Era a velha história do menino que gostava da menina que gostava de outro menino que gostava de outra menina, ou naquele caso, de todas as outras meninas.
A torcida pelo Diego era enorme, os pais da Bia, o Fred e a Vivi, a mais fanática de todos. Ela achava que a prima precisava transar com o Diego e ver que o pedestal em que tinha colocado o Lourenço era falso, antes de dar um não definitivo ao ex-namorado.
Ainda bem que a Bia não ligava para as ideias doidas da Vivi e a lembrou que ela mesma tinha dito que sexo casual não era a sua praia. Depois de algumas discussões, no bom sentido, as duas combinaram não tocar mais no assunto. Aquela era uma decisão que a Bia precisava tomar por conta própria.
Só que era tudo tão simples que, na verdade, não havia nenhuma decisão a ser tomada, ela não podia se forçar a voltar a sentir alguma coisa pelo Diego. Ele foi honesto e sincero ao expor os sentimentos dele e não merecia ser enganado com uma falsa segunda chance que, no fim, apenas iria magoá-lo. E quem ela realmente queria, ela não podia ter.
O papel de princesa chorosa e sofredora não era para a Bia. Ela preferia ser a heroína com a espada na mão que passava pela vida matando seus dragões um a um. O coração doía e estava sendo difícil manter o Lourenço afastado dos pensamentos, especialmente antes de dormir, quando a escuridão da noite a obrigava reviver lembranças tão intensas quanto indesejadas, mas tanta gente dizia que o tempo era o melhor remédio para amenizar o sofrimento, que não era possível que não fosse verdade.
Então, ela ia dar ao tempo a chance de fazê-la esquecer.
Se ela tivesse sorte, um dia, encontraria alguém que fosse o Diego e o Lourenço em um só. Ou talvez ela se cansasse de esperar o impossível e encarasse que na vida real não existe homem perfeito. Sua única certeza era que ela era a protagonista da sua história e nunca viveria sem fazer de tudo para ser feliz, por isso, ela precisava viver por si mesma, e não pelos outros.
Aquela teimosia, que às vezes ajudava a Bia, foi responsável por ela ignorar um pequeno detalhe que tinha aprendido há bem pouco tempo, a vida seguia seu próprio script, e ela não deveria ter se surpreendido com os acontecimentos da quarta-feira seguinte.
Ela parou na porta do prédio da faculdade, olhando a chuva, a soltou um suspiro. O trânsito ia estar um caos.
O doutor Edson tinha convidado os dois filhos para assistir a um transplante de fígado que a equipe dele ia realizar na parte da tarde e, para ter alguma chance de chegar à clínica do pai sem se atrasar, ela teria que esquecer o almoço. Pensando bem, não comer era melhor. O Fred já estava acostumado a assistir às cirurgias do pai, mas aquela seria a primeira da Bia e, mesmo se considerando preparada, melhor não correr nenhum risco de passar vergonha.
Ela tirou a chave do carro da mochila, segurou o jaleco por cima da cabeça e saiu correndo. O tênis e a barra da calça branca não resistiram aos respingos da água suja, mas não tinha problema. O pai tinha avisado que ela não poderia usar as mesmas roupas da faculdade no centro cirúrgico e ela tinha uma troca de roupa completa no porta-malas.
A pressa da Bia sumiu ao ver a pessoa encostada no seu carro, esperando. Ela congelou, sem ação, no meio do estacionamento e da chuva.
Ela já tinha fugido dele e não adiantou.
Ela já tinha corrido para ele e foi pior.
Daquela vez, ela não fez nada.
Quando o Lourenço a viu, veio ao seu encontro.
— A gente pode trocar uma ideia?
Ele estava completamente encharcado, os cabelos curtos grudados na cabeça e a camiseta de malha preta colada ao corpo. A mera presença dele fez tudo o que a Bia lutava para fingir que não existia, voltar de uma vez. Saudade, desejo e mágoa. Ela se envolveu na última como escudo de proteção.
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Mau Amor [Concluído]
RomanceQuem nunca se enganou com uma pessoa? Aceitou primeiras impressões só para descobrir que não era nada daquilo? Ou será que era? Bia está longe de ser uma princesa, mas quando o príncipe encantado aparece em sua vida, ela resolve lhe dar uma chance...