedosa e cálida . Todos os sons – o trotar da parelha de cavalos que conduziam a carruagem, o canto dos pássaros, o fluir das águas que formavam um riacho próximo de onde eles passavam, o uivo dos ventos – todos os cheiros – o aroma de uma plantação de eucalipto à beira da estrada, a fragrância de flor que exalava do corpo de Agatha – foram negligenciados naquele momento. Tato e paladar eram os únicos sentidos que compunham o corpo de Ethan. Tocá-la. Prová-la. Foi como se todo o propósito de sua vida se restringisse àquele arroubo apaixonado. Tanto tempo se passara desde que Ethan tivera uma mulher em seus braços. Ele havia se esquecido a sensação de leveza e contentamento. A percepção de sentir os próprios batimentos cardíacos, o ar inflar seus pulmões, e em seguida, esvaziá-los lentamente. Seu corpo vibrava. 
Então, isso era se sentir vivo?
A carruagem, que vinha seguindo viagem tranquilamente, passou por um trecho pedregoso da estrada, fazendo com que todo o veículo sacolejasse desconfortavelmente. Agatha tentou equilibrar-se no banco, contudo, aquela não era a ocasião mais recomendável para  confiar em seu senso de percepção. Ela sentia-se meio tonta desde o instante em que Ethan pressionara sua boca na dela. Um solavanco forte fez com que os seus lábios abandonassem o deles repentinamente, lançando-a contra a porta da carruagem. Seu braço esquerdo chocou-se com violência contra a madeira sólida.

– Ai!  – ela exclamou, segurando o braço machucado protetoramente. – Carruagem estúpida!

Os olhos de Ethan abriram-se,  o mundo começou  a tornar-se perceptível outra vez. Ele aproximou-se  e sentou ao lado de Agatha.  Observou-a enquanto ela resmungava palavras indignas para uma dama e acariciava o próprio pulso.  Com cautela, ele cobriu a mão dela com a sua e começou a examiná-la, em busca do menor sinal de lesão.

– Não me parece quebrado. – analisou ele. – Mas está um pouco inchado nesta região.

Ele a tocou para demonstrar o lugar a qual mencionara.

– Uhum... – ela balbuciou pensativa.

– De qualquer forma um médico poderá lhe oferecer um diagnóstico mais preciso. Você sabe se há algum médico perto da casa do Sr. Bridgerton?

– Sim, o senhor Lanchester. No entanto, não será necessário, milorde. – ela recuou o braço, afastando-o de seus cuidados. – Não foi nada grave. 

– Eu insisto que você seja examinada. – ele contrapôs.

– Eu ficarei bem. – ela insistiu.

– Deixe de ser teimosa, Agatha.

– Um beijo não lhe faz de mim sua propriedade! Se eu digo que estou bem, você deve considerar a minha palavra.

Suas palavras foram premeditadamente mordazes. Ela queria incitá-lo, enfurecê-lo, criar uma nova discussão entres eles. Dessa forma, teriam algo com que preencher o silêncio, suas mentes seriam direcionadas ao calor do embate, até que outras espécies de calotes pudessem ser esquecidas. Agatha necessitava que ele a olhasse novamente com seu desprezo pontual, a expressão taciturna, reprovando sua personalidade efusiva. Se eles não brigassem naquele exato momento, ela estaria perdia. Se perderia em seus sentimentos, examinando o beijo transbordante de desejo e a forma carinhosa como foi tocada. Ela cairia no precipício de suposições românticas, voltando a ser aquela jovem tola que desperdiçava seu papel de carta. Que gostaria de pular de um precipício? Não Agatha, certamente. Afinal, era isso que Ethan Denbrook representava: um desperdício incalculável de papel de carta.
De lágrimas...

Como enlouquecer um condeOnde histórias criam vida. Descubra agora