Capítulo 1

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— Me traz outra vodca — ela pediu, sem olhar para o garçom, balançando as pedras de gelo no copo vazio, a atenção grudada no cara mais bonito da festa e que, por acaso, era seu namorado.

Mas por quanto tempo?

Um calafrio escorregou pelas suas costas com o pensamento perturbador.

O topo da cabeça loura estava cercado por pessoas brigando por um aperto de mão, uma apresentação ou querendo dar os parabéns. Ela tinha sido uma dessas pessoas, mas quando ele a ignorou para dar atenção aos outros, ela voltou para a mesa e se distraiu com uma vodca, e depois outra, e outra, e outra.

Quase uma hora sentada, sozinha, esperando por ele. Numa outra festa, talvez ela já tivesse recebido uma ou duas cantadas, mas aqui, com tantas modelos e gente ligada ao mundo da moda, mais dedicados e cuidadosos com a aparência que uma mãe do seu primeiro bebezinho, ela era só uma ninguém. Perto dos novos amigos do namorado, ela sempre se sentia inadequada. A aparência destoava, a conversa não engatava e os lugares que ela tinha passado a frequentar, exibiam uma quantidade excessiva de álcool e uma escassez decepcionante de comida.

Se ela pudesse comer uma, ou melhor, duas fatias de pizza, daquelas com bastante queijo e pingando gordura, com certeza não estaria flutuando nessa névoa de vodca. Sem chance. Seria mais fácil achar diamantes espalhados pelo chão, do que alguma fritura ou comida gordurosa, cheia de carboidratos, e deliciosa, no cardápio. Ela sabia. Ela já tinha olhado. Duas vezes.

Quem sabe não era melhor assim? Ela não era gorda, mas perder alguns quilinhos e ficar parecida com as moças recebendo a atenção do namorado naquele momento, tinha seu valor. E ela devia ter aprendido a lição, foi por causa de comida que ela quase perdeu a oportunidade de ser namorada dele, numa outra festa, bem diferente daquela, há seis meses.


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— Vivi, se você me largar sozinha, eu te mato — a Bia ameaçou, por cima do som do pagode.

Sua prima e melhor amiga, Vivian, deu uma risadinha.

— Qual é, Bia? Eu vim paquerar o gatinho do curso de inglês, se ele estiver a fim, eu não prometo nada.

Antes de sair de casa, a Bia já estava conformada que a Vivi ia dar o perdido, mas a prima não queria vir sozinha ao churrasco e a Bia fazia tudo por ela. Elas eram super ligadas, apesar de muito diferentes, tanto na aparência, quanto na personalidade. As duas compartilhavam o castanho claro dos cabelos e olhos, e só. A Vivi era mais alta, curvilínea e desinibida, já a Bia tinha os traços delicados e era mais na dela. Fica fácil de entender, se você imaginar a Barbie ao lado de uma boneca de porcelana.

Elas descobriram que o gatinho do curso de inglês chamava André ao serem apresentadas pela dona da casa, e colega da Vivi, mas o interesse dele estava preso na conversa animada sobre futebol com os amigos. Ele ignorou todas as tentativas da Vivi de puxar papo e ela desistiu.

— Quem se importa com campeonato brasileiro? Se o idiota não quer, pior pra ele — ela saiu bufando e a Bia escondeu um sorrisinho. A prima não era de empacar caso os planos não corressem como ela queria. Se a Bia conhecesse mais alguém naquela festa, podia ganhar um dinheiro fácil apostando que a Vivi arrumava outro crush antes de o sol ir embora. — Vem, eu te prometi comida.

E foi assim que as duas acabaram sentadas numa mesa perto da entrada, a Vivi com um copo de cerveja e a Bia com um prato de arroz, vinagrete e carne, quando o carinha mais bonito que ela já tinha visto, chegou e transformou o ambiente. Ele era louro, olhos verdes e um sorriso perfeito no rosto perfeito, exatamente o contrário do tipo que costumava fazer o coração da Bia bater mais rápido. Ela sempre teve uma quedinha pelos bad boys, morenos, perigosos, que usam jaqueta de couro e andam de moto. Porém, foi o louro de cabelos cuidadosamente arrumados, bermuda caqui e camisa polo que fez o mundo da Bia parar pela primeira vez e só com ele, ela reencontraria o movimento.

Hora de dar uma chance para o príncipe encantado.

— Eu vi primeiro. — As palavras da Vivi acabaram com as esperanças da Bia. De acordo com o código de amizade das duas, a Vivi tinha acabado de garantir o papel de personagem principal e a Bia, relegada a mera ajudante de cena.

— Droga! — a Bia exclamou ao terminar de engolir a comida.

— Bem feito! — A Vivi deu uma gargalhada. — É castigo por você poder comer de tudo sem engordar. Se você fosse como nós, meros mortais, estaria bebendo cerveja e não com a boca cheia.

A Bia deu uma garfada enorme, entupindo a boca de comida e jogando um olhar mortal para a Vivi, que riu mais ainda da tentativa infantil de implicância

— Eu te odeio, sabia? — a Vivi disse, sem sinceridade nenhuma.

Aquele devia ser o dia de sorte da Vivi, porque além de ter sido rápida na hora de se garantir nos direitos de paquera, ela não precisou fazer esforço nenhum e o príncipe veio até ela.

— Eu não conheço vocês. — Ele se enfiou no caminho quando elas voltavam do banheiro, algum tempo depois. — Meu nome é Diego.

Porque conhecia a Vivi melhor que ninguém, a Bia viu o esforço da prima para que o sorriso iluminando o rosto não refletisse a vitória que ela devia estar sentindo por dentro.

— Vivian, mas pode me chamar de Vivi. — Ela aceitou a mão estendida e deu dois beijinhos nele.

— E você? — Ele virou os olhos verdes límpidos e atenciosos na direção da Bia, e foi como se ele estivesse lendo sua alma.

— Eu? — O mundo parou de rodar por um segundo, e ela engoliu em seco tentando recuperar a compostura. — Eu acabei de lembrar que deixei uma coisa lá dentro.

A Bia virou as costas e entrou novamente na casa, sem se importar por ter sido óbvia demais. A Vivi não ia ligar, pelo contrário, poupava o tempo dela.

Eu nunca mais como numa festa, eu nunca mais como numa festa, a Bia foi repetindo dentro da cabeça a caminho da sala. Alguns meninos jogavam vídeo game e ela sentou para assistir, recusando o convite para se juntar a eles. Ali só tinha fera e ela não quis passar vergonha.

Ela ficou com o celular na mão esperando a mensagem inevitável de confirmação da queda da Vivi nos braços do Diego e sua liberação para ir embora, mas a mensagem que veio foi diferente.

Vivi: Vem cá. AGORA!

Letra maiúscula significava emergência, e a Bia deu um pulo do sofá para socorrer a prima, que ainda conversava com o Diego. Ela parou, esperando por um sinal, porque a Vivi não parecia estar precisando de ajuda, e só se aproximou depois que a prima acenou.

— Você demorou. Achou o que estava procurando?

— Achei?

— Então, Diego, essa é a minha prima Bia, que você tanto queria conhecer. — A Vivi retribuiu a falta de sutileza, enquanto a Bia não conseguia evitar que seus olhos dobrassem de tamanho e o coração desse um pulo dentro do peito. — Eu vou buscar uma bebida. Vocês querem alguma coisa? Não? Tudo bem, a gente se vê por aí.

Ela deixou os dois sozinhos, deu uma paradinha perto da porta, e pelas costas do Diego, fez um sinal de positivo.

'Ele é todo seu', a Bia leu os lábios dela e não conseguiu segurar o sorriso.

Respirando fundo, ela voltou a atenção para o rapaz na sua frente a fitando com um sorriso radiante no rosto, como se tivesse acabado de encontrar uma caverna cheia de moedas de ouro.

— A sua prima disse que você não tem namorado, é verdade? — O Diego foi direto ao ponto e a Bia teve certeza que aquele era o começo de um conto de fadas com final feliz.

Mau Amor [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora