Meus pais são tudo de bom. Minha mãe é muito carinhosa, cuidadora, tem ciúmes de mim e durante a semana trabalha como diarista. Já o meu pai, faz de tudo para nos oferecer do bom e do melhor e não somente a minha mãe e eu, mas a qualquer pessoa que chegar em nossa casa. Ele nunca foi carinhoso comigo, mas também nunca foi mesquinho, bruto ou arrogante (e foi, mas não com frequência). Apenas dedica grande parte da sua vida ao trabalho, não sendo tão presente no que diz respeito a ter um tempo para mim, a me dar amor paternal.
Os dois já ralaram muito para tentar sobreviver em busca de uma melhor qualidade de vida. Na infância, os dois passaram muita fome. Principalmente o meu pai, que segundo ele, chegou até a experimentar cocô uma vez que a fome os consumia em meio a terra seca castigada pelo Sol do Sertão. Já a minha mãe, para saciar a fome, chegou a comer da comida dos porcos. Mas ainda bem que tudo passa e essa fase horrível e marcante da infância deles também passou! Com muito trabalho, mesmo sendo humilhados em algumas vezes, eles conseguiram obter um bom lugar para me dar uma infância diferente e, sobretudo, feliz! E conseguiram.
Nunca me deixaram passar sede ou fome! Me deram tudo que era necessário e tudo que puderam! Nunca me faltou sequer uma meia! Me deram educação, tanto escolar quanto familiar, sempre me orientando para que eu pudesse alcançar o melhor para a vida!
Eu cresci num lar cristão, de origens católica apostólica romana. Minha mãe fazia parte de um coral numa capelinha lá do sítio vizinho e o meu pai, todos os domingos frequenta a missa matinal no Santuário Diocesano da cidade. Cresci acompanhando-os para os encontros religiosos, que me despertavam muito entusiasmo. Lembro-me que cheguei a brincar de fazer a festinha da padroeira no fundo do quintal da antiga casa que a gente morava. Tinha muita areia, eu tinha muitos brinquedos e eu amava tudo aquilo!
Mas nem tudo são flores e eu também apanhei muito! Mas porque eu era bem sapequinha em alguns momentos. Eu amava fazer travessuras sem pensar nas consequências e me ferrava depois, quando meu pai ou minha mãe descobriam. Acho que apanhei de tudo, desde a mão de alguém até o famoso cipó verde que doía pra caralho. Era bem doloroso, mas uff... garanto que em cada surra eu aprendi a lição! Principalmente quando eu apanhava do meu pai que tem a mão mega-pesada.
O tempo passou e já não era mais tão prazeroso brincar com todos os meus carrinhos. Eu estava prestes a entrar na adolescência. Assim como acontece com a maioria dos jovens, comigo também não foi uma fase tão fácil. Enfrentar as frustrações e o stress da puberdade foi frustrante. Meus pais tinham me mudado de uma escola pública para uma escola particular e eu não consegui acompanhar o ritmo da nova turma, reprovei por duas vezes. O pior de tudo era enfrentar o olhar decepcionante do meu pai me criticando, dizendo palavras de desprezo, me chamando de cavalo! Todo o meu semblante mudou com aquilo. Eu não acreditava mais que eu tinha capacidade de superar e me espelhando em meus próprios pais, decidi que queria para de estudar!
Como se não bastasse, minha mãe, a pessoa que mais trabalhava todos os dias para pagar a mensalidade da escola que eu estudava, adoeceu. Era o ano de 2008, e aquele ano só não foi tão terrível porque, pelo menos a minha mãe sobreviveu a seis cirurgias e eu não reprovei pela terceira vez. Com minha mãe doente e sem poder trabalhar, as mensalidades do colégio foram atrasando, atrasando, atrasando e formando um amontoado de dívidas, também conhecida por "bola de neve".
Era constrangedor para mim, passar pela vergonha da cobrança em frente a meus colegas de sala. Não que os diretores da escola chegavam e me cobravam as mensalidades atrasadas de forma direta e verbalmente, não, isso não! Mas lembro que a secretária costumava ir de sala em sala, chamando pelo nome os filhos dos pais devedores para entregar-lhes um pequeno envelope que, todos ali, sabiam que se tratava de uma cobrança. Uma vez cheguei a passar uma semana sem ir para a escola, pois eu tinha sido impedido de continuar ali, caso minha mãe não pagasse a dívida. Quando me perguntavam sobre o porquê de eu não está frequentando o colégio naquela semana, eu preferia mentir afirmando que era semana de recuperação e quem tirava nota boa, estava dispensado por aquela semana. Porém, dentro de mim eu gritava de dores emocionais. Eu nunca gostei de mentir e sabia que não era somente por aquela semana, porque eu estava dispensado por tempo indeterminado.
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Refém do Amor
RomanceO presente livro narra a história de dois garotos que nascem e crescem em cenários completamente diferentes e distantes, vivenciam experiências marcantes, até que um dia, desses que a vida nos prepara, o destino resolve cruzar essas histórias. Basea...