"Querido Ethan,
Acabei perdendo a conta de quantas cartas trocamos durante os anos. Certamente você saberá o número exato, honorável gênio matemático. No entanto, os números não são relevantes. Não para mim, ao menos.
O que me impressiona é a quantidade de palavras que eu escrevi sem realmente lhe dizer o que sempre quis. Ah, sim, eu já lhe declarei em várias ocasiões distintas o meu amor, quando era ainda uma criança voluntariosa. Não sei ao certo se uma criança pode se apaixonar, sendo que ainda não compreende realmente tais sentimentos. Talvez eu não tenha te amado desde os cincos anos, afinal. Pode ter sido algum encantamento juvenil tolo e inocente. Mas eu venho analisando meu próprio coração e tenho pensando que há uma probabilidade de que eu tenha te amado desde sempre. E a única explicação que me vem à mente é que minha alma o reconheceu no exato momento que o viu. São apenas teorias não comprovadas, evidentemente.
O fato é que neste instante eu amo você, e tenho como provar. O meu corpo, meu coração, meu espírito são provas dos sinceros sentimentos.
Sei que uma jovem não deve dizer tais coisas a um cavalheiro, muito menos se não há entre eles algum entendimento nesse sentido. Mas, levando em consideração que eu cresci ouvindo minha mãe declarar seu amor ao meu pai, e ele sempre sorria ao ouvi-la, eu presumi que há uma chance, ainda que pequena, que você também sorria ao ler essa carta.
Decidi ser corajosa, e confidenciar-lhe o que sinto, na esperança que você sinta o mesmo. Às vezes, enquanto estou lendo suas cartas, me apercebo examinando as entrelinhas, e penso ver um pouco de sentimento oculto. Espero não estar equivocada. Se estou, por gentileza, me desiluda de uma vez por todas. Não consigo mais conviver com a incerteza.
Eu tenho amado você, Ethan, por exatos seis mil duzentos e catorze dias, se consideramos que eu te amo desde sempre.
Eu tenho amado você, Ethan, por exatos quatro mil trezentos e oitenta e nove dias, se a hipótese for que eu o amo desde os meus cinco anos.
Esses números significam algo para você, querido?
Seguirei te aman..."(Carta escrita por Agatha Crane, em dezembro de 1867. Correspondência extraviada perto dos arredores Surray. Nunca entregue.)
"Creio que esta carta está se alongando mais do que deveria. Acho que esse estado de homem apaixonado não me cai bem. Pareço um tolo, que mal consegue andar com as próprias pernas. Espero que em breve você venha a Londres e possa conhecer minha adorável Sarah. Vocês serão boas amigas, certamente. Teremos um noivado longo, ela quer um casamento digno da realeza, e como eu quero que ela tenha tudo o que deseja, cedi a sua vontade. Por isso, creio que casaremos na próxima temporada e será exatamente quando você estreará na sociedade, de modo que me sentirei honrado se você vier ao casamento.
O anúncio oficial ainda não feito. Haverá um baile na próxima quarta. Gostaria que você estivesse aqui parar partilhar da minha felicidade..."(Carta escrita por Ethan Denbrook, em fevereiro de 1868, na qual declara seu amor pela jovem Sarah Vermont, filha do visconde Rockingham.)
- Você espera que eu acredite que aquela senhora adorável com quem eu tomei chá há pouco fez tudo isso que me contou? - a voz incrédula de Ethan ecoou pelo escritório.
- Em minha narrativa eu ainda tentei poupá-lo mais sombrios. - Oliver respondeu, soltando um risinho, que significava que ele acabara de se lembrar de uma das artimanhas que sua encantadora, porém ardilosa, esposa.
Ele encarou o seu anfitrião seriamente, esperando que ele desmentisse todas aquelas histórias fantasiosas à respeito da própria esposa. Ele estava gracejando, claramente. Ninguém se casaria com um mulher que tentou enlouquecê-lo de todas as formas inimagináveis.
- Se é verdade o que me diz, por que o senhor escolheu casar-se justamente com ela? - perguntou.
Ethan quase se arrependeu da pergunta. Ele acreditou que sua perguntaria acabaria por constranger o senhor Crane.
- É claro que o senhor não precisa responder, se não desejar. Eu entendo que podem ocorrer situações comprometedoras que obriguem um homem a se casar...
Oliver o interrompeu prontamente.
- Eu me casei com Isabella porque era meu desejo, Ethan. - ele confessou, sem sentir nenhuma vergonha em externar seus sentimento. Algo que havia mudado com o passar dos anos. - E eu peço que enquanto estiver na minha casa, em contato direto com a minha jovem filha você esqueça o significado da expressão "situações comprometedoras.
Ethan assentiu, um gesto firme e resoluto.
- Claro, senhor.
- E quanto a natureza do meu relacionamento com Isabella - o Sr. Crane acrescentou. - Seria mais preciso dizer que me casei porque necessitava dela como as plantas precisam ser regadas com água e da luz do sol.
O jovem balançou a cabeça, tentando compreender.
- Certamente a senhora Crane é uma excelente anfitriã e cuida exemplarmente da administração da casa...
Oliver o interrompeu outra vez.
- Não é a esse tipo que necessidade que me refiro. - retrucou, esboçando o desenho de um sorriso no rosto.
O homem do outro lado da mesa revirou os olhos.
- Por favor, não me venha discorrer sobres suas intimidades com a senhora Crane. Seria estranho. Eu os conheço desde menino.
O pai de Agatha riu.
- O estou tentando lhe dizer com isso tudo é que minha filha está tem armado para o punir, mas, na verdade, ela o faz porque provavelmente sente algo por você.
O semblante de Ethan não se alterou. Talvez sua sobrancelha tenha se elevado um pouco. Mas foi um movimento quase imperceptível.
Ah, então a ruivinha insolente sentia algo por ele. Algo que não se assemelhava em nada com desprezo, pelo o que ele pôde perceber no tom sugestivo que o senhor Crane usara.
- Mas não se preocupe, meu rapaz. Hoje mesmo falarei com ela e a repreenderei severamente. Ela irá...
Finalmente chegou a hora de Ethan interromper o interlocutor.
- Não será necessário, senhor Crane. Eu posso me entender com sua filha perfeitamente. Não preciso de nenhum auxílio e interferência.
Os alertas de pai soaram em cada entrância da cabeça de Oliver. Aquilo não lhe agradou.
- Mas não foi você mesmo que insinuou que eu devia corrigir minha filha? - relembrou, com voz acusadora. - Inclusive você disse que se tratava de uma maneira de demonstrar amor.
Ah, mais isso foi antes.
Antes de descobrir que Agatha não era indiferente a ele.
E antes dele decidir mostrar a ela que a jovem deveria escolher com mais sabedoria com quem começar uma pequena guerra de vontades.
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Como enlouquecer um conde
Fiksi PenggemarAgatha Crane vive uma pacata e feliz vida no campo, até que um dia uma visita inesperada e inoportuna ameaça pôr fim à sua tranquilidade. Desesperada, a jovem impetuosa fará o que estiver ao seu alcance para afastar um certo hóspede indesejado, mete...