CAPÍTULO 10 - Incomunicável por um dia e meio

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Mais um final de semana chegou e eu fui para o sítio. Dessa vez eu estava sem dados móveis e lá não tem rede Wi-fi, logo fiquei incomunicável não somente com o Gabriel, mas também com o mundo. Diferente dos outros finais de semana, eu retornei já no domingo cedinho para a cidade, pois eu tinha combinado com a minha amiga Karina de banhar os cachorros da Universidade que a gente estuda. Lá tem cerca de quinze cães de variadas raças que foram abandonados. Mas para que eles permaneçam limpinhos e bem cuidados, nós temos uma agenda para dar banho em todos. E não é só jogar água e pronto. É tratamento vip mesmo, com shampoo, limpeza de patas e unhas, aplicação de ante carrapatos... essas coisa que o cães necessitam. Então a gente desenvolve esse trabalho voluntário com o apoio de mais algumas pessoas.

Assim sendo, passei a manhã daquele domingo ocupado. Quando terminamos, já passava do meio dia e a Vanessa, namorada da Karina, veio nos buscar para almoçarmos em um restaurante de comidas regionais que tem na cidade de Turquesa. Eu estava sujo, feioso, completamente desajeitado e eu não queria entrar num restaurante granfino daquele jeito. Mas depois de negar várias vezes o convite insistente da Vanessa, eu acabei aceitando e fui do jeito que estava.

Aproveitei a situação para me fingir de garoto de rua e ver a reação das pessoas quando me olhavam esquisito. Eu agi como um menino bobo que nunca tinha ido a um restaurante: mudei a forma de andar, de falar, de pegar nos talheres e ainda baguncei o meu cabelo, mas demonstrei alegria por estar ali. Ninguém me ofendeu verbalmente, mas foi doloroso ver os olhares de desprezo e até nojo que aquelas pessoas bem vestidas e arrumadas faziam para mim. Senti um pouquinho de nada o drama de quem mora na rua e não tem chances de uma vida melhor, porque a sociedade egocêntrica os exclui.

Depois de saborear um maravilhoso almoço, a Vanessa pagou a conta e entramos no carro. Ela foi me deixar na casa da minha vó que fica em um bairro próximo do restaurante e depois seguiu para sua casa, lá em Torino, com a Karina. Eu tomei um banho e fui descansar, mas antes, peguei o tablet para ver se tinha alguma mensagem do Gabriel. Eu nem tinha dado um oi para ele depois que tinha voltado do sítio e estava ansioso para conversar. Não tinha nada. Apenas fiz ahhhhhh e lamentei. Tentei ver a última vez que ele ficara online, mas ele bloqueia a notificação que informa isso.

Mas eu enviei um emoticon de um olhinho para ele. A mensagem chegou, mas ele demorou a visualizar, então peguei no sono porque eu tinha me cansado bastante naquela manhã. Banhar vários cães me deixou enfadonho. Já eram quase 17H daquele domingo e eu acordei para tomar banho e depois e a Templo. Vi que tinha uma mensagem dele e me alegrei com aquilo. Ele estava online e ficamos conversando até dar a hora de eu me ajeitar para sair.

Falamos o básico. Ele contou para mim como estava sendo aquele final de semana e eu contei para ele sobre o meu. Falei sobre o sitio, sobre o banho nos cachorros e também sobre o que eu fiz no restaurante, mas depois de tudo aquilo, a coisa que eu mais queria e não podia naquele momento, era estar com ele. Ele me enviou um emoticon sorrindo e depois eu fui tomar banho e me ajeitar para ir ao Templo, pois como vocês sabem, eu frequento uma igreja evangélica na cidade de Turquesa. Ele me pediu orações e eu afirmei que as faria para ele.

O culto inicia as 18H. Naquele domingo eu estava escalado para ficar na porta principal do Templo, como recepcionista. Apesar de eu receber e cumprimentar várias pessoas naquela noite, a pessoa que eu mais queria receber ali e cumprimentar não veio: o Gabriel. Mas isso era apenas ilusão da minha mente, pois nem sequer eu o tinha convidado e além disso, por Missilândia ficar meio distante de Turquesa, não havia transporte público para lá durante a noite. Depois daquele momento receptivo, tentei me concentrar no culto. Os louvores, a orações e a Palavra foram maravilhosas. Eu amo aquele lugar e amo sentir a presença de Deus em mim. Coloquei o Gabriel nas minhas orações não somente na hora daquele culto, mas todos os dias.

Quando cheguei na casa da minha vó, fiz um lanche rápido e ansiosamente abri o WhatsApp para ficar conversando com ele até tarde. Aquilo foi muito bom para mim, porque eu já estava mais conformado com a ideia dele ir embora e faziam alguns dias que não conversávamos tanto. Na maioria das vezes, eu sempre esperava que ele me perguntasse alguma coisa ou puxasse assunto, porque eu sou tímido e simplesmente o fato de estar conversando com ele já me deixava bobão, me fazendo esquecer algumas coisas que queria saber mais sobre ele. Depois disso eu dormi para me preparar para enfrentar mais uma semana.

Refém do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora