O Lourenço parou na porta do quarto da Bia com a mesma expressão de desconforto de quando ela estacionou o carro na garagem. Ele tinha relaxado depois de ouvir que a casa estava vazia e ela culpou o nervoso com a possibilidade de ser obrigado a conhecer alguém da sua família, mas ele estava fazendo a mesma cara outra vez e o motivo não podia ser aquele.
— O seu quarto é maior que o meu apartamento. — As palavras ditas num tom de voz apertado, mesmo que exageradas, confirmaram suas suspeitas.
Ela olhou em volta, tentando enxergar com os olhos dele. O quarto era espaçoso e mobiliado com bom gosto, mas estava longe de parecer quarto de revista de decoração, pelo contrário, era confortável, colorido e seu cantinho especial, seu 'ateliê de pintura', dava um ar de bagunça arrumada e descontração que fazia com que a Bia realmente sentisse prazer em passar a maior parte do seu tempo ali.
A diferença social entre os dois, que nem era tão grande assim, não era nada que preocupasse a Bia e não tinha pesado em nenhuma das suas decisões até aquele momento. Se dependesse dela, ter ou não dinheiro, não iria virar um obstáculo desnecessário no caminho deles.
— É só um quarto. — Ela deu de ombros. — Isso vai ser um problema?
— Não. — Ele balançou a cabeça, e se aproximou dela com passos decididos, deslizando um pouco nas meias, já que tinha insistido em tirar o tênis lá embaixo. — Que você tem mais grana que eu, era óbvio. Se isso não te incomoda, então, não vai me incomodar também.
— Eu não tenho grana nenhuma. — Ela levantou a mão e acariciou o rosto gelado. A barba por fazer arranhou sua palma, e um calafrio a percorreu com a lembrança dos outros lugares onde ela tinha sentido aquela mesma sensação. — É tudo do meu pai, eu só tenho a sorte de morar aqui.
A Bia nunca soube o que ele ia responder, porque ele recomeçou a espirrar.
— Vem. — Ela o levou pela mão até o banheiro e pegou uma toalha dentro do armário.
— Você tem um banheiro só pra você. — Ele fez a mesma cara, e a Bia respirou fundo.
— Tenho. — Ela pendurou a toalha num gancho perto do boxe. — E a minha toalha é mais macia, o meu sabonete, mais cheiroso e o meu xampu faz mais espuma. Mais alguma coisa?
— Não. Pronto, acabou a babaquice. — Ele deu um daqueles sorrisos safados que a deixava de pernas moles e a puxou para ele. — Você vai tomar banho comigo?
— Hoje, não. — Seria o paraíso entrar debaixo da água quentinha com ele, mas ela tinha outras prioridades. — Eu preciso colocar as suas roupas na secadora. Você esvazia os bolsos da calça e me avisa quando estiver pronto. Eu tô esperando lá fora.
Ela deu um passo para trás e ele tirou a camisa. Ela fechou os punhos para não cair na tentação de tocá-lo porque se ela começasse, os dois iam acabar rolando pelo chão do banheiro.
— Por que você vai lá pra fora?
— Pra você ficar mais à vontade.
Podia ser idiotice da sua parte, mas era o que ela gostaria que ele fizesse por ela, afinal, existia uma diferença enorme entre tirar a roupa num quarto semiescuro no meio da excitação do sexo e sob a luz fluorescente do banheiro. Ela virou de costas e foi andando para a porta, mas, dois passos depois, foi atingida por algo que bateu na parte de trás da sua cabeça e caiu no chão com um ploft.
— Eu não vou ficar menos à vontade com você aqui.
— Ah, não? — Ela se virou e pegou a camiseta molhada do chão. Cruzando os braços, ela se encostou na parede. — Pode continuar, então.
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Mau Amor [Concluído]
RomanceQuem nunca se enganou com uma pessoa? Aceitou primeiras impressões só para descobrir que não era nada daquilo? Ou será que era? Bia está longe de ser uma princesa, mas quando o príncipe encantado aparece em sua vida, ela resolve lhe dar uma chance...