Hold Me Tight

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Acordei meio tarde, tive certeza que naquele dia eu havia consequentemente faltado ao trabalho. Minutos depois, sai da cama e fiz minhas higienes. Estava frio, coloquei um agasalho e fiz um cappucino. Meus cabelos vermelhos estavam bagunçados, mas ainda exalavam o aroma doce da noite anterior. Sorri ao lembrar de como me senti quando George me arrumou na casa, de como ele parecia protetor, e me senti curiosa quanto a Paul. Depois de me espreguiçar eu iria ao estúdio, só precisava colocar apenas minhas roupas mais pesadas.

Lavei a xícara do café que tomei e guardei-a. Comi as torradas que fiz ontem de tarde, mas que ainda estavam suculentas, e coloquei geleia de morango para dar mais sabor. Depois de comer ao menos duas, comecei a pentear meu cabelo sem muita pressa, reparei que nem estava tão bagunçado assim. Não prendi meu cabelo, e coloquei umas camisas folgadas e um moletom azul por cima.

Dava para ver o pôr do sol enquanto eu caminhava. A rua estava movimentada, várias lojas estampavam em sua entrada anúncio de novas ofertas e promoções únicas, mas o lugar que mais estava lotado, era a loja de discos.

Garotas de mais ou menos a minha idade compravam discos dos Beatles, Beach Boys, Rolling Stones e Bob Dylan. As mais novas, com certeza tinham preferência pelos Beatles, e os garotos tinham preferência em Bob Dylan. Na loja, mesmo estando do lado de fora, eu conseguia ouvir Ticket To Ride.

Quando cheguei ao estúdio e fui recepcionada como sempre. Brian me desejou bom dia e uma funcionária perguntou se eu queria café, neguei, porque muito café em um só dia me deixaria com enxaqueca.

Entrei na sala aonde estava os meninos. Estavam agitados, e George não largara da guitarra nova. Quando percebeu minha presença, largou-a. Paul estava finalmente animado, Ringo parecia estar com ressaca e John estava concentrado. Uma novidade á mais na sala, era a presença de um piano que eu nunca havia visto antes e que aparentava ser novo.

Achei interessante, o som do piano para mim era um dos mais românticos. Aprendi a tocar piano com treze anos, no piano de minha mãe. Ela me ensinava com tanta delicadeza, a sutileza que tanto fazia falta nesse momento. Perguntei-me a mim mesma se George saberia tocar aquele instrumento, e rezei para que sim. Seria no mínimo encantador vê-lo tocar.

Mas, afastando minhas expectativas, Paul sentou-se e começou a fazer algumas notas no piano. Ele era excelente, tanto no baixo, e agora no piano.

Talvez devesse ser agora a hora de falar com Paul, e perguntar se ele estara bem.

-Paul? Tem um minuto?

Perguntei, infelizmente ao mesmo tempo que eu perguntara, os olhares da sala se fixaram em mim. George escondeu em algum lugar toda a animação de antes e foi comer em outro quarto.

-Algum problema, Janis?

-Não, quer dizer.. desde aquele dia do jantar, você se encontra frio, distante. Tem algum motivo?

Ele fez um sinal mandando eu sentar ao seu lado, eu refleti um pouco antes de minha atitude, e decidi que faria.

Suspirei, e ao meu lado, ele começou a tocar.

O som semelhante ao qual já escutei outrora, a suavidade dos dedos de McCartney nas teclas, o vento aconchegante que vinha da única janela aberta da sala e a ausência de olhos nos observando, naquele ambiente que há pouco tempo era tomado por guitarras, gaitas e outros instrumentos, agora era refém do abalo de um doce som, que me fez sentira revigorada. Agora pude reconhecer, que a música que teclava era Yesterday, a misteriosa música de ontem. Ele cantara suavemente, e quando já não tinha tanta consciência, encostei minha cabeça em seu ombro.

Juro pelo tudo, que eu me sentiria péssima se alguém estivesse nos observando, mas agora, parecia que só existira McCartney e Bowie.
Eu não queria despertar dessa doce melodia, a letra da música me deixava triste, era uma mistura de sentimentos. Eu me sentia calma, era como se eu tivesse treze anos novamente.

Corri o risco de adormecer em McCartney mas não me deixei ceder

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Corri o risco de adormecer em McCartney mas não me deixei ceder. Quando me virei, não havia ninguém, suspirei aliviada e sai do transe.

-Você deveria sequer deduzir que a razão dessa música é você.

Ele franziu as sobrancelhas e me olhou cabisbaixo, engoli em seco.

-Então.. o motivo sou eu? Ah, Paul, poderíamos pelo menos ser amigos?

-É difícil ter uma amizade com a pessoa que você a um longo tempo é apaixonado.

Eu não sabia o que dizer. Não foi minha intenção entrar na vida dos Beatles dessa forma, eu estava incondicionalmente apaixonada por George, enquanto Paul estava apaixonado por mim.

-G-George sabe sobre a música?

-Eu lhe disse que sonhei com o ritmo dela em um sonho, e que quando acordei comecei a praticar ela no piano. O sonho era verdade, mas o por quê do sonho.. eu não revelaria para qualquer um. Foi um dia depois de você dar a entender que não existia reciprocidade e não queria nada comigo, no jantar.

Macca levantou-se e estendeu a mão para me ajudar a levantar também.

-Paul.. confesso que me senti culpada agora, mas você sabe que eu tenho George, e George têm a mim.

-Tudo bem. Quem sabe um dia eu esqueço. Mas quero que saiba que você é uma garota encantadora, e que não é difícil alguém se interessar em você. É uma garota de sorte.

McCartney não esperou minha resposta e se foi. Eu me sentia culpada, eu amava George, mas eu confesso que ainda queria estar ouvindo a melodia de Yesterday.

Depois de Paul me deixar sozinha, me levantei e fui até George. Me senti tão atordoada pela culpa, entrei em uma sala aonde havia Brian, George e Ringo. John e Paul deveriam estar encontrando papéis para compôr.

-Você está bem?

Perguntou George. Todos conversavam entre si na sala, eu deveria, queria e poderia ter. Eu precisava de Harrison.
Eu não consegui me controlar, os lábios de George e o meu se encontraram em um ritmo calmo. Eu estava consciente do que fiz, agora todos sabiam. Ringo sorriu e Brian rugiu pela surpresa. O beijo desajeitado agora era sereno, e me tranquilizou por completa. Agora todos naquela sala sabiam.

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