Chamadas Perdidas

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POV Otabek

Eu apertava com toda a força o guidão da moto, tanto que chegava a doer. Meu corpo inteiro tremia.

Merda! Merda!

Eu estava irritado, furioso e então, como um clarão, esses sentimentos se findaram, já não faziam o mínimo sentido tê-los. Era como se toda uma confusão em minha cabeça fosse organizada de uma hora para outra. Isso foi extremamente estranho, fazendo-me vacilar, tirando por alguns segundos a moto do asfalto. Okay, é melhor me acalmar antes de causar um acidente.

Paro a moto no acostamento, um pouco antes de pegar a rodovia para voltar para a cidade universitária. Levanto e tiro o capacete, passando as mãos sobre o rosto, apertando as têmporas, lembrando o que havia acontecido não fazia nem ao menos 30 minutos. Como tudo acabou daquele jeito? Eu fiz algo errado? Eu simplesmente não sei o que se passou pela minha cabeça! Como cheguei àquele ponto?! Eu nunca quis machucá-lo, nem forçá-lo a algo. Merda!

Que porra estava na minha cabeça para eu fazer aquilo? Ou ficar com aquelas frases de me perder para me achar?! O que estava passando pela minha mente para pensar tanta besteira?

Como é que eu pude brigar com o Yuri? Como pude provocar qualquer coisa a ele?

Agora que minha mente e corpo se acalmam tudo que posso sentir é uma enorme culpa. Além de uma grande dor e vazio, que não pareciam vir de mim.

O que eu fiz?

Sento-me e abaixo minha cabeça, repousando uma das mãos na testa, arrastando em seguida os dedos pelos cabelos, bagunçando-os.

Eu estraguei tudo! Quando tudo finalmente começa a mudar pouco a pouco na minha vida…

Mesmo sendo tão pouco tempo, construímos uma relação muito mais forte do que aquelas que demoram anos para dar um passo sequer. Talvez esse seja o problema, o pouco tempo. Há muito que eu não sei do Yuri, assim como também ele não conhece muito sobre minha vida.

Eu só queria que dessa vez eu conseguisse ser feliz, poder ter finalmente uma família, porém mais uma vez eu estraguei tudo, assim como todas as outras vezes. Assim como por minha culpa meu pai se foi e logo em seguida minha mãe.

Eu sou o único culpado por todos os problemas que acontecem na minha vida.

Levanto minha cabeça e vejo o céu estrelado, o mesmo que horas atrás eu observava ao lado daquele loiro que me tirava o fôlego, que invadia meus pensamentos sem pedir permissão e me fazia querer continuar a procurar por minha felicidade, que sinto já ter encontrado ao lado dele.

Fechando os olhos com força e respirando profundamente, decido finalmente pôr um ponto final em toda essa situação que eu mesmo criei e sou responsável pelas consequências. Determinado, mesmo sabendo que poderia receber um não de Yuri após tudo que aconteceu mais cedo, coloco o capacete e me arrumo na moto, dando a partida.

Estava na hora de parar de lamentar para começar a agir.

-~-

Okay, chegar na entrada da casa é diferente de tocar a campainha e ter coragem de dizer alguma coisa…

Pelo menos Yuri agora está calmo, como consigo sentir. Nada além de um silêncio que me transmite um certo tipo de tranquilidade. Ele parece estar dormindo. Claro, pelo horário era certo que ele estaria dormindo, coisa que eu também deveria fazer, mas simplesmente não consigo com toda a preocupação que sinto por Yuri.

Tiro o capacete e o coloco sobre o guidão, olhando da calçada a entrada da casa do avô de Yuri, onde a luz que passava da janela fechada era quase mínima, talvez a TV estivesse ligada ou alguma lâmpada, talvez a do corredor, não consigo afirmar com clareza. Nikolai e Yuuri devem estar preocupados com o estado do loiro e não conseguem dormir.

Breaking The RoutineOnde histórias criam vida. Descubra agora