Capítulo 2

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A Bia e o Diego começaram em marcha lenta, os dois estavam terminando o terceiro ano e no meio de um redemoinho de provas, aulas de plantão, provas, oficinas de redação e mais provas.

A Bia ia enfrentar um vestibular de medicina e podia escolher qualquer uma das ótimas faculdades do Rio de Janeiro, mesmo assim, a concorrência era verdadeira loucura e ela não ia dar bobeira. Já o Diego queria administração, e para ele só servia universidade pública. Os pais tinham se sacrificado para bancar um bom colégio no ensino médio, mas faculdade particular não ia rolar.

Por sorte, os dois eram muito parecidos e focados nos seus objetivos e combinaram, estudo durante a semana, namoro, aos sábados e domingos. Os encontros eram poucos, mas a semana de saudade era esquecida nos braços um do outro. Cada beijo, cada abraço, os aproximava mais e os dois sentiam que estavam exatamente onde deviam estar.

Depois que a loucura acabou, eles aproveitaram o restinho de férias e passaram o tempo todo juntos. No aniversário de três meses de namoro, o Diego levou a Bia para um jantar de comemoração, sem imaginar que era uma data mais do que especial para ela, nenhum dos seus outros namoros tinha durado tanto.

A história era sempre a mesma, o relacionamento ficava sério, começava a pressão para ir além dos beijos e ela pulava fora. Não era questão de esperar pelo casamento, mas a Bia tinha essa ideia romântica de que se não fosse para ser com o cara certo, melhor não ser.

Pela primeira vez, ela não estava com medo porque o Diego era esse cara. Eles combinavam em tudo, ele era carinhoso, atencioso e mais preocupado em fazê-la feliz do que com si próprio. Provou isso não demonstrando um pingo de ressentimento ao comemorar a entrada dela na faculdade, quando ele mesmo não teve sorte igual e teria mais outro ano de cursinho pela frente.

A certeza de que tinha valido a pena esperar veio na tarde em que os dois estavam sozinhos na casa dele, se pegando na cama. Ela o ajudou com entusiasmo a abaixar as alças do seu vestido e perdeu o fôlego com as carícias em seus seios, mas quando ele levantou sua saia, ela fez uma pausa e segurou a mão dele.

— Eu sou virgem. — A confissão saiu num sussurro. Ele arregalou os olhos e voltou a saia para o lugar. — Você não precisa parar, eu só queria que você soubesse.

O Diego deslizou a mão pelos cabelos dela, a expressão carregada de carinho e curiosidade.

— Você teve outros namorados, não rolou por quê?

— Porque eu estava esperando pela pessoa certa. Porque eu quero que seja especial.

— E eu sou a pessoa certa?

Ela respondeu com um sorriso e um beijo, e esperou a mão dele voltar para debaixo da saia. Ele a surpreendeu se afastando e rearrumando as alças do vestido.

— Você não tá mais a fim? — ela perguntou, a voz trêmula, o rosto pegando fogo. Era fato consumado que os homens gostavam de saber que seriam o primeiro. Talvez não fosse o caso dele?

— Você não tem ideia de como eu te quero, mas os meus pais vão chegar daqui a pouco e a sua primeira vez não vai ser com pressa. — Ele desceu a mão forte e bem-feita por cima do vestido, devagar, do ombro até o quadril, deixando a pele dela arrepiada. — Eu preciso de tempo pra fazer especial. Eu prometo que você vai ter a noite mais perfeita que uma mulher já teve.

Ela tinha esperado tanto, mais um pouco não faria diferença.

Mas fez.

As coisas mudaram radicalmente na noite em que eles foram na primeira festa com os amigos de faculdade da Bia, na casa da Simone, sua colega de sala. A Bia estava entusiasmada para apresentar o Diego aos novos amigos, quando teria sido muito melhor ter ficado em casa assistindo aos piores filmes de todos os tempos na Netflix.

— Posso interromper? — A mãe da Simone os abordou numa hora em que os dois estavam sozinhos.

— Claro — a Bia respondeu, cheia de curiosidade.

— Você já pensou em ser modelo?

A Bia abriu a boca para responder que não. Ela tinha espelho em casa e um mínimo de noção para saber que não era bonita-magra-interessante o bastante para seguir carreira no mundo da moda, mas a mulher olhava para o Diego.

— Não. — Ele conseguiu não gaguejar, mesmo com o choque estampado no rosto.

— Eu sou dona de uma agência. Você tem um rosto ótimo pra fotos e altura para desfilar. — A mulher tirou um cartão do bolso da calça e entregou a ele. — Meu telefone, se você se interessar. E atrás tem um endereço. Nós vamos fazer uma sessão de fotos lá, amanhã. Quem sabe você não aparece?

Depois que ela foi embora, os dois até choraram de tanto rir.

O Diego modelo? Que absurdo!

No dia seguinte, o que a Bia menos esperava era que ele sugerisse que eles fossem.

— Vai ser divertido. — O Diego deu uma risada.

O lugar era fora do Rio, e a Bia ainda estava entusiasmada com o carro novo e carteira de motorista nova para não se importar em ir dirigindo. Ela olhou tudo como uma coisa interessante e totalmente absurda. Ele olhou tudo como uma coisa interessante e quem sabe, talvez...

Na segunda à noite, ele confessou ter ido conversar com a Vera, a dona da agência e concordado em tentar uma sessão de fotos.

— A grana é boa. Não atrapalha o cursinho e pode ser a solução pra eu pagar pela minha faculdade.

Foi o começo da transformação do Diego, namorado da Bia, no Diego Valdez, modelo mais requisitado do momento.

Ele, que nunca tinha se ligado muito na aparência, de repente, começou a se preocupar com fazer sobrancelha e unha, pelo menos duas horas de academia por dia e passou a cuidar com rigor da alimentação. A Bia se despediu com tristeza das pizzas, hambúrgueres e batatas fritas, e fez o possível para apoiar e ajudar o namorado. Até o dia em que ele anunciou que ia largar o cursinho.

— Diego, esse negócio de modelo é incerto, passageiro. Você não pode desistir da faculdade — ela argumentou, no que era a primeira discussão deles.

— Eu sei que é passageiro, por isso mesmo eu tenho que pegar a onda enquanto ela tá me levando. — Ele a abraçou. — Eu não vou desistir. É só um tempo.

Ela parou de tentar convencê-lo porque não tinha nada a ver virar a namorada chata que pega no pé do namorado o tempo todo, e no fim, a decisão era dele.

Ela tentou o papel de namorada compreensiva e confiou quando ele disse que nada mudaria entre eles, mas a cada dia, essa promessa ia ficando esquecida no meio de tantos encontros cancelados porque ele tinha que trabalhar, dos telefonemas que ele não dava porque estava ocupado com outras coisas e pelas festas em que ele a levava e onde ela se sentia como aquela maçã que ninguém comprava porque, apesar de saborosa e docinha, sua casca não era tão perfeitamente vermelha como as outras.

Mau Amor [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora