- Está zombando de mim, milorde. - ela o acusou, empertigando-se.
Ethan balançou a cabeça.
- De maneira alguma. - ele respondeu, nunca desviando o olhar do dela. - Estou apenas corrigindo um erro do passado.
Agatha prendeu o fôlego, desejando que aquela palavra nunca houvesse saído dos lábios dele. Passado. Aquele tempo não poderia ser reparado. Ela sabia. Ele deveria saber. E mesmo assim Ethan Denbrook agia de modo estranho e condescendente.
- Esse é apenas o menor deles... - ela resmungou, mal-humorada.
- O que disse? - ele inquiriu.
- Nada.
- Você disse algo. - Ethan retrucou, inclinando-se para a frente, de modo intimidante.
- Sim, disse. - Agatha confirmou, e também inclinou-se para frente, demonstrando que não seria intimidada por quem quer que fosse. Quando estavam parados a uma curta distância, travando uma guerra de olhares, a jovem acrescentou: - Mas estava falando comigo mesma, desta forma, o que eu disse não lhe diz respeito.
- Você é muito insolente, senhorita. - Ethan ressaltou, áspero. - Os anos lhe trouxeram pouco juízo.
- Praticamente nenhum, na verdade. - ela o corrigiu com petulância. - Felizmente, minha personalidade é outra coisa que não lhe diz respeito, Denbrook. Você não é nada meu.
Ela praticamente cuspiu cada letra do nome dele, fazendo com que algo dentro de Ethan começasse a perder o controle. Basta! Aquele jogo havia se tornado desinteresse e sem propósito. À princípio, ele acreditou que ensinaria uma bela lição àquela jovem, deixando-a vulnerável, para que compreendesse que era uma tola ao tentar atrair sua atenção sem nenhum pudor e decoro. Contudo, era inútil tentar ensinar qualquer coisa àquela criatura voluntariosa.
- Não sou, de fato. - ele concordou, a voz fria e cortante. - E jamais serei, senhorita Crane. Então aconselho que desista de uma vez por toda deste plano.
Ela deu de ombros.
- Eu já desisti. - afirmou Agatha, interpretando erroneamente as palavras dele.
Pensando mais atentamente, ele tinha que admitir que fazia alguns dias que não havia sido alvo de nenhuma das tramas da jovem. Ela até se comportara de modo razoavelmente aceitável, Ethan reconheceu a si mesmo, à contragosto.
- Excelente. - ele disse.
Agatha revirou os olhos, recostando-se novamente no assento. Se não fosse a promessa que havia feito a sua mãe...
- Essa ridícula estratégia usada para me atrair nunca obteria êxito. - Ethan completou, com ar de sabedoria.
- Como?
Ele não entendeu o questionamento da jovem.
- Acredito que você tenha chegado a essa conclusão sozinha, uma vez que desistiu de conquistar-me.
- Como? - a voz dela saiu quase um grito.
Com o cenho franzido, ele a observou em silêncio por um momento, tentando desvendar do que se tratava aquela nova jogada. Ela tentaria mesmo negar algo que acabara de reconhecer?
Aquela mulher era cansativa.
- Escute bem, senhorita Crane...
Ela não escutou. Ela falou, em vez disso:
- Eu me recuso a ouvir loucos, milorde. E você certamente perdeu a sanidade em algum momento durante a viagem, se pensa que eu desejo conquistá-lo. Você seria o último homem na Inglaterra que eu desejaria conquistar!
- Não foi o que me pareceu. - ele retorquiu, uma máscara fria e aborrecida cobrindo-lhe o rosto.
- Não? - Agatha estava genuinamente confusa. - Então me explique, milorde. Como você chegou a ilusória conclusão que eu gostaria de atraí-lo?
Ele bufou, o que era tão atípico de sua compostura.
- Ora, todas aquelas atitudes desesperadas para que chamar minha atenção foram um bom indício. Primeiro o desmaio, uma ideia nada inovadora. Em seguida, aquela aula insuportável de música. - ele pontuou, fazendo um gesto desdenhoso com a mão. - Uma armadilha para que eu fosse até a sala de música e acabássemos nos encontrando mais vezes que o de costume.
Ela abriu a boca para contestar, mas ele a silenciou com o olhar.
- Depois houveram todos aqueles pequenos incidentes para que eu me sentisse mal recebido e decidisse partir sumariamente, e claro, adiantando assim um possível pedido de casamento.
Os olhos dela se arregalam, surpresa, mas ele ainda não havia terminado.
- E por último, aquela cena patética no lago. Foi evidente a forma como fingiu tropeçar apenas para forçar um contato físico mais íntimo entre nós. - sua expressão desgostosa encarava a face horrorizada da jovem. - Depois que conversei com o Sr. Crane, tudo passou a fazer sentido. Você obviamente tem sentimentos por mim...
Ela não pôde mais suportar ouvir uma vogal em silêncio.
- Você é louco! - ela exclamou, sobressaltada. - Presunçoso e louco! Eu nunca pretendi "forçar um contato mais íntimo entre nós", eu o empurrei! Em-pur-rei, milorde. Para que você caísse no lago e com sorte morresse afogado!
Agatha tampou a boca com a mão imediatamente, arrependendo-se das palavras cruéis. Não devia ter mencionado aquilo. Por mais que ele a exasperasse, não era certo desejar a morte de ninguém. Ela sabia dolorosamente disso. Santo menino Jesus! Ela sempre acabava perdendo o controle ao lado dele.
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Como enlouquecer um conde
Fiksi PenggemarAgatha Crane vive uma pacata e feliz vida no campo, até que um dia uma visita inesperada e inoportuna ameaça pôr fim à sua tranquilidade. Desesperada, a jovem impetuosa fará o que estiver ao seu alcance para afastar um certo hóspede indesejado, mete...