A sensação do cobertor sobre minha pele quando acordo é diferente. A luz de fora que entra pela janela e incomodam meus olhos também. Eu só quero ir pra casa, ouvir o miado de Potya e suas pequenas garras arranhando a porta do meu quarto, ouvir os barulhos das panelas vindo da cozinha, o chiado da televisão e sentir o maravilhoso cheiro da comida sendo feita logo cedo pelo meu avô.
— Bom dia, Yuri. — O asiático está sentado numa poltrona perto da cama. — Dormiu bem?
— Se dormir bem é lembrar tudo que aconteceu e se sentir culpado por não conseguir reagir, então sim. Melhor sono que já tive.
— Escute, vai ficar tudo bem. — Ele aperta meu ombro tentando me consolar. Não dá muito certo. — A primeira coisa que fizemos quando ainda estava sedado foi denunciá-lo. Ele será levado à justiça.
— Mas ele pode falar que eu o forcei a liberar seus fero sei lá do quê. Ele vai acabar sendo inocentado e vai querer vir de novo pra cima de mim. Não quero isso. — Sento-me na cama, apoiando meus cotovelos nos joelhos e tampando meu rosto entre eles.
— Bem, como ele é um Alpha, deve saber da história, não poderá dizer nada sobre. Todos que conhecem essa história sabe que não se pode comentar que é um Alpha ou Ômega. Os cientistas, médicos ficarão em alerta e irão querer fazer um monte de experimento até não sobrar uma gota de sangue, uma célula sua viva, ou até mesmo dele. Temos que proteger isso para que nunca chegue aos ouvidos de ninguém.
— Então você é como nós? Um Alpha ou Ômega?
— Nenhum dos dois, mas o meu pai é Alpha. Sou apenas um Beta. Ele me contou sobre essa história quando eu era mais novo. Me fez guardar esse segredo muito bem, para que nunca chegasse a informação a outros.
— Mas, e o Victor? E todos que me ajudaram a chegar aqui?
— Bem, o Chris tem um irmão Ômega. É bem incomum um Ômega nascer de dois Betas, mas provavelmente algum avô deles fez parte dessa experiência e pode ter sido passado algum gene para ele. Yakov eu descobri pelo Victor que a ex-mulher era uma Alpha. E Victor, bem... Eu contei a história a ele. A verdadeira história.
— Verdadeira história? Mas espera, tu não disse que era um segredo que tinha que ser guardado e tal?
— Er... bem, sobre "verdadeira história" é que na escola eles camuflaram grande parte de tudo que aconteceu. Sobre o Victor saber... er... quando estávamos na faculdade, acabamos no conhecendo sem querer. Conversávamos bastante sobre diversos assuntos. Um dia, ele chegou no meu dormitório com um jogo de tabuleiro e uma garrafa de Vodka. E eu, que não sou lá muito bom com jogos, acabei bebendo quase todas as rodadas. Com isso, acabei meio que contando sobre o segredo e como eu tinha que guardá-lo e tudo mais. Eu só me lembro no outro dia que acordei na minha cama só com minha blusa quase toda desabotoada e cueca e...
— ESPERA AÍ! POR FAVOR NÃO ME DIGA QUE FIZERAM... — Yuuri fica vermelho como um pimentão. Sua cara diz tudo. — MEU DEUS!
— CALMA! NÃO É NADA DO QUE ESTÁ PENSANDO! — ele esconde seu rosto com as mãos. — Bem, quando fico alterado faço algumas coisas, nada relacionado ao que está pensando, está bem? Eu começo a ficar com calor e bem, começo a tirar minhas roupas... não acredito que tô falando isso pra você! — Ele esconde novamente seu rosto. — Mas, enfim, quando acordei eu o vi sentado, dormindo numa cadeira perto da cama, quase caindo no chão. Coloquei uma calça e acordei ele, perguntando se não estava doendo sua coluna por estar dormindo daquele jeito. Ele acordou um pouco envergonhado e foi embora sem dizer muita coisa. Eu fiquei com medo de ter feito alguma coisa. Ele ficou dias sem falar direito comigo. Quando decidi tomar coragem e perguntar a ele o que tinha acontecido aquela noite, ele disse que ainda estava processando a história que eu tinha contado, no começo, achava que era apenas uma brincadeira, mas, depois que ele ouviu sobre as mortes, como Victor mesmo disse, foi difícil engolir tudo aquilo.
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Breaking The Routine
FanfictionSerá que se apenas um pequeno detalhe mudasse na pacata rotina de Yuri Plisetsky, poderia causar um efeito dominó em sua vida? Um pequeno acidente ocorre e tudo muda em um instante. Como lidar com todas essas transformações? [HISTÓRIA CONCLUÍDA PORÉ...