Capítulo 32

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— Lourenço? — a Bia murmurou o nome como uma súplica para que ele negasse, que ele risse da confusão absurda e tudo voltasse a ser como há meros segundos, quando sua maior preocupação era não deixar a Vivi constrangê-lo.

— Será que a gente pode conversar num outro lugar mais calmo? — A voz do Lourenço saiu baixa e grave. A mesma voz que a enchia de arrepios na cama.

Não! Não era aquilo que ela queria ouvir!

Ela soltou o braço dele e precisou se apoiar na mesa para conseguir continuar de pé. Como Alice, a Bia começou a cair num buraco sem fim, mas ao invés de estar indo para o País das Maravilhas, ela estava se movendo para uma realidade em que o namorado carinhoso e amoroso que tinha se tornado uma parte tão importante da sua vida, era um completo estranho.

— A minha irmã não vai pra lugar nenhum com você. — O Fred se meteu, aproveitando seu estado de choque.

— A decisão não é sua — a Bia o atacou.

Se o irmão conhecia o Lourenço, não era inocente, e não é que ela achasse que o Fred fosse um santinho, mas nunca tinha esperado que ele estivesse envolvido com drogas. Ele ia ser médico, caramba!

— Bia, me escuta... — A Vivi segurou seu pulso e tentou afastá-la do Lourenço, mas a Bia não deixou.

— Me escuta, vocês. — Ela apontou o dedo da Vivi para o Marcelo, pulando a Roberta, que assistia a tudo calada, terminando no Fred. — Vocês são uns hipócritas! Comprar e usar droga, pra mim, é tão grave quanto vender. O Lourenço é meu convidado e ninguém vai mandar ele embora. E se eu quiser ir com ele, é problema meu! Aposto que quando vocês queriam comprar alguma coisa dele, foram mais bem-educados.

O Lourenço podia não merecer uma defesa tão veemente, mas ela ainda tentava se agarrar à milimétrica chance de que tudo fosse um enorme mal-entendido e ela queria, ou melhor, ela precisava escutar uma explicação para aquela loucura toda.

— Vem. — Sem conseguir olhar nos olhos dele, a Bia fez um gesto com a cabeça para que ele a seguisse.

Ninguém tentou se meter.

A Bia passou pelo portão na lateral da casa, evitando os convidados na sala. Eles seguiram pelas ruas do condomínio, em silêncio, mas por dentro, sua cabeça zumbia alto, cheia de incertezas e perguntas. Como ela podia estar envolvida com o Lourenço sem ter percebido o que ele fazia?

Tudo bem, era estranho a quantidade enorme de gente que ele conhecia, e a Bia tinha achado suspeito ele ter passado a desligar o celular toda vez que eles estavam juntos, mas daí a desconfiar de um envolvimento numa atividade criminosa, era demais.

Se ela tivesse descoberto que ele tinha outra mulher, ou outras, ela teria ficado magoada, quebrada, arrasada, mas não estaria se sentindo tão desnorteada e sem chão.

E o Fred tinha dito que ele foi preso. Como ela não sabia de um acontecimento tão importante da vida do namorado? Cara, o Lourenço não estava de brincadeira quando disse que tinha muitas partes cinzas e escondidas.

E em que mundo uma pessoa que se preocupava em alimentar um morador de rua era o vilão da história?

A área de lazer do condomínio estava vazia, a não ser por alguns meninos jogando futebol na quadra. Ela foi até o jardim e sentou num banco cercado de flores, à sobra de uma árvore. A tranquilidade dos galhos balançando com a leve brisa e as risadas dos meninos, contrastava com a tempestade desencadeada dentro dela. Só depois que ele se juntou a ela, a Bia teve coragem de encará-lo.

— Por favor, me diz que é mentira? — ela praticamente implorou.

— Eu nunca menti pra você, não vou começar agora. — O olhar dele estava nervoso, mas firme, como o de alguém que fez algo errado e estava pronto para receber o castigo que achava justo.

Mau Amor [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora