Capítulo 20

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Era a velha história do menino que gostava da menina que gostava de outro menino que gostava de outra menina, ou naquele caso, de todas as outras meninas.

A torcida pelo Diego era enorme, os pais da Bia, o Fred e a Vivi, a mais fanática de todos. Ela achava que a prima precisava transar com o Diego e ver que o pedestal em que tinha colocado o Lourenço era falso, antes de dar um não definitivo ao ex-namorado.

Ainda bem que a Bia não ligava para as ideias doidas da Vivi e a lembrou que ela mesma tinha dito que sexo casual não era a sua praia. Depois de algumas discussões, no bom sentido, as duas combinaram não tocar mais no assunto. Aquela era uma decisão que a Bia precisava tomar por conta própria.

Só que era tudo tão simples que, na verdade, não havia nenhuma decisão a ser tomada, ela não podia se forçar a voltar a sentir alguma coisa pelo Diego. Ele foi honesto e sincero ao expor os sentimentos dele e não merecia ser enganado com uma falsa segunda chance que, no fim, apenas iria magoá-lo. E quem ela realmente queria, ela não podia ter.

O papel de princesa chorosa e sofredora não era para a Bia. Ela preferia ser a heroína com a espada na mão que passava pela vida matando seus dragões um a um. O coração doía e estava sendo difícil manter o Lourenço afastado dos pensamentos, especialmente antes de dormir, quando a escuridão da noite a obrigava reviver lembranças tão intensas quanto indesejadas, mas tanta gente dizia que o tempo era o melhor remédio para amenizar o sofrimento, que não era possível que não fosse verdade.

Então, ela ia dar ao tempo a chance de fazê-la esquecer.

Se ela tivesse sorte, um dia, encontraria alguém que fosse o Diego e o Lourenço em um só. Ou talvez ela se cansasse de esperar o impossível e encarasse que na vida real não existe homem perfeito. Sua única certeza era que ela era a protagonista da sua história e nunca viveria sem fazer de tudo para ser feliz, por isso, ela precisava viver por si mesma, e não pelos outros.

Aquela teimosia, que às vezes ajudava a Bia, foi responsável por ela ignorar um pequeno detalhe que tinha aprendido há bem pouco tempo, a vida seguia seu próprio script, e ela não deveria ter se surpreendido com os acontecimentos da quarta-feira seguinte.

Ela parou na porta do prédio da faculdade, olhando a chuva, a soltou um suspiro. O trânsito ia estar um caos.

O doutor Edson tinha convidado os dois filhos para assistir a um transplante de fígado que a equipe dele ia realizar na parte da tarde e, para ter alguma chance de chegar à clínica do pai sem se atrasar, ela teria que esquecer o almoço. Pensando bem, não comer era melhor. O Fred já estava acostumado a assistir às cirurgias do pai, mas aquela seria a primeira da Bia e, mesmo se considerando preparada, melhor não correr nenhum risco de passar vergonha.

Ela tirou a chave do carro da mochila, segurou o jaleco por cima da cabeça e saiu correndo. O tênis e a barra da calça branca não resistiram aos respingos da água suja, mas não tinha problema. O pai tinha avisado que ela não poderia usar as mesmas roupas da faculdade no centro cirúrgico e ela tinha uma troca de roupa completa no porta-malas.

A pressa da Bia sumiu ao ver a pessoa encostada no seu carro, esperando. Ela congelou, sem ação, no meio do estacionamento e da chuva.

Ela já tinha fugido dele e não adiantou.

Ela já tinha corrido para ele e foi pior.

Daquela vez, ela não fez nada.

Quando o Lourenço a viu, veio ao seu encontro.

— A gente pode trocar uma ideia?

Ele estava completamente encharcado, os cabelos curtos grudados na cabeça e a camiseta de malha preta colada ao corpo. A mera presença dele fez tudo o que a Bia lutava para fingir que não existia, voltar de uma vez. Saudade, desejo e mágoa. Ela se envolveu na última como escudo de proteção.

Mau Amor [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora