Capítulo 22

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— Queiram me dar licença, cavalheiros.
Com uma pressa alarmante, Agatha desvencilhou-se do toque dos dois homens e afastou-se com passos largos, sem dar-se tempo de reparar os olhares intrigados que toda aquela cena despertara. Quando passou pelas portas duplas que levavam para fora do salão, soltou um suspiro lento e profundo. O que tinha acontecido ali?
Seus pensamentos ainda estavam atrelados aos últimos minutos de sua vida, não parava de ponderar sobre a atitude escandalosa de Ethan. Ele parecia tão incomum à própria natureza sempre comedida e engessada em ditames sociais. O olhar dele, recordava-se Agatha, era uma profusão de emoções confusas e insondáveis. Estava assustadoramente diferente.
​Verdade fosse dita, a própria Agatha naquele instante era uma mescla de confusão e consternação. Também não se sentia a mesma. Seria inútil, diante de seu estado, tentar entender algo. Ela precisava se afastar, estar em silêncio, carecia do abrigo que só a solidão lhe oferecia. Deixando para trás seus modos de dama, pôs-se a correr afoitamente pelos corredores até que não muito tempo depois estava atravessando as sebes que escondiam seu jardim do restante do mundo.
​Sentou-se em seu banco de pedra e inspirou profundamente, afogando-se no aroma das folhas. Fechou seus olhos ao ouvir som de passos. Não havia nenhuma gota de surpresa quando sentiu a presença dele preencher cada canto do jardim. De alguma forma, ela tinha a plena convicção que ele viria em busca dela. E que saberia exatamente onde encontrá-la.
​Assim que o percebeu-o bem próximo, abriu os olhos, que flamejavam de raiva.
— Você... você... — ela reverberou. O sangue fervendo sob sua pele, dificultando a formação de uma frase coerente. — Por Deus! Por que você fez aquilo?

Ethan se manteve em silêncio, compreendendo que ela ainda não estava pronta para ser interrompida.

— Você estava com ciúmes — ela o acusou, ficando de pé. — e queria marcar seu território. Que homem tolo! Você não devia ter se exposto ao ridículo!

Agatha estava brava. Possessa pela fúria. E Ethan sentiu certo alívio pelo fato de ela não se sentir vitoriosa ou um pouco satisfeita por ter sua atenção disputada por dois homens. Isso dava a ele a certeza de que ela não queria deixa-lo com ciúmes, provocando-o ardilosamente a fim de que a imagem dela e do Sr. Elliot o castigasse por todos os desacertos cometidos desde que pisara ali dias antes.

— Perdoe-me se eu a ofendi com meu comportamento. — ele disse com cautela e sinceridade. — Nunca foi minha intenção humilhá-la, senhorita Crane.

Ela o fitou incrédula. E ele se perguntou se talvez não fosse melhor falar menos e escutar mais.

— Você não vê o que fez?! Não imagina o que dirão de você? — Agatha proferia palavras trêmulas e estridentes. — Levará menos de uma semana para o ocorrido chegar a Londres. E então todas as vezes que você entrar em um clube ou em um baile os murmúrios se iniciarão e você será a chacota da temporada!

O coração dele se derreteu de ternura. A mulher mais linda que Deus desenhara estava descontrolada, exasperava, porque lamentava a humilhação que ele pudesse vir a passar. Ah, maldição, a verdade o atingiu como uma raio: certamente ela era o plano principal; o amor arrebatador e inexplicável. Isso o apavorava, mas, no fundo, era impossível não vibrar com aquele sentimento.

Que Deus lhe ajudasse. A primeira torre do seu castelo de areia estava erguida.

Ele deu alguns passos precisos em direção a ela, e sentiu-se abençoado quando Agatha não recuou.

— Já que estou destinado a um futuro vergonhoso. — ele sorriu para ela, que ergueu as sobrancelhas, surpresa. — Acho melhor você conceder-me uma dança. Assim todo o recente escândalo terá valido a pena.

Ele a ouviu bufar, descontente.

— Você está considerando isto divertido?! — a respiração curta e acelerada dela encheu Ethan de esperanças. — Ou os meus olhos acabam de me pregar uma peça ou você está mesmo dizendo a palavra escândalo com um sorriso imoral no rosto. Você é um louco!

Como enlouquecer um condeOnde histórias criam vida. Descubra agora