O ar fresco e o relativo silêncio do estacionamento foram um alívio, até que a Bia viu quantos outros carros pretos estavam camuflando o dela.
Sentar no chão e chorar.
Não. Isso não.
Ela pegou a chave do carro. Chorar era para ser feito em casa, deitada na cama, melhor lugar do mundo para curar bebedeira e tristeza por causa de namorado. Os pés, doendo por causa do salto, não queriam colaborar, mas a Bia os obrigou a ir até cada um dos carros pretos, enquanto ia apertando o botão do chaveiro e, graças a Deus, um deles não demorou a responder ao chamado da dona.
— Bingo! — ela gritou, quando as luzes piscaram e as portas destravaram.
Ela se arrastou até a porta e a abriu, mas a porta se fechou novamente. Ela puxou a maçaneta, e nada. Ela apertou o botão e tentou de novo. Sem sorte. A Bia já estava pronta para xingar o carro que não queria funcionar na hora que ela mais precisava, quando descobriu o defeito. Uma mão segurando a porta fechada.
Ela se virou e deu um gritinho ao ver o homem parado atrás dela.
— Pode levar. — Ela jogou o chaveiro nele, e estava se preparando para fazer o mesmo com a bolsa, mas ele não parecia interessado na chave, que bateu no peito dele e caiu no chão, enquanto ele continuava segurando a porta.
— Relaxa, gata. Eu não quero nada de você, mas você não pode dirigir. — Ele se abaixou, calmamente, e pegou a chave do chão.
— Claro que eu posso. Você quer ver a minha carteira de motorista? — Ela tentou tomar a chave da mão dele, que não deixou. — Você é da polícia?
Ele deu uma gargalhada.
— Não precisa ser cana pra ver que as cinco vodcas te deixaram bêbada.
— Ha! Se ferrou! Foram quatro vodcas! — a Bia exclamou, quase metendo o dedo na cara dele. — Peraí, como você sabe? — Ela estreitou os olhos e reconheceu o garçom. — Ah. Você.
— Eu. Por que você não liga pra alguém?
— Porque eu não tô a fim de conversar?
— Pra vir te buscar — o rapaz enunciou devagar e claramente.
— Ah.
A Bia tentou o celular da Vivi, que foi direto para a caixa postal. Ela estava de namorado novo e os dois tinham planejado uma noite especial, por isso a Bia nem perdeu tempo deixando recado. Sua outra opção era o irmão, que ia encher o saco por ela estar bêbada, mas ele também não atendeu.
— Ninguém atende. Eu pego um táxi ou chamo um Uber. — A Bia se rendeu. A realidade era que ela não estava bem para dirigir, e devia estar mais bêbada do que pensava, se achou que podia. Ela nunca dirigia quando bebia.
— É perigoso.
— Você me leva em casa?
— Eu não dirijo.
A Bia suspirou e o encarou esperando por uma sugestão. As dela tinham acabado.
— Não tem mais ninguém pra te ajudar?
— Não — ela respondeu por cima do nó se formando na garganta. Porque tinha uma pessoa que estava logo ali, dentro do bar, mas ele não se importava. Uma lágrima se atreveu a cair e ela secou rapidamente.
O rapaz coçou o lado do olho direito, numa batalha com si mesmo. E ele perdeu porque os ombros largos e fortes caíram em sinal de derrota.
— Eu não moro longe. — Ele trancou o carro e colocou a chave no bolso. — Por que você não vem comigo? A gente pode comer alguma coisa e depois você tenta ligar pros seus amigos de novo.
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Mau Amor [Concluído]
Roman d'amourQuem nunca se enganou com uma pessoa? Aceitou primeiras impressões só para descobrir que não era nada daquilo? Ou será que era? Bia está longe de ser uma princesa, mas quando o príncipe encantado aparece em sua vida, ela resolve lhe dar uma chance...