Lucky

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Estávamos sentados e o diretor analisava nós, um por um, olhando no fundo dos olhos de cada um. Era agonizante, mas eu teria que manter a calma.

–O desempenho de todos vocês aqui, são admiráveis. Sei que as vezes há falhas, mas isso faz parte, tentem entender isso.

Carl era simplesmente admirável, mas tínhamos que ter muito respeito por ele. Ele era mulato, tinha cabelos brancos e um óculos redondo. Sua saúde era ótima, e exemplar, poucos podiam adivinhar que ele tem 61 anos e que trabalha há 38 anos naquela empresa.

–O nome de todos vocês estão aqui, nessa caixa– Ele apontou com um dedo.

A caixa era verde limão, tinha um furo no meio que servia para pegar o papel que tinha o nome do sorteado, e a caixa não muito grande. Éramos 9 funcionários, e a minha chance de ser escolhida era 0%. Pelo menos era assim como eu pensava, assim como estava na minha cabeça, ou era assim como eu queria..

Estavam lá, eu, Alfred Armstrong, o irmão do Alfred e também jornalista, Alfie Armstrong, Nora Gallagher, Joyce Coleman, Maryn Casagrande, Louis Seulgher, Roman Germain e Viegas Ramin. Desses 8, eu era mais próxima de 6. Entretanto, Jess estava apenas observando a gente e piscando para eu e Joyce. Ela amava a gente, e odiava apenas o Viegas Ramin. Ela dizia que ele é "grosseiro".

–O nome do escolhido já está em minhas mãos..–Ele recolheu o papel e anunciou.

Não demorou muito pra ele abrir e vir a bomba. Ele não olhou pra ninguém, guardou o nome pra si. Eu fechei os olhos, e acho que todo mundo fez igual.

–Parabéns.. Janis Bowie.

Ele citou meu nome e eu fiquei sem reação. Joyce, Alfred, Alfie e mais alguns começaram a me aplaudir e Jess abriu um sorriso muito largo, talvez o mais largo que ela pudesse mostrar. Aplaudiu exageradamente para mim e gritou meu nome.

Eu me levantei, todos se levantaram e Carl também se levantou.

–Senhor, pode me informar que dia será essa entrevista?–Eu lhe interroguei.

–Que sorte boa, hein Janis. Olha, eu não sei, mas Jess sabe, se me der licença, eu irei descansar agora.–Ele disse educadamente, e realmente, ele estava com um semblante de cansaço.

Eu nem precisei caminhar até Jess, por que ela já estava na minha frente comemorando muito.

–Minha doce, como você está se sentindo agora?–Ela perguntou, mas eu não estava afim de responder isso.

–Que dia será essa entrevista?–Eu perguntei.

–Amanhã de noite, ou depois de amanhã, de tarde. Depende dos Beatles, minha querida, mas certamente amanhã de oito horas.–Ela disse isso passando as mãos sobre meu cabelo.–As perguntas já estão prontas, na verdade, não há o que se preocupar.

Eu não estava preocupada. Na verdade, nem eu mesma sabia o que eu estava sentindo.

Obrigada.–Depois disso eu fui procurar Joyce.

–Janisssss–Ela me abraçou forte–Eu sabia que seria você! Eu senti isso.

–Bem, eu não sabia. Joyce, me ajude.–Eu peguei Joyce pelo braço até perto da porta do banheiro.–A entrevista será amanhã.

–Minha nossa, que rápido!–Ela sorriu–Tem algum problema nisso?

–Não há. Agora não, mas quero que venha ao meu apartamento hoje de noite. Preciso de sua ajuda psicológica, não sei se darei conta amanhã.

–Mas Janis, o que está acontecendo? E por que você não me contou que comprou um apartamento? Você está nervosa? E como assim você não dará conta? O que há de errado com a entrevista?

–Não é a entrevista, e sim a tensão. Me disseram tantas coisas sobre esses meninos, que, em nenhuma hipótese eu posso falhar. Entende isso?

Ela riu.–Isso é óbvio, todos nós buscamos a perfeição no que fazemos, mas não precisa disso, Janis. Sei que nem você nem eu somos especialistas em jornalismo, mas sempre há obstáculos. Agora, me conte essa história de apartamento.–Ela fez cara de emburrada.

–Desculpe não ter te contado antes, mas você sabe que antes dos 18 eu sempre falei sobre a minha independência, e eu pensei que você já tinha deduzido isso. Foi horrível, nunca pensei que parar de morar com os pais seria assim, ainda mais por que minha irmã mais nova está lá, e eu a amo, mas não pararei de ver ela.

–Tudo bem, e sim. É só me dar o endereço que passarei lá.

–Traga roupas. Do jeito que você é, é capaz de dormir lá. Nem o café te derrota Joyce.–Ela começou a rir.– 24 horas sonolenta.

–Você me conhece tanto, Janis, eu agradeço todo dia por ter alguém como você trabalhando aqui comigo.–Ela foi sincera.

A clareira do meu quarto estava acesa, eu lia um livro e comia um bolinho de limão com café com leite. Eu apenas pensava em como seria o dia de amanhã.

Escutei alguém batendo na porta, me ajeitei e deixei o livro aberto na cama.

–Janis!–Era Joyce, com uma enorme bolsa nas costas, e alguém acompanhava ela.

Era Layla Asher, uma ex jornalista que já trabalhou com a gente mas foi trabalhar na concorrente. Ela tinha sido minha melhor amiga um dia, e eu sentia falta dela.

–Surpresa!–Disse Layla.

–L-Layla?–Eu abracei ela, que tinha o mesmo cheiro de antes.

Diferente de Joyce, Layla levava uma mala comum e nem tão grande.

Entrem. Fiquem avontade.

Joyce sentou na minha cama e leu a capa do livro que eu estava lendo.

–Esse livro é aquele que você ganhou da Layla?

–Sim! Por coincidência, eu estava acabando de ler ele.–Layla sorriu ao ver que eu ainda o lia.

–Ele é interessante, Janis. Mas não tão interessante como vai ser sua entrevista amanhã–Senti que ela queria me motivar–Os Beatles, hm?

–Qual seu favorito, Lay?–Perguntou Joyce entusiasmada– Sou apaixonada pelo Paul

–Nenhum deles se compara ao John, adoro ele de um jeito incomparável aos outros. Ele é diferente, sabe? – Ela olhou pra mim– E quanto á você, Janis. Qual seu favorito?

–Eu ainda não sei, Layla. Nem mesmo os nomes deles eu sei direito.– Eu disse esperando alguma risada.

–Você está em outro mundo, Janis!–Ela riu–Mas você será sortuda, quem sabe a sorte anda ao seu favor e algum deles não têm um interesse por você?,

–Pare de viajar!–Eu disse e as duas riram.

De madrugada todas dormiram, menos eu. Não era por causa do café, mas por causa do amanhã.


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