Across The Nation

I Need You

Acordei com os berros de garotas do lado de fora. Me espreguicei, deduzi que os garotos tinham acabado de sair da coletiva. Nessas horas é lamentável não ter um relógio de pulso.

Brian foi o primeiro a entrar e os meninos demoraram mais um pouco. George foi o último e sentou ao meu lado. Vi que em seu rosto tinha várias marcas de batom.

–Que isso?

Perguntei apontando para as marcas de beijo.

–Isso se chama fãs. Descansou bem, darling?

George abriu um pacote de biscoitos de limão e dividiu com Paul, que também estava com várias marcas de beijo.

Antes de eu responder, Brian Epstein chamou minha atenção.

–Janis, sua amiga Joyce mandou avisar que vai ter uma reunião no trabalho de vocês.

–Obrigada pela info, Brian. E sim, dormi bem, ao menos não tive pesadelo com as fãs de vocês me atacando.

Todos riram. George acendeu seu cigarro e olhei para ele, surpresa.

–Uau, quase nunca te vejo tragando.

Eu disse. Ele revirou os olhos com um sorriso no rosto e me ofereceu, aceitei. De primeira vez, tossi na primeira tragada, mas ao longo da locomoção até o estúdio, fui me acostumando.

Ao chegar, fui a penúltima a descer, joguei o cigarro no asfalto e pisei, o amassando. Os Beatles desceram antes de mim com passos rápidos, assim que Brian assegurou que não teria ninguem na rua. A sorte deles era que o estúdio não parecia bem um estúdio, era um refúgio, acho que nem mesmo eu se passara nessa rua, iria suspeitar de que dentro dela estavam os Beatles. Para sorte deles, o som da guitarra ou mesmo outro instrumento de alta sonoridade, não era capaz de ser escutado do lado de fora do estúdio.

Quando entramos, não fui diretamente para a sala dos meninos. Eu tinha uma dúvida pendente com Brian.

–Brian, Joy te informou que horas vai ser a reunião?

"Hmmm" grunhiu Epstein que deu uma olhada em seu relógio.

–Desculpe por ter te informado tão tarde, mas só falta 20 minutos.

–20 MINUTOS???

Fui rapidamente até George e os meninos me despedir, sem olhar para trás.

–Geo, preciso ir.

Logo depois que disse, George me agarrou.

–Mas já?

Disse George, que selou mais um beijo calmo.

–Pergunte para Epstein aonde eu vou. Se cuide, e limpe a guitarra.

Disse apontando para a guitarra que tinha algumas marcas de sujeira. George riu e me beijou outra vez.

–Paul, Ringo, John. Até logo meninos!

–Está com pressa, Janis? Aonde você vai?

Perguntou John.

–Reunião do trabalho, pergunta pro Epstein o resto. Beijinhos.

Disse. Dei uma piscadela para Brian e saí do estúdio. Provavelmente eu não teria tempo para ir em casa trocar de roupa, então fui com a mesma calça jeans e camiseta azul.

Meu sapato da vans estava sujo, mas não me importei com isso. Se tinha uma pessoa que se importaria, se ao menos notasse, era Jess. "Minha nossa Janis? Você se machucou?", eu imaginava com um sorriso no rosto, ela preocupada comigo e falando isto.

Quando cheguei no trabalho, me direcionei como sempre, até minha sala. Vi que Joyce estava lá pela brecha da porta, então adentrei.

–Janis..

Logo quando me viu, Joyce levantou e me abraçou. Ela parecia séria, e para minha sorte, faltava 3 minutos apenas, para começar a reunião.

–Você está bem, Joy? Está pálida, não tomou café hoje?

Perguntei.

–Estou bem, é só a falta de sol mesmo.

Ela riu. Jess bateu na porta e permitimos que ela entrasse.

–Licença, Janis e Joyce, Gregory estão chamando vocês. Por acaso viram o Alfred?

Negamos com a cabeça e seguimos ela. Eu já tinha me esquecido como a sala de reuniões era grande, espaçosa e tinha cadeira, e uma imensa mesa para todos. Tinha uma mesa reservada para mim, que estava ao lado de Joyce, felizmente. Começaram a chegar os funcionários, jornalistas e até mesmo aqueles que publicam os jornais e revistas afiliadas á empresa.

Gregory havia mudado. Ele sempre foi ruivo, mas agora tinha uma barba, que me remetia Carl Moiselle.

Ele se sentou na cadeira central, bem perto de Jess. Quando a sala ficou cheia e todos em seus devidos lugares, Gregory começou a dizer o que deveria.

–Chamei todos vocês aqui, para concluir as transferências. Para quem não sabe, nossa empresa tomou rumo internacional, é uma das mais importantes da grã Bretanha, talvez a mais, superior de todas. Alguns jornalistas, com a ajuda de minha auxiliar, Jess, irão ser transferidos, para países como..

Ele começou a ler um papel.

–Argentina, Romênia, Noruega, Índia e Grécia. No mínimo, duas pessoas viverão juntas, em um hotel luxuoso, que irão servir de morada para vocês até cancelarem o contrato com nossa empresa, se tiverem essa ousadia.

Engoli em seco. Eu não queria ser escolhida, só de pensar, ficar longe de George me faria mal.

–Jess foi prudente e avaliou o potencial de vocês na hora de escolher, por isso, anunciarei aqui, as duplas que irão representar nossa empresa, e trabalharão de jornalistas com todo conforto que proporcionaremos para vocês.

Gregory entregou um papel para Jess, que aumentou o tom da voz.

–A primeira dupla, é Maryn Casagrande e Nora Gallagher, para Argentina. Liam Seulgher e Viegas Ramin, para Suécia. Alfred Armstrong e Roman Germain, para Noruega. Alfie Armstrong e Toby McCallum, para Romênia. E.. Joyce Coleman e Janis Bowie, para Índia.

Digamos que meu mundo caiu. Eu só não desabei naquela hora, por que eu não estava acreditando. Preferi acreditar que aquilo era brincadeira, não era possível. Não dava para imaginar eu, seguindo o meu futuro sem George Harrison. Sem George, sem as piadas de Ringo, sem as histórias de Lennon, e até mesmo sem as mágoas de Macca sobre mim. Eu me sentia perdida, abatida. Joyce também não acreditara, dava para sentir isso quando olhei para ela. Eu poderia gostar muito da Índia, mas minha vida era com George, e se fosse para viajar para Índia, eu viajaria com ele. Joyce sentia muito por mim, e daqui para frente, eu teria somente a presença dela.. e não a de George.