Perspective

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Perspective: Nos olhamos para a mesma coisa, mas vemos coisas gandemente diferentes.

POV LAUREN

LAUREN AMASSOU as caixas de pizza e as atirou na lata de lixo. O olhar insistia em se voltar à porta do toalete feminino, por onde Camila havia desaparecido há mais de dez minutos.

Era óbvio que ela estava aborrecida com alguma coisa. Não lhe escapara à atenção que todas as vezes que discutiam sobre a personagem Angel, Camila se mostrava muito impositiva quanto ao rumo a tomar. Lauren também não havia deixado de notar que tinha fortes indícios sobre a origem daquela história. Sabia, porque se identificava com Jack, o garoto bidimensional de Camila. Ele a imbuíra de sua própria história, investira naquele personagem as próprias lembranças e emoções. No entanto, não tinha a menor ideia do que motivava Camila em relação a Angel.

Enquanto lavava as mãos na pia da cozinha, repassou na mente os últimos dez minutos da conversa que tiveram, antes de Camila se retirar.

Estavam discutindo sobre Angel e como devia ser o momento de crise. Ela sugerira a ideia do baile de finalistas… Lauren congelou. A água escorrendo por suas mãos quando finalmente se dera conta do que fizera.

Não era nenhuma santa, mas nunca ferira ninguém deliberadamente em toda sua vida, exceto naquela única vez, no baile dos finalistas, quando Camila estava parada diante dela, toda afetada e ansiosa para bancar a Lady Bountiful com o camponês ignorante. Bastara um olhar ao ridículo enchimento de papel que ela colocara sob o vestido para sorrir e deixar transbordar toda a raiva, o desapontamento e o medo que guardava dentro de si.

Camila merecera aquilo. Repetira aquelas palavras para si mesma desde que acordara no dia seguinte, assolada pelo arrependimento. Camila não tivera nenhum escrúpulo em humilhá-la na frente dos colegas de classe.

Estava simplesmente retribuindo o favor. Mas ainda assim, aquela não era uma recordação da qual se orgulhava. E por isso, tal lembrança não figurava em sua parada de sucessos mental. O que explicava o motivo de ela ter sido tola o suficiente para sugerir a ideia do baile a Camila.

Lauren fez um movimento negativo com a cabeça, frustrada com a própria idiotice. Por um instante, brincou com a ideia de se desculpar, mas tudo em sua natureza a refutou. Camila não parecia inclinada a se ajoelhar e lhe suplicar que a perdoasse pelo que fizera com ela anos atrás. Seria maldita se concordasse em ser a única a se humilhar e pedir desculpas.

O som das sandálias no chão de cerâmica sinalizou a volta de Camila do toalete. Lauren girou para encará-la e percebeu que ela parecia fria, determinada e extremamente profissional. Deus! Aquela era a atitude perfeita para fazê-las sobreviver àquela noite.

– Vamos terminar isto – disse ela. Lauren a seguiu de volta à sala de roteiros, resistindo à vontade de fixar o olhar naquelas nádegas durante o trajeto. – Acho que poderíamos dividir o trabalho ao meio – prosseguiu, quando as duas se acomodaram nas respectivas cadeiras. Sem Selena, tanta distância entre elas era quase cômica.

– Claro. Isso faz sentido – aceitou Lauren. Mesmo que não concordasse, o que não era verdade, teria feito o que Camila estava sugerindo. Tudo que fosse necessário para concluir aquele trabalho.

Camila folheou a pilha de roteiros marcados com papéis adesivos, dividindo-os em duas pilhas: a primeira para ela, composta dos quatro scripts que havia revisado pessoalmente e outra que ela revisara. A segunda pilha era para Lauren, composta dos dois scripts remanescentes que ela revisara e mais os três de Selena.

– Aí está – disse Camila, escorregando a pilha na direção dela.

– Obrigada. Vou trabalhar no meu escritório – disse ela, recolhendo suas anotações e os scripts.

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