The End

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Anos se passaram até a chegada de 1966, na época, George Harrison havia noivado Layla, Joyce estava no sétimo mês de gestação, e o pai, era o turco que ela havia também noivado. Fui escolhida para ser dinda, um presente e tanto vindo da minha melhor amiga. Agora, as únicas pessoas com quem eu trocava cartas eram minha irmã, Jess e, por mais que seja difícil de acreditar, Viegas Ramin. Sei que antigamente eu odiava ele, mas quando o conheci, vi que ele era muito interessante, hoje em dia somos melhores amigos. Minha irmã cresceu, digamos que está da minha altura, pelo menos é o que ela diz nas cartas. Ela aprendeu a tocar harpa, e atualmente fala comigo sobre um garoto de sua classe, por quem morre de amores. Adolescência mandou lembranças.
Jess adotou uma criança do Zimbábue, ela adora falar sobre os rumores de Liverpool e sobre as fofocas que tanto perpetuam no nosso trabalho, percebi que a cada ano ela fica ainda mais engraçada e divertida.

Recentemente soube da viagem dos Beatles para cá, e nem estou surpresa. Todos querem ser diferentes agora, e os Beatles não iriam deixar essa oportunidade de fora, mas sei que não seria difícil eu sair de casa e acabar me esbarrando com George Harrison. Pensei nessa possibilidade, mas logo depois descartei, eu não poderia esquecer de que o George que eu conhecia era um simples garoto que estava começando a fazer sucesso, e o Harrison de hoje é um dos maiores guitarristas, não só da Inglaterra como do mundo, simplesmente não há nem como ele pisar na rua sem ser reconhecido.

Layla deixou nosso ramo jornalístico e virou modelo, todo lugar que aparecia agora era com Harrison, e eles pareciam felizes, eu não poderia negar. Eu não deixava de pensar em como a relação deles dois eram uma coincidência, que me fazia lembrar daquele sonho que tive antes da viagem. O semblante de Layla nele, a alegria de Harrison.. mas era apenas um sonho.

Talvez eu estivesse paranóica, parei de pensar um pouco nisso.

A casa estava vazia, Joy foi fazer um exame com o turco, que era ótimo em limpeza de casa, aliás. Estava tudo brilhando. Eu não tinha nada para fazer ali, decidi sair um pouco.

As luzes coloridas das ruas do comércio de Nova Délhi me transmitia algo que eu não sabia descrever o que era, talvez eu nunca soubesse. As pequenas estátuas de Brahma, Lakshimi, Krishna e a de Shiva, que aliás eu tinha em casa, e as decorações que eu deduzi que haviam sido exportadas de Budapeste decoravam as mesas dos comércios. Era tudo tão colorido que até mesmo o aroma doce de perfumes que também eram comercializados por ali me invadiram. As plumas e tecidos eram deslumbrantes, até eu sentir uma estranha presença de algo, algo familiar, que eu conhecia, e antigo.

Quando me virei, era nada mais nada menos que George. Que me assombrava em meus pensamentos, e que estava diante a mim, naquele momento.

-Darling.

Meus cabelos vermelhos, que já estavam bem longos do que o de costume, combinavam com o meu vestido indiano e minha jóia na testa. O vento raramente não bagunçou meus cabelos, e meus olhos brilhavam mais do que qualquer jóia, seja as que eu carregava ou as de todo comércio.

-Já faz tanto tempo, não é mesmo?

George fez um sinal positivo com a cabeça. Ele estava tão diferente, com barba, cabelos maiores, e com trajes da região. Parecia bem mais maduro também.

-Não respondeu minha última carta. E isso também já faz muito tempo. Por quê, se me amava, Janis?

Engoli em seco.

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