Na semana seguinte nós dois permanecemos mais conectados como nunca! Eu sentia ausência dele a todo instante e abrir o aplicativo de mensagens e não encontra-lo por lá era perturbador. Ele estava muito ocupado resolvendo os últimos detalhes para a sua viagem, mas sempre encontrava um tempinho para nós dois conversarmos. E como sempre, não nos faltava assunto! Falávamos de qualquer coisa, só para ter a sensação de conversar um com o outro.
Mas foi em um dia de segunda-feira que ao abrir o WhatsApp, encontrei um recado dele que me fez suspirar profundamente:
_Gabriel: Oh Artur, no sábado eu vou buscar a mala viu
_Artur: tu vem q horas?
_Gabriel: Não sei ainda
Já comprei a passagem para o dia 26
_Artur: :'( :'( :'(
_Gabriel: Tu vai para a casa dos teus pais? Se tu for, eu vou no domingo, depois das 13H
_Artur: Tu pode vir nesse horário msm, no sábado, se vc puder!
Pq de manhã eu vou estar na clínica
_Gabriel: Então eu vou no sábado! De manhã eu vou resolver uns problemas e a tarde eu passo aí
_Artur: Mas se não puder, pode vir no domingo msm. Faça o q for melhor pra vc
_Gabriel: Se preocupe não guri, q no sábado dar certo!
_Artur: Tu vai no voo da manhã ou da noite?
_Gabriel: Da noite! Coração ta apertado aqui :'(
_Artur: E o meu nem se fala :'(
Imagina o da sua mãe...
_Gabriel: Estou me segurando :'(
Nesse momento eu fiz uma pequena oração por ele! Desejei e pedi a Deus que tudo desse certo para ele e confiei que ali seria somente uma fase que assim, como outros momentos ruins para mim, também passaria. Depois ficamos conversando sobre o que tínhamos feitos naquela segunda-feira. Falamos sobre várias coisas! Entre elas sobre o que jantaríamos naquela noite, apesar de estarmos em casas diferentes. Ele me contou que tinha feito arroz, macarrão e costela para jantar. Eu disse pra ele que não gosto de costela por causa da gordura e contei que jantei: arroz, feijão, macarrão, bolinhas de carne e meu suco predileto, acerola. O Gabriel não perdia uma chance de ser acrescentar um tom de safadeza em nosso diálogo, mesmo quando nem sequer eu tivesse pensando nisso, mas ele me respondeu dizendo que só faltou ele como minha sobremesa! Eu ri muito e disse que seria a melhor coisa.
Também tornamos ao assunto da mala. Ele quis saber se havia perto da minha casa algum caixa eletrônico para que ele pudesse sacar a grana que eu tinha estipulado para ele me passar, quando eu "vendesse" a mala para ele. Sem enrolação, eu lhe respondi que havia sim, um bem próximo da minha casa. É claro que eu estava mentindo, né! Não há nenhum caixa eletrônico próximo a minha casa, mas o meu plano é que ele viesse mesmo para cá. E sem caixa eletrônico aqui perto, ele não precisaria me pagar!
Eu queria muito que ele pudesse demorar, mas ele me falou que seria uma visita muito rápida. Pegaria a mala e logo voltaria, pois não podia chegar tarde demais em casa. Eu não queria aquilo, mas eu sempre faço o possível para compreende-lo. E assim eu fiz: compreendi que ele mora distante e já estaria cansado de estar fora de casa a manhã inteira, sonolento, faminto... e ficar mais tempo fora de casa não seria tão saudável para ele. Eu só tinha medo daquele ser o nosso último encontro, mas ele me fez relaxar, tenso, mas relaxei e acreditei nas palavras dele me dizendo que não, aquele não seria o nosso último encontro.
Mas eu continuei brincando com ele e falando sério ao mesmo tempo. Falei que queria muito que ele pudesse dormir aqui em casa, pois a gente teria tempo o suficiente para fazer o que quiséssemos, como: sair para passear, assistir a um filme legal, quem sabe terminar o outro, jogar alguma coisa e dormir bem abraçadinhos. Mas infelizmente isso não é possível nas condições dele, porque o Gabriel ainda precisa vencer alguns tabus, conceitos e sobretudo medos. Ele só tem 17 anos e ainda é muito dependente da sua mãe, da sua família e ele ainda tem medo das perguntas que sua mãe poderia fazer, antes de permitir espontaneamente que ele viesse dormir aqui. Aliás, não é nem questão de permitir, ela deixa de boas. Mas o Gabriel ainda é inseguro para suportar um possível interrogatório e por medo de tudo ir por água abaixo, ele prefere esperar um pouco mais.
Para mim, isso é apenas bobagem da cabecinha dele. Mas novamente me coloco em seu lugar e compreendo que eu também já fui assim! Todos nós já sofremos ou vamos sofrer com uma fase assim. Em pouco mais que duas semanas eu completo os meus 21 anos, e claro, tudo é uma questão de tempo para poder o nosso consciente se acostumar com nós mesmos e ganhar forças para lutarmos contra os medos que há dentro de nós. Assim como os pais do Gabriel, os meus pais também não sabem que eu sou gay e pretendemos que eles não saibam agora. Não estamos preparados para esse diálogo ainda, e isso, é só mais uma fase. Tudo vai passar! O Gabriel está na fase dos vários medos, das inseguranças e eu preciso respeitar porque também já passei por isso.
Mas ele também não negava a vontade de passar uma noite comigo. Em uma das noites em que conversávamos via chat, eu disse pra ele que iria sair da minha varanda porque estava passando um ventinho e como eu estava sem camisa, já estava ficando com frio. E como ele não deixa passar nada em branco, me respondeu com aquele mesmo tom de safadeza que só ele sabe fazer e me deixar com vontade de dar uns pega nele:
_Gabriel: Hummmm... sem camisa
Eu não consigo ficar muito sem camisa
_Artur: Eu só fico quando estou só!
Pareço uma lagartixa
_Gabriel: Uma lagartixa gostosa kkkk
Sábado vai ser rápido, mas quero me deitar um pouquinho de novo J
_Artur: kkkk ta bom. Eu tbm quero J
_Gabriel: Nem que seja por uns três minutos, mas eu quero
_Artur: Eu quero por mais três
_Gabriel: três horas? :D
_Artur: Venhaaaa... ver se chega logo
_Gabriel: Queria muito dormir aí pertinho de vc
_Artur: Eu tbm <3
_Gabriel: Me deixar bem quentinho
_Artur: Meu coração vai a mil aqui
Toda aquela conversa dele estava aflorando os meus hormônios, tais como a serotonina, que produz uma sensação de prazer e bem estar. Meu consciente também aferventava ao imaginar aquele cenário de nós dois entre quatro paredes. O meu coração até pulsou mais forte e me provocou um princípio de excitação. Não muita, mas senti o meu pau sair do lugar enquanto conversávamos sobre aquele assunto, que infelizmente não passava de um sonho entre nós dois.
A semana passou e eu esperei ansiosamente por aquele sábado, que infelizmente ele não pode vir. Eu desanimei um pouco, pois seria menos um encontro dos três que tínhamos planejados. Mas ele sabe o jeito certo de me acalmar e me fazer confiar que no outro daria certo nos encontrarmos. O Gabriel teve muita coisa pra resolver naquele dia e por isso não foi possível que nos encontrássemos. Então eu fui para a casa de meus pais, no sítio.
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Refém do Amor
RomanceO presente livro narra a história de dois garotos que nascem e crescem em cenários completamente diferentes e distantes, vivenciam experiências marcantes, até que um dia, desses que a vida nos prepara, o destino resolve cruzar essas histórias. Basea...