— Ele está indo embora.
Foi a primeira frase dita por sua mãe assim que atravessou a porta do seu quarto. Agatha sabia de quem ela se referia e, por este motivo, esforçou-se para não mostrar nenhuma reação exagerada. Estava sentada junto a sua penteadeira enquanto sua criada pessoa terminava de aprontar seu cabelo, e pôde ver através do reflexo no espelho que a mão a observava, à espera de uma mínima ação que indicasse que Agatha havia lhe escutado.
Isabella deu alguns passos incertos até a filha.
— Tudo foi muito repentino. — disse. — Ethan foi procurar seu pai hoje, pela manhã, em seu escritório. Desculpou-se por ter que partir, mas alegou que assuntos urgentes requeriam sua presença em Londres o quanto antes.
O rosto de Agatha estava inexpressivo quando falou:
— É algo comum, que não deve de maneira alguma nos abalar, mamãe. Visitas são companhias transitórias em nossa vida, é seguramente esperado sua partida.
— Ah, sim, você está certa, mas esperava que ele pudesse ficar um pouco mais. — Isabella agora estava ao lado de sua filha, a mão afetuosamente apoiada em seu ombro. — Nós estamos todos reunidos na salão verde. Você deve descer e se despedir dele.
Agatha fez uma careta.
— Foi opção de Lorde Denbrooke esta retirada inesperada. Não vejo porque preciso alterar meus planos para hoje apenas para me dobrar um decisão que deve influenciar somente a vida dele, e em absoluto a minha.
Apenas um olhar apurado de uma mãe poderia ouvir palavras não ditas, e detectar sentimentos não expressados. Em silêncio, Isabella esperou que a criada terminasse seu trabalho e, após a conclusão, fez um gesto sutil para que se retirassem. Então, inspirou profundamente, e ergue o queixo de Agatha com um dedos, nivelando seus olhares.
— Você irá descer comigo, Agatha. E você entrará naquela sala sorridente e se despedirá de Ethan, desejando-lhe uma boa viagem e agradecendo sua companhia pelos os últimos dias. — como Agatha não parecia nada contente com aquele plano, ela continuou, dessa vez, com mais clareza. — Se fugir dele agora, acordará arrependida amanhã. Caso não se despeça, poderá levar Ethan a se questionar sobre o que a impediu. Você decerto não quer isso. Enfrente-o. — um clarão de entendimento despontou nas feições da jovem. — Ele crê que não lhe custará muito se afastar de você? Bem, mostre a ele, que também não lhe será nada dificultoso vê-lo ir.
Era uma daquelas ocasiões em que Agatha se sentia imensamente grata por sua família. Depois do seu comportamento reprovável naquele últimos dias, era de se esperar que a partida de Ethan pesasse contra ela, e seus pais certamente tinham o direito de repreendê-la, até mesmo de castigá-la. Mas ali estava sua mãe, dando-lhe apoio incondicional.
— A senhora tem razão. — concordou ela, e, em seguida, ficou de pé. — Vamos logo acabar com isso de uma vez.
Isabella sorriu em aprovação.
— Antes, precisamos trocar seu vestido. — dito isto, ambas encaram o vestido simples de musselina. — Você precisa tripudiar um pouco do homem.
Agatha queria dizer a mãe que um vestido mais elegante e bonito não surtiria qualquer efeito em Ethan, mas optou por permanecer em silêncio. Não fez nenhuma objeção quando sua mãe escolheu um belo tecido de seda azul cobalto, uma verdadeira obra-prima confeccionado pela costureira do condado, e que ela ainda não havia achada ocasião para usar.Depois que a mãe ajudou a se trocar e ela sentiu mais confiante com sua aparência destacando o melhor dos seus atributos, acompanhou Isabella até a porta. No entanto, antes de deixarem aquele aposento e descessem as escadas, Agatha sabia que precisaria de um último gesto de lealdade de sua mãe.
— Mãe, preciso que faça algo por mim. — anunciou e com um meneio de cabeça, Isabella a encorajou a continuar. — Você provavelmente concluirá que estou louca, ou bem perto disso. Mas eu dependo de seu auxílio para controlar uma... pequena mentira que fugiu ao meu controle. Se em algum momento, Lorde Denbrook introduzir o assunto do meu compromisso com um certo... Senhor Elliot. — fez uma pausa, começando a corar. — E caso ele mencione algo sobre um possível noivado, será imprescindível que a senhora não me desminta, ou pareça surpresa.
Isabella ergueu uma sobrancelha, em total estado de espanto.
— É exatamente essa expressão que a senhora deve evitar — alertou ela, soltando um risinho nervoso. — Juro que lhe explicarei tudo mais tarde. Agora preciso que a senhora minta, dissimule e pareça convincente. Pode fazer isso?
— Nem mesmo você se dará conta que estou mentindo. — assegurou, sorrindo maliciosamente.
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Como enlouquecer um conde
FanfictionAgatha Crane vive uma pacata e feliz vida no campo, até que um dia uma visita inesperada e inoportuna ameaça pôr fim à sua tranquilidade. Desesperada, a jovem impetuosa fará o que estiver ao seu alcance para afastar um certo hóspede indesejado, mete...