Capítulo 03

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Chegamos na rua da casa da minha mãe e eu sorria ao olhar, todo mundo na rua, as vizinhas fofocando, as crianças brincando, os mavambo de rodinha pelos cantos, aqui o povo tinha muito menos e era muito mais feliz.

Desci do carro já vendo o povo ficar tudo olhando, as véia uma cutucando a outra, eu só ri e balancei a cabeça acenando. Os mavambo ficaram de boca aberta quando viram a Mari, porque aqui é assim, os macho não pode ver uma loira natural que já acha que é de outro mundo.

Matheus: Naluuuuu

Reconheci a voz do meu priminho gritando. Desci do carro e ele veio me abraçar.

Nalu: Ai que saudade que eu tava de você peste!

Matheus: A vó tá fazendo bolo pra você – agarrado no meu pescoço.

Nalu: Eita garoto, se tu não me solta eu não consigo ir lá né – ri – nem respirar – falei com um pouco de dificuldade

Ele riu, saiu correndo e foi pegar a lata de linha de pipa que tinha jogado no chão e correu pra rua quando ouviu um dos amiguinhos gritando.

Entrei e dei um abraço bem apertado e um beijo na minha avó, dona Ana, que tava na cozinha fazendo o bolo. Ela era um doce de pessoa, sempre que eu venho pra cá ela me recebe com bolo que sabe que eu amooo!

Minha vó também é uma das mulheres mais fortes que conheci. Vou explicar um pouco pra vocês como é que são as coisas aqui. Ela teve seis filhos, dois homens e quatro mulheres. Três das minhas tias se casaram e recentemente saíram de casa, mas continuam deixando as crianças lá pra ela cuidar e dar de comer. Um dos meus tios tinha problemas com droga, hoje em dia arrumou uma namorada legal e não tá se envolvendo com essas parada, porém continua sendo vagabundo e acomodado. Meu outro tio trabalha pouco, quase não põe nada dentro de casa, bebe muito e sempre faz escândalo, arruma briga, tenta bater na gente dentro de casa. Meu primo mais velho, Diego, volta e meia aparece lá pra encher o saco, e já roubou dinheiro, perfume, roupas minhas e da minha mãe, mas sempre faz a Katia desentendida e todo mundo finge que não vê. É foda.

Enfim, não tava nem querendo pensar nisso agora, só tava minha avó, minha mãe e as crianças em casa e tava tudo tranquilinho. Descarregamos as coisas do carro e levamos lá pro fundo, no puxadinho da minha mãe.

Tomei um banho e coloquei o mesmo vestido de antes, tava com preguiça só de pensar em abrir aquelas malas jogadas no canto do quarto.

A Mari foi pro banho, então eu fui lá pra frente na casa da minha vó, peguei um pedaço de bolo, um copo de café e fiquei sentada lá na rua com ela e minha mãe enquanto contava os babado que tinha rolado lá no meu pai.

[...]

Adriana: Eu não vou falar é nada, não dou razão nem pra você e nem pra Beatriz, conheço muito bem as duas.

Nalu: E tem mais uma coisa mã, não vou ficar aqui na vó... – falei mudando de assunto.

Dona Ana: Como assim? Vai pra onde menina? – disse indignada.

AdrianaTu tá grávida né Analua?! – perguntou de novo me dando um tapão no ombro.

Nalu: Não mãe, para de falar isso, credo! É que você sabe como é aqui né, e eu não me sinto bem... Tô querendo um pouco de paz na minha cabeça.

Adriana: Filha, eu não vou sair daqui pra pagar aluguel, nem quero deixar sua vó aqui sozinha, você sabe como é né...

Nalu: Eu me viro mãe, acabei de pegar minha rescisão e logo vou arrumar outro emprego.

De Quebrada [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora