Capítulo 20

16.3K 1.6K 171
                                    

Para a minha surpresa os dias nesse mundo são calculados totalmente diferente, em relação ao mundo humano. Algo muito difícil de perceber, tanto que não sei identificar a quanto tempo estou aqui.

***

Com o humor diferente e certa animação, acordei determinada a encontrar uma maneira de sair desse inferno sem prejudicar a ninguém.

Entrei no banheiro e fiz as minhas higienes matinais, coloquei um vestido laranja de renda, que ao meu ver deixava-me uma graça e com cara de menina, ou seja, inocente. Olhei-me ao espelho e sem dúvida alguma, hoje estava bem melhor, as olheiras que normalmente residiam por baixo dos meus olhos, quase não se notavam e a minha pele já estava com seu aspecto normal. Lavei meus cabelos e fiz uma fitagem estruturada que deixaria-o com um aspecto bonito, e quando secasse, ficaria ainda melhor. Faltava apenas dar-lhe um pouco mais de volume.

Sai do quarto e enquanto caminhava pelo corredor, vi-o aproximar-se.

Aff, só me faltava essa – pensei.

Passei direto, mas claro, como isso não podia ficar assim por si só, ele pegou-me pelo braço e parou diante de mim.

— Onde é que a senhora pensa que vai sem comer nada? – questionou Bromo.

— Não te interessa. – Respondi e ele rosnou.

Espera! Rosnou? – pensei.

— Você gosta de testar a minha paciência. Fale! – Asseverou impaciente.

— Vou para o jardim. – Tentei despista-lo.

— Mandarei a serva entregar seu café lá. – Disse soltando-me e seguiu seu caminho.

O que deu nele? Só isso? Sem briga? Sem nada? Estranho.

Assim que cheguei ao jardim, que pela manhã é ainda mais bonito, comecei a procurar pelo bendito diário, e enquanto estava abaixada procurando pelo mesmo, entre as plantas e flores, a empregada apareceu.

— Senhora, aqui está o seu café. – Informou. – Onde é que o coloco?

— Coloque na mesinha do jardim, obrigada. – Falei enquanto disfarçava e fingia que colhia flores.

Assim que ela colocou o café sobre a mesa, levantei-me e sentei-me à mesa.

— Por que tanta comida? – Questionei, porém ela sequer teve tempo de responder, pois Bromo apareceu por trás dela.

— Irei comer com você, querida. – Declarou Bromo, sentando-se no banco.

Emburrei a cara, todavia não irei falar nada que mais um pouco e ele manda-me sair daqui e eu preciso achar o diário.

Em silêncio, começamos a comer, quando de repente Bromo tentou puxar conversa.

— Então, como chegou aqui?

— Você não é bom para conversa? – perguntei.

Quem em sã consciência perguntaria sobre um assunto que a outra pessoa não gosta de falar? – pensei para comigo.

— Você pode pelo menos tentar conversar? – Pediu ele.

Olhei para ele indignada, pois em verdade, não queria assunto, porém ele parecia a não perceber tal fato.

Soltei um suspiro, na tentativa de acalmar-me. De nada adiantaria brigar, muito pelo contrário, isso só iria me prejudicar.

— Também queria saber, até hoje não entendo. – Respondi a sua questão, pensativa.

— Normalmente, quando vocês humanos vêm para cá, é por um motivo em especial. – disse Bromo casualmente. E bem... Não respondi, não queria falar sobre isso com ele, mas ao que parecia, o meu silêncio servira de brecha para que ele prosseguisse com o assunto. – O que você fazia no seu mundo? – questionou. – Olhe para mim quando falo com você!

Ops! Parece que cometi um erro. – Sorri com o pensamento.

Um suspiro deixou os meus lábios e olhei para cima, deparando-me com duas esferas na tonalidade azul gelo, encarando-me.

— Era recepcionista no único hospital da pequena cidade em que morava.

— Você fazia alguma faculdade? – Perguntou comendo um pouco da salada de fruta.

— Sim, parei no segundo semestre de psicologia.

Ele não precisava saber que parei de estudar três anos antes da minha chegada aqui.

— Como você sabe sobre isso? Aqui não existe faculdade. – Falei parando de comer e encarando-o ao melhor processar suas palavras.

— Passei uns anos morando lá, trabalharíamos no mesmo local. Cursei medicina. – Disse simplesmente.

Ele foi lá, não acredito. Então ele sabe como sair desse mundo. Preciso perguntar.

— Como você conseguiu sair daqui? – perguntei como quem não queria nada. – Ouvi dizer que é praticamente impossível. – Acrescentei, voltando a comer.

Ele parou de comer, apoiou os cotovelos na mesa e colocou as mãos no queixo me encarando.

— Você acha mesmo que vou te dizer? – indagou voltando a comer, logo em seguida e depois disso não voltamos a conversar.

Não sabia como, mas tinha de pensar em um plano para fazê-lo abrir a boca. Provavelmente, Flora deve ter alguma ideia sobre o assunto. Após achar o diário irei falar com ela.

A partir de hoje começa a minha caçada para a liberdade.

📖 Recomendação para revisão 📖
Agradecimento a DarTaLivros

Coração de Gelo - Meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora