Mudança de ares e a companhia da vovó Célia e da Vivi foram o remédio perfeito para os males da Bia.
Depois de voltar para o almoço de bodas, ela deu a desculpa que o Lourenço tinha precisado ir embora por causa de uma emergência de família, e fazendo um esforço sobre-humano, ela colocou um sorriso falso no rosto para não estragar o dia especial dos pais. A Bia só desabou no final da tarde, chorando e soluçando no colo da Vivi, que não tinha resistido e repetido todos os avisos que tinha feito contra o Lourenço antes de o namoro começar. Ela precisou escutar tudo calada porque seus argumentos para defender o ex-namorado tinham se esgotado.
Ex-namorado.
Doía demais colocar aquele rótulo no Lourenço. Ter que passar a se referir a ele no passado.
Talvez imaginar 25 anos ao lado dele tivesse sido uma ambição exagerada, mas eles tinham durado pouco mais de um mês. Um nada de tempo comparado com o tamanho do desespero e da tristeza de saber que nunca mais ia vê-lo. Que nunca mais ia ter os olhos de chocolate queimando por ela, receber os beijos e as carícias, escutar a risada que sempre a fazia sorrir também, e se sentir em casa ao se deitar no peito dele.
Por que os dois tinham visões tão opostas sobre como encarar a vida? Ela preferia um Lourenço honesto e de caráter, mesmo que quebrado e sem tempo, ralando em dois empregos legítimos que pagassem um salário de merda, a um Lourenço cheios de planos que seriam realizados à custa de um pobre coitado que gastava todo o salário comprando crack.
Gostar dos bad boys era uma coisa, ser mulher de bandido era outra, para a qual ela não tinha a menor vocação.
E foi no meio das suas lamentações que a Vivi teve a melhor ideia de todas.
— Suas aulas já acabaram, né? A vovó Célia reclamou comigo que tem tempo que a gente não vai pra Friburgo. Por que a gente não vai passar as férias na casa dela?
— Só nós duas? Sem o Marcelo? — A Bia sentou na cama e secou o rosto.
— Claro que sem o Marcelo. Você acha que eu ia levar o meu namorado pra ficar esfregando na sua cara?
— Você quer dizer se esfregando com ele na minha cara. — A Bia revirou os olhos, se sentindo um pouco melhor com a perspectiva de se afastar daquela confusão toda. — Mas, desse jeito, eu topo. Será que a vovó deixa a gente comer todos os biscoitos da dispensa de novo?
— Eca! — A Vivi ficou com o rosto esverdeado com a menção da noite que ela tinha passado vomitando enquanto a Bia, que tinha comido muito mais que biscoito ela, dormiu tranquila. — Se você tá querendo se consolar, a gente leva umas garrafas de vodca e tequila. Funciona melhor que biscoito recheado.
E foi assim que, depois de justificar o fim do namoro para os pais com uma traição do Lourenço — clichê, mas que funcionou — a Bia e a Vivi subiram a serra para Nova Friburgo.
Não dava mesmo para ficar triste perto da vovó Célia, ainda mais quando ela se juntava com a Vivi. Toda vez que elas percebiam que a Bia se perdia em pensamentos ou ficava calada, inventavam montes de coisas para fazer, desde caminhadas pelos lindos e tranquilos parques da cidade até aprender a assar bolo para o café.
A Vivi, com seu eterno regime, tinha passado bravamente por uma visita à Chocolataria Suíça e deixado a Bia usar e abusar do efeito antidepressivo dos deliciosos chocolates.
A Bia retribuiu, não tão bravamente, passando outra tarde com a prima nas lojas de lingerie. Foi impossível não pensar no Lourenço a cada conjunto que a prima inspecionava e quando a vendedora mostrou um vermelho, a lembrança dele parado no meio da rua com sua calcinha e sutiã na mão foi tão devastadora, que a Bia precisou sair da loja em busca de ar.
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Mau Amor [Concluído]
RomanceQuem nunca se enganou com uma pessoa? Aceitou primeiras impressões só para descobrir que não era nada daquilo? Ou será que era? Bia está longe de ser uma princesa, mas quando o príncipe encantado aparece em sua vida, ela resolve lhe dar uma chance...