O Diego chegou na casa da Bia à tardinha.
Depois da noite movimentada e da exuberância da Vivi que só faltou fazer malabarismo para distrai-la, a Bia tinha voltado para casa exausta, mas nem cogitou ir se deitar. Depois de colocar uma roupa confortável, ela foi direto para o cavalete no seu cantinho preferido do quarto. Ela precisava pensar e era com o cheiro da tinta no nariz e a mão cheia de respingos coloridos que a cabeça funcionava melhor.
A Bia descartou a tela começada num outro dia, num outro estado de espírito, e pegou uma em branco.
Virgem, ela fez uma careta.
Enquanto misturava as cores e inventava tonalidades novas, ela foi separando e organizando os sentimentos confusos dentro de si mesma. Ela jogou fora a frustração de não poder voltar no tempo e fazer tudo diferente, guardou num cantinho a decepção de não ter tido a primeira noite dos seus sonhos e aprendeu a lição, a vida era uma filha da puta que fazia as coisas do jeito dela sem se importar com planos construídos com cuidado.
Esquecer a culpa por ter traído o Diego não seria fácil. Ela ainda não se lembrava do que tinha acontecido entre eles na noite anterior, mas ao checar o celular, doeu ver o descaso na última mensagem que ele tinha enviado. E o namorado não ter se preocupado com uma ligação para saber como ela estava naquele dia era a prova maior que o relacionamento não tinha mais conserto.
Quando a Bia mandou uma mensagem pedindo para ele passar na casa dela mais tarde, ele tinha respondido com um simples, 'lá pelas seis'. A Vivi tentou aliviar sua culpa dizendo que o Diego também devia ter passado a noite com outra, mas não era como as coisas funcionavam para a Bia. Era com a sua consciência que ela tinha que lidar, e saber que tinha errado atrapalharia seu sono por muito tempo.
A Bia até se permitiu imaginar um bebezinho, de sexo indefinido, que fosse, ao mesmo tempo, parecido com ela e o Lourenço. Ela não estava pronta para ser mãe — no fundo, quem estava? — Mas contar com a ajuda dele continuava fora dos seus planos. Os pais dela ficariam desapontados, o que não impediria que eles lhe dessem seu apoio incondicional, e a Bia aprenderia a ser mãe e pai de um filho que mudaria tudo, mas que ela amaria com todo o coração.
Era exatamente nesse ponto que se encontrava o problema maior, o que estava fazendo a Bia usar tons escuros e pinceladas fortes: o fato de que ela nunca mais veria o Lourenço. Era errado e impossível, mas era verdade, ele tinha uma força, um magnetismo que a atraia demais. Toda vez que se lembrava dos olhos intensos queimando enquanto tirava sua calcinha e do abraço forte enquanto ela chorava, a Bia se repetia o mesmo sermão, ela foi só mais uma, não tinha sido especial e ele ia levar várias outras para casa e fazer a mesma coisa.
Não adiantava e ela se pegava pensando na teoria da Vivi. Se a maior merda da sua vida já estava feita, voltar ao bar em busca do Lourenço não seria uma tragédia muito grande, seria?
— Eu adoro como você fica concentrada no seu quadro e esquece tudo. — O Diego a abraçou por trás e a beijou na nuca.
A Bia se assustou e o pincel caiu no chão. Ela usou a desculpa de ter que pegá-lo e se afastou do namorado, mas não se preocupou em limpar o tapete espirrado de tinta. A mãe dela tinha aprendido que era mais fácil trocar um tapete por ano, do que o piso de madeira e delimitou o ateliê da filha a um quadrado perto da janela.
— Oi. — Foi só o que ela foi capaz de dizer, e foi até o banheiro limpar as mãos, com o Diego atrás.
Sob o peso do olhar atento e do silêncio desconfortável, ela usou o removedor de tinta em cada cantinho, lavou e passou hidratante. Quando ela finalmente terminou, ele a pegou pela cintura e a colocou sentada no balcão, ao lado da pia.
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Mau Amor [Concluído]
RomansQuem nunca se enganou com uma pessoa? Aceitou primeiras impressões só para descobrir que não era nada daquilo? Ou será que era? Bia está longe de ser uma princesa, mas quando o príncipe encantado aparece em sua vida, ela resolve lhe dar uma chance...