Merry Christmas, Dear BlackPool

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Perguntava-me para mim, constantemente, se iria surgir algo novo nesse meu natal de hoje, sem ser as dúvidas que me assombravam frequentemente sobre o rumo da minha vida.

Eu andava pelas ruas de BlackPool com um semblante misterioso, o vento era gracioso, porém frio. Isso não ajudava, não me ajudava a obter uma resposta sobre aquilo que talvez nunca deveria ser respondido.

Me sinto renovada á cada natal, seria uma pena que todas as pessoas fossem assim, amigáveis e solidárias, apenas naquele dia. No resto do ano, eles se xingavam, se afrontavam, faziam maldades, para no final do ano, fingir ter feito um ano bom, e aqueles que sofrem, têm sequelas guardadas dentro de si. Era ruim desprezar uma pessoa, eu odiava aquilo, com todas as minhas forças. Minha irmã falava que eu era "politicamente correta" demais, e que era algo tedioso. Não que eu fosse uma pessoa tediosa, mas sim que eu era certa demais para o mundo de hoje. E se eu tiver interpretado errado? Ah, parece que a cada minuto que eu inalo oxigênio eu tenho uma nova dúvida pendente.

Minha família era super desenrolada, minha mãe cantarolava desde a semana passada uma música, uma música nova que eu ainda não tinha ouvido. Era mais uma daqueles tais de “Beetles” ou “Beatles”, eu não sei realmente, e se eu perguntasse, iriam perguntar “em qual mundo eu vivo?” pra nunca ter ouvido uma música daquela banda.

Eu trabalhava de jornalista em Liverpool, eu era nova na área, até por que eu tinha apenas 18 anos.
Eu pegava sempre o ônibus público, e lá também ia minha amiga, Joyce Coleman, com quem eu dividia a sala que trabalho.

– Você ouviu falar da seleção que o Canarinho vai fazer hoje? – Joyce sentou-se ao meu lado no ônibus.

– Feliz natal, aliás. Hoje faz 1 mês que não nos vemos desde que eu peguei aquela infecção. Eu já estava com saudades, Janis.– Ela me abraçou.

– Eu também senti sua falta. Afinal, como não sentir falta da garota que mais me faz companhia?– Eu sorri.

–E, Joy, o Canarinho não me avisou nada, pode me explicar?–Fiz uma interrogativa

Joyce pareceu refletir. O Canarinho era uma pessoa de importante influência aonde trabalhávamos, ele era quem analisava as reportagens ou entrevistas que iríamos fazer, e seu irmão, Gregory, fazia parte da contabilidade. O Canarinho tinha sotaque escocês mas sempre se dizia ser britânico.

–Bem, um de nós vai ser sorteado para entrevistar os Beatles.–Ela olhou nos meus olhos e sorriu.

Eu sabia que os Beatles eram uma banda, que fazia um ENORME sucesso. No ano que estou, em 1964, quem que não tiver ouvido falar sobre eles é simplesmente uma pessoa morta.

–Isso não te anima?–Perguntou Joy franzindo a sobrancelha.

Eu não podia mentir.

–Na verdade, tanto faz pra mim, Joyce. Eles só são garotos, de Liverpool..– Eu iria completar minha frase, se ela não tivesse interrompido.

–Eles são talentosos, e essa não é mais uma banda passageira Janis! Me ouça, eles irão explodir, se sequer já estão explodindo atualmente. Eles dominam Janis, eu quero que esteja muito, muito e muito animada para entrevistar um ou eles por completo. Vai ser a melhor entrevista já feita por nós! Somos uma equipe, não? Eu quero que fique empolgada, quero que faça isso entrar na história se for escolhida.. Me prometa, Janis.– Ela pediu delicadamente

Sinceramente, eu não sabia dizer um "não" pra Joyce. Nem pra mim mesma, mas talvez seja uma experiência eletrizante. Mas, primeiro eu deveria conhecer as músicas deles.

–Não decepcionarei, e também não nós decepcione, Joyce, se você for a escolhida.

Ela sorriu.–Parece que você mal conhece eles, certo? Esteja ciente de o Hugh comprou "Please Please Me" e que ele irá colocar para tocar no nosso trabalho. Você vai adorar.–Ela finalizou, parecia que ela tinha lido minha mente; "Parece que você mal conhece eles".

Finalmente chegamos. A neve caia como uma tempestade, e o céu era cinza. Pelo menos eu tinha muito pano em mim, meu casaco combinava com meu batom vermelho, e as minhas botas cor de magenta eram de veludo.

Eu vi todos que eu conhecia e alguns clientes, dei bom dia á todos e fui para o meu escritório.

Joyce deveria ter ido ao banheiro, ou se esbarrou com alguém na entrava e puxou conversa, ela não estava comigo. Tudo o que eu precisava era de um bom cappuccino quente. Alfred Armstrong entrou na minha sala e, como se ele tivesse lido minha mente, me trouxe um cappuccino quente.

–Não se preocupe, ele é da cafeteria que você gosta, a tal de Aldrin Coffe. Não é ruim como o café e cappuccinos que a Monalisa faz aqui. Sinceramente aquilo é uma nojeira!–Ele me fez rir, e era verdade.

Alfred era uns 4 anos mais velho que eu, e era meu vizinho, mas Joyce sempre gostou dele, eu não queria dar esse vacilo.

–Gentileza sua, Alfred. Imagino que sobrou troco, afinal, essa semana ainda deve estar tendo aquela promoção na Aldrin, não é mesmo?–Eu sorri e ele confirmou com a cabeça.

Jess McDonovan, uma veterana no meu trabalho, entrou na minha sala enquanto eu e Alfred conversávamos.

–Janis, minha querida. Joyce lhe avisou que terá o sorteio?–Ela era elegante e carinhosa comigo até nas perguntas.

–Sim, ela avisou. E Jess, quando será?–Eu aproveitei para dar um gole da bebida antes de ser interrompida.

–Agora mesmo!–Ela sorriu, e para minha infelicidade, eu me assustei e acabei cuspindo um pouco de café. Eu tive que justificar com uma mentira.

–Desculpa, estava muito quente e eu acabei me engasgando.–Alfred riu da minha situação, eu olhei pra ele pedindo pra parar.

–Não tem problemas, querida, só sujou um pouco do seu belo casaco.–Ela era muito simpática, como diabos conseguia ser assim com todos?

Joyce entrou em nossa sala sem saber o que havia acontecido, olhou para Alfred e depois para mim, ela notou a presença de Jess e se perguntou de tinha acontecido algo sério.

–Aconteceu algo?–Ela perguntou, preocupada.

–Ah sim, eu só estava avisando á nossa querida Janis que o sorteio será agora.–Disse Jess. Nem mesmo Joyce sabia.–Venham para a sala aonde está nosso diretor Carl Moiselle.



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