Capítulo 22

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O Lourenço parou na porta do quarto da Bia com a mesma expressão de desconforto de quando ela estacionou o carro na garagem. Ele tinha relaxado depois de ouvir que a casa estava vazia e ela culpou o nervoso com a possibilidade de ser obrigado a conhecer alguém da sua família, mas ele estava fazendo a mesma cara outra vez e o motivo não podia ser aquele.

— O seu quarto é maior que o meu apartamento. — As palavras ditas num tom de voz apertado, mesmo que exageradas, confirmaram suas suspeitas.

Ela olhou em volta, tentando enxergar com os olhos dele. O quarto era espaçoso e mobiliado com bom gosto, mas estava longe de parecer quarto de revista de decoração, pelo contrário, era confortável, colorido e seu cantinho especial, seu 'ateliê de pintura', dava um ar de bagunça arrumada e descontração que fazia com que a Bia realmente sentisse prazer em passar a maior parte do seu tempo ali.

A diferença social entre os dois, que nem era tão grande assim, não era nada que preocupasse a Bia e não tinha pesado em nenhuma das suas decisões até aquele momento. Se dependesse dela, ter ou não dinheiro, não iria virar um obstáculo desnecessário no caminho deles.

— É só um quarto. — Ela deu de ombros. — Isso vai ser um problema?

— Não. — Ele balançou a cabeça, e se aproximou dela com passos decididos, deslizando um pouco nas meias, já que tinha insistido em tirar o tênis lá embaixo. — Que você tem mais grana que eu, era óbvio. Se isso não te incomoda, então, não vai me incomodar também.

— Eu não tenho grana nenhuma. — Ela levantou a mão e acariciou o rosto gelado. A barba por fazer arranhou sua palma, e um calafrio a percorreu com a lembrança dos outros lugares onde ela tinha sentido aquela mesma sensação. — É tudo do meu pai, eu só tenho a sorte de morar aqui.

A Bia nunca soube o que ele ia responder, porque ele recomeçou a espirrar.

— Vem. — Ela o levou pela mão até o banheiro e pegou uma toalha dentro do armário.

— Você tem um banheiro só pra você. — Ele fez a mesma cara, e a Bia respirou fundo.

— Tenho. — Ela pendurou a toalha num gancho perto do boxe. — E a minha toalha é mais macia, o meu sabonete, mais cheiroso e o meu xampu faz mais espuma. Mais alguma coisa?

— Não. Pronto, acabou a babaquice. — Ele deu um daqueles sorrisos safados que a deixava de pernas moles e a puxou para ele. — Você vai tomar banho comigo?

— Hoje, não. — Seria o paraíso entrar debaixo da água quentinha com ele, mas ela tinha outras prioridades. — Eu preciso colocar as suas roupas na secadora. Você esvazia os bolsos da calça e me avisa quando estiver pronto. Eu tô esperando lá fora.

Ela deu um passo para trás e ele tirou a camisa. Ela fechou os punhos para não cair na tentação de tocá-lo porque se ela começasse, os dois iam acabar rolando pelo chão do banheiro.

— Por que você vai lá pra fora?

— Pra você ficar mais à vontade.

Podia ser idiotice da sua parte, mas era o que ela gostaria que ele fizesse por ela, afinal, existia uma diferença enorme entre tirar a roupa num quarto semiescuro no meio da excitação do sexo e sob a luz fluorescente do banheiro. Ela virou de costas e foi andando para a porta, mas, dois passos depois, foi atingida por algo que bateu na parte de trás da sua cabeça e caiu no chão com um ploft.

— Eu não vou ficar menos à vontade com você aqui.

— Ah, não? — Ela se virou e pegou a camiseta molhada do chão. Cruzando os braços, ela se encostou na parede. — Pode continuar, então.

Mau Amor [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora