Nementia

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Nementia: o esforço que  vem logo após um momento de distração, para lembra porque é mesmo que voce está se sentindo irritada, ou ansiosa, ou animada.

POV. LAUREN

O SOL estava começando a esquentar quando Lauren manobrou a motocicleta para a sua vaga no estacionamento da produção da Ocean Boulevard uma semana depois. Disse a si mesma que chegara mais cedo porque gostava de se preparar. E, até certo ponto, era verdade. A dislexia a fizera uma adepta da pesquisa e da preparação. Aquela era uma das formas que encontrara para manter sob controle seu modo especial de raciocínio.

Se não tivesse passado metade da noite com os olhos cravados no teto, estaria inclinada a aceitar aquela desculpa. A verdade era que não fora capaz de parar de pensar nela. Todas as vezes que fechava os olhos, uma dúzia de imagens diferentes de Camila passava como um filme em sua mente. Aquelas pernas. Os olhos. Os cabelos de quem acabara de se levantar da cama. O jeans justo que ela usara na última quinta-feira.

O vislumbre que tivera do sulco entre os seios empinados na hora do almoço do dia anterior espocou diante de seus olhos. A curva longa e sensual do pescoço…

Levara uma semana inteira para admitir aquilo para si mesma, mas finalmente capitulara. Camila Cabello, o objeto do escárnio dos valentões sarcásticos da escola, se transformara em um avião.

Nunca fora o tipo de pessoa de alimentar muitas ilusões sobre o sexo ou seus próprios desejos. Era escrupulosamente honesta com as mulheres com quem namorava e nunca dissera a nenhuma que a amava, apesar de saber que era exatamente aquilo que algumas delas queriam escutar. Não tinha certeza se acreditava no amor, com exceção do sentido ficcional, para os personagens sobre os quais escrevia. E certamente não era aquilo que estava procurando em sua vida pessoal. Não por um bom tempo. Mas também nunca se sentira atraída por uma mulher de quem nem ao menos gostava.

E definitivamente não gostava de Camila. A semana anterior se resumira em um extenso embate entre ela e sua nova chefe. Se dissesse que algo era preto, Camila afirmava que era branco. Simples decisões se transformaram em impasses desgastantes, as reuniões se prolongaram e o ambiente de trabalho se tornara pura e simplesmente uma zona de guerra.

Apesar de tudo, a imagem do corpo alto e esbelto de Camila se recusava a lhe abandonar a mente. Não conseguira ter uma boa noite de sono desde aquele primeiro dia, quando entrara no escritório dela e a vira se erguer por trás da mesa. Lauren tentou convencer a si mesma que era irrelevante o fato de partes de sua anatomia acharem Camila Cabello atraente. A última coisa que faria seria lhe encostar ao menos um dedo. Podia ter feito sexo com as mulheres por várias razões ao longo dos anos, mas não estava disposta a levar para a cama uma cadela nota A apenas porque ela possuía belas pernas e seios que ansiava por tocar.

Mas aquela certeza não lhe facilitara encontrar o sono e, naquela manhã, finalmente decidira desistir de olhar para o teto e montara em sua potente motocicleta para fazer o trajeto até o trabalho. Lauren retirou o capacete e passou uma das mãos pelos cabelos. Os olhos se desviaram para o único carro que se encontrava no estacionamento. Um conversível cor prata.

Aquele era um carro pequeno, porém excelente. Por algum tempo, brincara com a ideia de comprar um, mas odiava o tráfego e a moto a levava mais rápido ao trabalho pelos mundialmente famosos congestionamentos de Los Angeles.

Como os escritores do mundo televisivo não eram exatamente conhecidos por acordarem cedo, supôs que aquele carro estaria ali desde o dia anterior. Provavelmente alguém se embebedara depois do trabalho e resolvera voltar para casa de táxi. Lauren recolheu a mochila e se encaminhou ao prédio, ansiosa por algumas horas de paz, antes que o resto da equipe chegasse.

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