Capítulo 2

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A mulher, mesmo depois à certa distância, não soltou minha mão, tampouco deixou de me guiar entre as árvores altas.

A cada passo que dávamos em direção à sua pequena cabana, mais adentrávamos na floresta. Ela era bem escondida, e com toda essa neve, a cabana ficava ainda mais escondida, camuflada.

Ela abriu a porta para mim, deixando que eu entrasse antes. Assim que atravessei a porta, um calor sutil me acomodou.

Sua cabana era rústica e aconchegante.

— Sente-se ali. – apontou para uma cadeira antiga e de madeira – Vou explicar tudo.

Meio receosa, fiz o que me pediu. Aguardei por alguns segundos, até que não consegui mais segurar:

— Por que a senhora fez isso? Não entendo. O que quer de mim? – perguntei diretamente – Se for dinheiro, aviso logo que...

— Isso não tem nada a ver com dinheiro. – me interrompeu – Eu só não queria que você acabasse morta. É que... você me lembra tanto a minha filha.

— Morta? O que quer dizer? – perguntei – Não acho que alguém te lembrar um familiar seja motivo o suficiente para oferecer ajuda.

— Não é só por isso, mas eu lhe contei sobre a estória de minha mãe.

Apoiei as mãos nas pernas.

— Poderia apenas ser um conto. Uma lenda. – percebi algo – E antes de tudo: quem é a senhora?

Ela sorriu ternamente.

— Me desculpe por isso. Me chamo Rafi, e sou uma aldeã aqui nestas terras.

— Prazer, Rafi. Me chamo Rosalho. – ela concordou com a cabeça – Pode me explicar as coisas?

— Bem... Tudo começou quando a minha mãe era jovem. Quando as terras daqui eram mais populosas do que são hoje, a terra era fértil e as pessoas não precisavam se preocupar com muito.

"Um dia, uma mulher surgiu, estava se afogando no lago da região, e foi minha mãe quem a salvou. Ela lhe contou que era de um lugar diferente e minha mãe tinha certeza que ela não estava mentindo, afinal, ela era como você: não se parecia com as pessoas daqui.

A desconhecida contou algumas coisas sobre o lugar de onde tinha vindo, e minha mãe ficou encantada. Como é normal, a mulher queria voltar para casa, mas ninguém sabia como isso poderia acontecer. Elas seguiram até a cidade, e tiveram o azar de confiar nas pessoas erradas.

Havia lendas, de que em um tempo muito antigo, pessoas chegavam aqui, não se sabe como... Elas apareciam em lugares aleatórios da floresta. Outras lendas contavam sobre um homem, vindo deste mesmo mundo, que abriu na cidade uma livraria, e acreditando nas lendas, as duas seguiram até lá.

Elas pediram ajuda, e um livro que pudesse dizer como a mulher voltava ao seu mundo. O vendedor, percebendo que aquela mulher realmente não pertencia a este mundo, fingiu oferecer ajuda, dizendo que o chefe da cidade poderia saber como fazê-la voltar ao seu lugar. Pouco tempo depois ela desapareceu sem deixar pistas, e um comunicado foi emitido: 'Todas as pessoas, que da mesma forma que a jovem, não fossem daqui, deveriam ser imediatamente entregues a ele.'"

Ponderei por um instante, decidindo se acreditava ou não na estranha mulher.

— Se o que senhora me diz, for verdade, isso significa que não posso acreditar em ninguém deste mundo... E isso lhe agrega.

A mulher espantou-se por um segundo, mas logo entendeu meu ponto de vista.

— Entendo sua desconfiança, e concordo com ela. – disse – Mas acredite em mim, quando digo que não lhe farei mal. Não sou uma das pessoas que deve temer.

— Então... Digamos que eu possa confiar na senhora...

— Já disse que pode. – me interrompeu, levemente irritada – As pessoas não são confiáveis, até que se prove o contrário. Isso me inclui, mas eu não quero que tenha o mesmo misterioso destino que a outra mulher.

— Enfim... – retomei – Como me aconselha a voltar para casa? Há coisas muito importantes que eu preciso fazer... Preciso... recuperar algo. – minha voz diminuiu significativamente ao fim.

— Eu não sei... – seu tom se tornou triste e distante.

— O que sugere que eu faça, enquanto não posso retornar? – perguntei.

Lancei-a um olhar avaliativo, ainda não podia – e nem me permitiria – confiar totalmente nesta mulher.

— Por enquanto precisamos te manter em segurança... – disse, pensativa – Poderá viver como um de nós, como se pertencesse a este lugar. Lhe darei algumas roupas de minha filha... Posso dizer que é uma filha que foi morar em outro lugar... Que está apenas visitando...

— O que faremos caso alguém pergunte sobre mim? Afinal, sou uma... "filha desaparecida/moro em outro lugar" sua.

— Posso inventar algo, mas poucas pessoas me conhecem e a minha família. – avisou – Se dissermos que é minha filha, irão acreditar.

— Há coisas que eu precise saber sobre este mundo?

— Não chegue perto dos machos deste mundo, creio que sejam como os homens do seu: não prestam o chão que pisam, só pensam em acasalar e procriar. Somos jogadas para o canto quando nossos filhotes nascem, poucos se importam como o bem-estar da companheira.

— Por que está se referindo às pessoas como animais?

Ela me encarou com um olhar duvidoso, mas logo o mascarou com uma expressão tediosa.

— Isso não é importante, apenas faça o que lhe disse. Por favor, prometa que não se aproximará deles, sob nenhuma circunstância.

Por que me parece que você me esconde mais coisas do que conta?, pensei. Por que não está sendo sincera de uma vez só?

"A grande questão é: devo confiar em você, Rafi?"

Talvez meus pensamentos foram transferidos às minhas feições, pois Rafi voltou a me fazer prometer:

— Rosalho? – chamou – Rosalho, você precisa prometer!

— Hã... – comecei – Sim... e-eu prometo...

Ela sorriu, aparentemente aliviada.

— Isso é ótimo! – comemorou – Agora, vamos te vestir como uma aldeã. Aquele ali é o quarto de minha filha, pode pegar algumas roupas lá. – apontou para uma porta, que até então não havia notado.

— Me desculpe perguntar, mas onde está sua filha?

A senhora abriu a boca para me responder, quando uma porrada vinda da porta tomou conta do cômodo.

— Abram esta porta, agora! – vociferaram.

Rafi me olhou em total espanto, para logo falar mais baixo que um sussurro:

— Vá logo para aquele quarto! – sua voz continha extrema urgência.

Olá pessoal, então, irei começar ás postagens dessa história. Espero, sinceramente, que acompanhem participando, votando e comentando, por isso, podem começar a partir de hoje. Desde já agradeço, beijos, até aproxima.

📖 Recomendação para revisão: 📖

Beta/Revisor: @BeatrixHeloise

DarTaLivros,com os agradecimentos.

Coração de Gelo - Meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora