Refém do Amor

CAPÍTULO 3 - A esperança é última que morre

Era o ano de 2009. Algumas das crianças já estavam na adolescência e outras, preste a entrar nesta fase. O Gabriel era um deles! Os gastos estavam aumentando e tudo ficando mais difícil para a família. José e Maria conseguiam trabalhar apenas com serviços temporários mínimos e limitados (os famosos bicos). E o dinheiro que ganhavam não era suficiente para trazer a alimentação necessária e suficiente para o sustento da família.

Um ano depois (2010), em uma tarde de segunda-feira, bate à porta da família duas moças informando serem da produção de um programa de televisão. Era o pessoal da equipe do Programa que Maria enviara as cartas e e-mails. Surpresos, a família abre as portas da humilde casa para receber a Edicléia e Marilia, técnicas do Programa de TV. Alegremente elas informaram:

_Edicléia: É com muita satisfação que a equipe de produção do Programa de TV, exibido todos os domingos na Rede Nacional TV e apresentado por Fábio Prado, anuncia que o nosso diretor fará uma visita técnica à vossa família com o objetivo de conhece-los melhor e ouvi-los atentamente.

_Marilia: Recebemos aproximadamente 1.500 e-mails da família de vocês e agora, temos a imensa congratulação de dizer que chegou a vez do nosso programa contar a história de vocês.

(É óbvio que a emoção já tomou de conta de toda a família que não se continha e chorava de emoção, não acreditando que a vez deles tinha chegado).

_Edicléia: Portanto, amanhã o Eder Campelo, nosso diretor de elenco, fará uma visita a família.

_Marília: Ele só não veio hoje porque não tínhamos conseguido falar com nenhum de vocês através dos números de celulares que tinham nas cartas. Então viemos confirmar a situação pessoalmente aqui no endereço.

_Edicléia: Amanhã, todos, sem exceção, precisam estar em casa para que iniciemos os procedimentos de gravação.

_Marília: Sim, o nosso diretor é bastante exigente e não tolera, de forma alguma, a ausência de um ou mais membros da família. E em caso da produção chegar aqui, e não haver ninguém em casa, a oportunidade será concedida a outra família.

Maria já havia escrito e enviado a Produção do Programa todas essas cartas, porém, nunca foram atendidas. Então há um ano atrás ela deixou de enviar os e-mails até a presente data. Foi impossível conter a emoção e agora, lagrimas manavam dos olhos sofridos de José e Maria, só que agora, eram lágrimas de esperança. Eles sabiam que todo o sofrimento estava prestes a ser sanado a partir do dia seguinte. Aquelas duas moças formosas se despediram e forma embora, mas eles continuavam ali, famintos, desprezados, carentes de assistência social, sedentos de apenas um olhar misericordioso da sociedade egocêntrica... mas ao menos tinham a certeza de que aqueles dias sombrios estavam prestes a acabar.

E no dia seguinte, a família toda acordou por volta das 5H da manhã. Maria reuniu toda a família e os envolveu em um pequeno círculo, onde fizeram uma oração antes da visita do diretor (mas eles pressentiam que o diretor era o próprio apresentador do Programa, algo lhes dizia isso). O relógio já se aproximava das 11H da manhã e a ansiedade consumia todos ali. Neste dia, a família não tinha tomado nem café da manhã e nem almoçado. O Gabriel avistou duas vans e um carro preto passando em frente ao casebre da família e em alguns minutos o próprio apresentador do Programa de TV fez-se presente naquela residência, chamando o nome da Maria, que aos prantos foi ao seu encontro para se deleitar em seu abraço. Foi impossível conter as emoções e todos ali choravam muito. Era real. Era a vez deles.

O Fábio Prado sentou-se. A produção acalmou a família e ouviram atentamente o drama de cada um ali. Aquela entrevista durou umas cinco horas e o apresentador os convidou a uma mudança de vida que marcaria para sempre a história daquela família. Sem hesitar, Maria, José e os seis filhos arrumaram as poucas coisinhas que lhe restavam e partiram de volta para suas origens, no interior do Estado de Guanabara.

Dali em diante, a família Lima começou uma nova vida na cidade de Missilândia,interior do Estado de Guanabara, a cerca de 600km da capital. Agora, com umacasa própria, alimentação, mantimentos e com os filhos devidamentematriculados. Todos tinham a chance de recomeçar.