Capítulo 18

7.6K 883 33
                                    

– Elliot... – Ele repetiu com ar pensativo, buscando em sua memória alguma lembrança que remetesse àquele nome, ou a um rosto vagamente conhecido, uma apresentação em alguns dos muitos bailes em que compareceu. – Não o conheço.
– Sorte a dele... – Agatha murmurou para si, apenas movendo os lábios em uma mímica discreta.
Ela intercalou o peso do corpo entre suas pernas, nervosamente, enquanto pensava no que dizer.
Necessitava de uma elaborada mentira.
Ethan a olhava com aquele semblante descrente, pronto para detectar um passo em falso.
– Elliot é um estudioso ávido por conhecer mais do mundo e seus mistérios, certamente este é o motivo para que você não o conheça, ela não desperdiça seu tempo andando pelos círculos dessas pessoas pedantes que apreciam exageradamente a própria importância.
O queixo dele se retesou ao ouvir a eloquente sua declaração, talvez porque ele enxergassem verdade em suas palavras.
– O nosso compromisso ainda é um segredo. No entanto, Elliot me deu sua palavra que quando voltar falará com meu pai, e então poderemos marcar uma data. Ele está em uma viajem expedicionária, ampliando seus horizonte para a cultura e as artes.
– Então não existe de fato um compromisso firmado. – ele salientou, olhando-a por cima.
As delicadas mãos de artista dela se cerraram em um punho apertado, fazendo com que as dobras do dedos ficassem da cor de um vela.
– Você se engana, milorde. Elliot e eu temos um compromisso, porque a palavra dele é firmada em honra e idoneidade. Nem todo homem pode orgulhar-se do mesmo. Talvez você conjecture que ele irá encontrar em seu caminho uma moça mais apropriada e desejável do que eu, mas tal pensamento demonstra uma falha de seu caráter e não dele.
A última frase saiu mais ríspida do que suas antecessoras, e ele sentiu um peso incômodo no seu corpo. Ninguém nunca o havia ofendido de maneira tão direta, sustentando o olhar no seu, e tampouco com tanta franqueza como ela fez.
A garota não o temia, ele percebeu com um misto de indignação e respeito.
Analisando a vida pelos olhos dela, o pior que seu comportamento tolo poderia ocasionar o ostracismo que a sociedade impunha a quem lhe desagradasse. Entretanto, isso para ela seria mais uma benção do que uma maldição. Se as pessoas que a amavam continuassem amando-a, Agatha Crane não se afligiria com os demais.
Quando voltaram para a casa, Ethan ainda tentava encaixar partes que, à primeira vista, pareciam incongruentes. A maneira como ela se entregou ao beijo em um abandono apaixonado, e depois a forma como o rechaçara, nada parecia lógico. E ainda tinha que conviver com a novidade de um misterioso noivo. No dia inteiro que havia se passado, sua mente não o incitou em nenhum momento para que ele averiguasse sobre o que ela dissera. Ele não perguntou a ninguém, nem mesmo introduziu sutilmente o assunto em uma conversa, porque tinha como esclarecida que tudo não passara de um invenção da mente desvairada dela.
Mas agora não tinha plena convicção.

Ethan estava deitado em sua cama, observando a projeção da sombra de uma árvore criando desenhos no chão de madeira, quando um pensamento voou até sua mente. Talvez existe de fato alguém chamado Elliot do outro lado do oceano, escrevendo cartas de amor para sua prometida, sonhando com seus belos cabelos de fogo entrelaçados em seus dedos. A simples lembrança da beleza de Agatha fazendo o coração de seu pretendente acelerar...
– INFERNO! – ele praguejou em voz alta, só percebendo que o havia feito alguns segundos depois.
Um homem como ele não perdia as rédeas das próprias emoções, em especial se a causa fosse mulheres que não lhe eram adequadas, que não tinha as virtudes desejáveis, que não lhe transmitisse sobriedade e sensatez. E ele poderia facilmente romper a noite enumerando em minúcias a falta de atrativos que a ruiva irritante possuía, mas o simples fato de destinar tantos pensamentos para uma só pessoa provava ser algo alarmante.
Então, avaliando tudo friamente, só havia uma decisão a tomar.
Ele iria embora no dia seguinte e esperaria até que a próxima temporada começasse, para arranjar uma noiva nos moldes que sempre desejara.

Como enlouquecer um condeOnde histórias criam vida. Descubra agora